Planalto e Congresso reatam diálogo e avançam em projeto para corte de isenções fiscais

Após tensão institucional, reunião de líderes da Câmara indica alinhamento para ajudar governo Lula a fechar as contas públicas

Em meio a sinais de desgaste na relação entre Executivo e Legislativo, o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional começam a dar passos para retomar o diálogo e destravar pautas de interesse comum. Na terça-feira (8), a reunião de líderes da Câmara dos Deputados foi marcada por gestos de reaproximação entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e parlamentares da base e do centrão.

Como resultado prático, ficou encaminhada a votação de um projeto considerado essencial pelo Ministério da Fazenda: o corte de isenções fiscais que, segundo o governo, desequilibram o orçamento e ampliam o déficit das contas públicas. A proposta mira benefícios concedidos a setores específicos da economia — alguns deles há décadas — e que hoje representam bilhões de reais em renúncia de arrecadação.

Meta fiscal em xeque

O governo Lula tem enfrentado dificuldades para fechar as contas em meio ao aumento de gastos obrigatórios, à pressão por mais investimentos e ao compromisso de zerar o déficit primário — promessa feita ainda no início do terceiro mandato. Para isso, a equipe econômica, liderada pelo ministro Fernando Haddad, aposta na revisão de isenções como uma das principais fontes de receita extra.

Segundo estimativas da Fazenda, o Brasil abre mão de mais de R$ 600 bilhões em benefícios fiscais todos os anos — valor que representa cerca de 5% do PIB. A expectativa é que o projeto que será votado possa recuperar ao menos R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões nos próximos anos, ajudando a conter o rombo nas contas públicas.

Clima de pacificação

Nas últimas semanas, Planalto e Congresso vinham travando embates públicos, com troca de críticas entre o presidente Lula, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e líderes de partidos do centrão. O impasse ameaçava paralisar votações de interesse do governo e abrir uma nova crise institucional.

A reunião de terça, no entanto, foi marcada por um tom mais ameno. Parlamentares reconheceram a importância de manter o diálogo para evitar turbulências políticas que possam prejudicar a economia e a governabilidade. Nos bastidores, interlocutores afirmam que Lula também se comprometeu a abrir espaço para negociar demandas da base aliada, incluindo emendas e indicações políticas.

Vitória do governo

O projeto de corte de isenções deve ser colocado em pauta nas próximas semanas. A aprovação, porém, ainda enfrenta resistência de setores empresariais e de bancadas que defendem interesses regionais. Empresários argumentam que alguns incentivos são fundamentais para manter a competitividade, especialmente em estados do Norte e Nordeste.

Apesar dos desafios, líderes governistas consideram o momento uma oportunidade para sinalizar responsabilidade fiscal ao mercado e ao eleitorado, em meio à pressão por equilíbrio nas contas públicas.

Caso o projeto avance, será a primeira vitória relevante do governo no Congresso após semanas de tensão, ajudando a reduzir o risco de uma nova crise institucional no segundo semestre.