Sozinho em delegacia do Pará, policial mata assassino preso em luta por arma

Delegacia de Castelo de Sonhos, no sudoeste do estado, funcionava com apenas um agente no momento de audiência de custódia. Sindpol-PA aponta abandono das forças de segurança no interior

Um grave episódio de violência dentro de uma unidade policial voltou a expor as deficiências estruturais da segurança pública no interior do Pará. Na manhã da última sexta-feira (5), por volta das 8h50, um policial civil que estava de plantão sozinho na Delegacia de Castelo de Sonhos, a 1.000 km do distrito do município de Altamira, reagiu a uma tentativa de desarmamento por parte de um preso considerado extremamente perigoso e acabou atirando no agressor, que morreu no hospital logo após o incidente.

Segundo o relato oficial, o investigador estava conduzindo uma audiência de custódia dentro da própria delegacia com o detento Marciel Simão, preso em flagrante um dia antes por latrocínio. No momento em que se preparava para liberar o acesso ao áudio e vídeo da audiência via celular — utilizando o próprio aparelho — o policial foi surpreendido pelo preso, que tentou tomar sua arma de fogo.

Iniciou-se uma luta corporal entre os dois, e o agente, com rapidez e técnica, conseguiu sacar a arma e efetuar um disparo para conter a agressão. Ferido, Maciel Simão foi imediatamente socorrido e levado ao hospital local, mas não resistiu aos ferimentos.

Histórico de violência e reincidência criminal

Marciel Simão não era um desconhecido da polícia. Aos 38 anos, acumulava uma ficha criminal extensa e violenta, com passagens por homicídio duplamente qualificado, roubo majorado, tráfico de drogas, porte ilegal de arma, violência doméstica e, mais recentemente, latrocínio — o crime que motivou sua prisão em 4 de julho.

Nesse último crime, a vítima foi o empresário Laerte Dias Mendes. O crime ocorreu por volta das 08h00, quando a polícia recebeu a informação sobre a localização de um corpo masculino, posteriormente identificado como Laerte. A vítima apresentava múltiplas perfurações causadas por arma branca e lesões contundentes na face, evidenciando extrema violência.

Segundo as investigações, dois indivíduos encapuzados e armados com facas invadiram a residência da vítima, onde também estavam a esposa de Laerte e três filhos menores (de 9 anos, 6 anos e um bebê de 7 meses). Durante a ação criminosa, foram roubados joias, celulares e uma motocicleta. Laerte foi brutalmente assassinado para garantir a consumação do roubo.

Em depoimento, Marciel confessou o crime, afirmando que teria agido por ordens da facção criminosa Comando Vermelho, sediada em Itaituba, com o objetivo de arrecadar recursos para o grupo.

Como se vê, uma trajetória contínua de crimes bárbaros, sempre em diferentes cidades do sudoeste do Estado, como Itaituba e o distrito do Mil.

Sindicato, em nota, faz críticas

O fato de o policial estar sozinho durante o plantão e no momento da audiência gerou fortes críticas por parte do Sindicato dos Servidores Públicos da Polícia Civil do Estado do Pará (Sindpol-PA). Em nota pública, a entidade condenou a prática recorrente de manter apenas um agente em delegacias que funcionam 24 horas em localidades distantes e perigosas, como Castelo de Sonhos.

“Graças a Deus e à ação rápida e técnica do policial, foi possível acionar o gatilho e efetuar um disparo de arma de fogo que conteve a agressão injusta e iminente, resultando no óbito do preso”, diz trecho da nota.

A entidade sindical aproveitou o episódio para reiterar recomendações de segurança aos policiais civis, com base na chamada Cartilha da Operação “Prelúdio”, que estabelece protocolos mínimos para a atuação segura dos agentes em delegacias do interior.

A cartilha orienta, entre outros pontos:

  • Que nenhum policial permaneça sozinho em unidades que operam 24h;
  • Que audiências de custódia não sejam realizadas por apenas um agente, especialmente sem apoio institucional;
  • Que celulares particulares não sejam utilizados para atividades operacionais;
  • Que, na ausência de efetivo, a unidade seja fechada temporariamente até a chegada de reforço policial.

O sindicato lembrou que a prática negligente de manter agentes isolados já provocou mortes em serviço, como nos casos registrados nas delegacias de Altamira, Portel, Paar e Jardelândia. O caso em Castelo de Sonhos, segundo a entidade, “foi uma tragédia evitada apenas pela capacitação e sangue frio do policial envolvido”.

Abandono institucional

Em tom de indignação, o Sindpol afirmou que entre 2023 e 2024 realizou visitas a mais de 120 municípios paraenses, constatando o cenário de abandono, efetivo insuficiente, jornadas extenuantes e ausência de investimento nas unidades policiais. Apesar das denúncias e dos alertas enviados à cúpula da Segurança Pública e ao Ministério Público, nenhuma providência concreta foi tomada, segundo o sindicato.

O presidente da entidade, Ednaldo Araújo dos Santos, assinou digitalmente a nota divulgada no dia 11 de julho, e anunciou a elaboração de um expediente oficial a ser encaminhado ao delegado-geral de Polícia Civil e ao MPPA cobrando providências imediatas.

“Foi por sorte, técnica e coragem. Mas não se pode contar com isso sempre. Um dia a sorte acaba. E o Pará não pode aceitar perder mais um policial em serviço por negligência do próprio Estado.” — encerra a nota do sindicato.

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