Tarifaço de Trump mira Brasil por aproximação com os BRICS — Lula promete retaliação imediata

Presidente defende soberania nacional e afirma que tarifa de 50% é retaliação ao fortalecimento do bloco liderado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (9) que o Brasil vai responder com firmeza à decisão do governo norte-americano de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. O chamado tarifaço de Trump é visto no Planalto como uma retaliação direta à atuação do Brasil no fortalecimento dos BRICS — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que busca ampliar sua influência geopolítica e desafiar a hegemonia econômica ocidental.

Em postagem nas redes sociais, Lula disse que a justificativa oficial apresentada por Donald Trump — de que o tarifaço seria necessário para conter um suposto déficit na balança comercial — é “falsa”. Para o presidente, a medida tem caráter político e tenta intimidar o Brasil por sua liderança entre as nações emergentes.

“Não aceitaremos intimidação. O Brasil é soberano e ninguém vai nos impedir de fortalecer alianças estratégicas que defendam nossos interesses e o desenvolvimento do Sul Global”, declarou Lula.

A resposta imediata será a aplicação da Lei de Reciprocidade Econômica, que prevê sobretaxas a produtos importados de países que adotem barreiras comerciais contra o Brasil. Além disso, o Itamaraty já discute possíveis sanções e uma ação junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar o tarifaço.

A nova tarifa ameaça setores cruciais, como o agronegócio, a indústria de aço, alumínio e bens manufaturados, além de impactar diretamente as exportações de commodities minerais e alimentos. Empresários e sindicatos demonstram preocupação com demissões em massa e queda de investimentos estrangeiros.

Nos bastidores, a escalada da tensão com os EUA pode acelerar a aproximação do Brasil com a China — maior parceiro comercial do país — e outros membros do BRICS, que já discutem criar uma moeda comum para reduzir a dependência do dólar.

Enquanto a base do governo defende a retaliação como necessária para proteger empregos e reafirmar a soberania, a oposição acusa Lula de colocar o país em rota de colisão com Washington em nome de alianças ideológicas.

A expectativa é de que o governo apresente nos próximos dias uma lista de produtos norte-americanos que poderão ser sobretaxados, além de medidas de estímulo ao mercado interno para reduzir os impactos do tarifaço de Trump.

O embate pelos BRICS e suas consequências

O chamado tarifaço de Trump não é apenas um ajuste tarifário: é uma resposta estratégica à crescente influência do Brasil dentro do grupo dos BRICS — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — que desafia a hegemonia econômica ocidental e busca promover um sistema multipolar.

A dimensão geopolítica

Desde o retorno de Lula à Presidência, o Brasil intensificou sua participação no BRICS, alinhando-se a países que buscam alternativas ao domínio do dólar e das instituições financeiras internacionais tradicionais. O bloco discute, por exemplo, a criação de uma moeda comum, ampliando o comércio bilateral em moedas locais e fortalecendo bancos de desenvolvimento alternativos, como o Novo Banco dos BRICS.

Essa postura tem provocado desconforto em Washington, que enxerga no fortalecimento do BRICS uma ameaça direta à sua influência global e à supremacia econômica. O tarifaço, portanto, pode ser interpretado como uma tentativa de pressionar o Brasil a recuar dessa estratégia e a manter sua dependência comercial e financeira dos Estados Unidos.

A resposta brasileira

Para o governo, a retaliação é uma defesa da soberania nacional e um posicionamento claro contra políticas protecionistas que desrespeitam acordos multilaterais.

Impactos econômicos para o Brasil

A imposição de uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA afeta especialmente:

  • Agronegócio: soja, carne bovina, suína e aves, que têm os Estados Unidos como um dos principais mercados de destino.
  • Indústria: produtos siderúrgicos, alumínio, automóveis e máquinas, setores que empregam milhares de trabalhadores.
  • Commodities minerais: minério de ferro e outros minerais exportados para indústria norte-americana.

Especialistas alertam para o risco de queda das vendas externas, que pode gerar desemprego e retração no setor produtivo, em um momento em que o Brasil ainda busca recuperação econômica pós-pandemia.

Perspectivas

O tarifaço deve acelerar a busca do Brasil por diversificação de mercados e ampliação de acordos comerciais fora da esfera tradicional dos Estados Unidos. A crise também evidencia a fragilidade da relação bilateral, que passa por um momento de tensões políticas e comerciais sem precedentes.

Por outro lado, o movimento dos EUA pode servir de alerta para o Brasil reforçar sua indústria interna e investir em inovação tecnológica, reduzindo sua vulnerabilidade às flutuações do comércio internacional.