O deputado federal Júnior Mano (PSB-CE) enviou R$18,7 milhões em emendas para o município de Nova Russas, no interior do Ceará, desde 1º de janeiro de 2021. Este foi o dia em que sua mulher, Giordanna Silva Braga Mano, assumiu o gabinete da prefeitura.
O Poder360 consultou o Portal da Transparência do Governo Federal, e averiguou que foram repassadas, ao todo, 14 emendas parlamentares ao município.
Os valores, separados por ano, foram os seguintes:
- 2021: R$4.408.669
- 2022: R$4.693.947
- 2023: R$5.293.666
- 2024: R$4.400.000
O deputado federal foi alvo de um mandado de busca e apreensão da PF (Polícia Federal) na 3ª feira (8.jul.2025). A operação investiga uma organização criminosa suspeita de desviar recursos públicos para financiar campanhas eleitorais de 2024 realizadas no Ceará. Em nota, o congressista negou sua participação em “processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos”. Leia mais abaixo.
A maior parte das emendas foi destinada ao Fundo Municipal de Saúde de Nova Russas (R$5.813.225 desde 2021) e ao Fundo Municipal de Assistência Social de Nova Russas (R$ 350.000).
A Câmara dos Deputados confirmou que os números encontrados pelo Poder360 estavam presentes no seu sistema. Realizaram a confirmação por meio do aplicativo Infoleg Orçamento.
Nova Russas tem uma população estimada de 32.014 pessoas, segundo o IBGE. Foi a cidade que mais recebeu emendas do deputado.
Questionada sobre a suposta priorização do município, a assessoria do deputado declarou que “os repasses foram objeto de fiscalização por parte dos órgãos de controle, como a Controladoria-Geral da União, por meio de auditoria específica, e do Ministério Público Federal, sem que tenha sido identificada qualquer irregularidade na aplicação dos recursos”. Leia a íntegra da nota ao final desta reportagem.
OPERAÇÃO DA POLÍCIA FEDERAL
A PF cumpriu mandados de busca e apreensão no gabinete do congressista durante 6h. Os agentes chegaram à Casa Baixa por volta das 6h30 e deixaram o gabinete às 12h25.
A investigação mira uma organização criminosa acusada de desviar recursos públicos para financiar campanhas eleitorais municipais realizadas em 2024 no Ceará. Júnior Mano é suspeito de participar do esquema.
A ação foi realizada em Brasília e em 5 municípios cearenses: Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé e Baixio. Endereços ligados ao congressista, tanto na capital federal quanto no Ceará, foram alvos de buscas, assim como locais vinculados a outros 5 investigados.
Os 15 mandados de busca e apreensão executados pela PF foram expedidos pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). A Corte também autorizou a quebra de sigilo de celulares apreendidos durante a operação e o bloqueio de R$ 54,6 milhões em contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas investigadas.
O objetivo das medidas, conforme a PF, é “interromper a movimentação de valores de origem ilícita e preservar ativos para eventual reparação ao erário”.
As investigações revelam que o esquema funcionava a partir do envio de verbas públicas para determinados municípios no Ceará. Como contrapartida, parte desses recursos era desviada para pagamentos ilegais. Há também indícios de influência em procedimentos licitatórios por meio de empresas vinculadas ao grupo.
Os crimes investigados incluem organização criminosa, captação ilícita de sufrágio, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica com finalidade eleitoral. A CGU (Controladoria Geral da União) forneceu apoio técnico à investigação.
OUTRO LADO
Eis a íntegra da nota enviada pela equipe do deputado Júnior Mano a respeito de Nova Russas:
“O deputado Júnior Mano reafirma seu compromisso com a destinação de recursos públicos de forma transparente e responsável, sempre voltada ao interesse coletivo do povo cearense.
No caso específico de Nova Russas, os repasses foram objeto de fiscalização por parte dos órgãos de controle, como a Controladoria-Geral da União, por meio de auditoria específica, e do Ministério Público Federal, sem que tenha sido identificada qualquer irregularidade na aplicação dos recursos.
Insinuações quanto ao uso indevido das verbas públicas têm caráter meramente político e buscam desinformar a população em ano pré-eleitoral.”
Eis a íntegra da nota enviada pela equipe do deputado Júnior Mano a respeito da operação da PF:
“O deputado Júnior Mano não tem qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.
Como parlamentar, o deputado não exerce qualquer função executiva ou administrativa em prefeituras, não participa de comissões de licitação, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.
O parlamentar reafirma sua confiança nas instituições, em especial no Poder Judiciário e na Polícia Judiciária Federal, e reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e o exercício probo da função pública.
Tem plena convicção de que, ao final da apuração, a verdade dos fatos prevalecerá, com o completo esclarecimento das circunstâncias e o reconhecimento de sua correção de conduta.”
O Poder360 entrou em contato com a prefeitura de Nova Russas, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. O espaço permanece aberto.