Governos do país e de províncias do Canadá se unem contra tarifas  

Os governos do Canadá e das províncias do país vêm atuando intensamente desde o início de 2025 em várias frentes para reverter a alta de tarifa de importação nos Estados Unidos.

O presidente dos EUA, Donald Trump (republicano), impôs em 1º de fevereiro de 2025 tarifa de 25% para Canadá e México. Houve adiamento da nova tarifa em março de 2025. Na 6ª feira (11.jul.2025), Trump anunciou tarifa de 35% para o país a partir de agosto. Disse que será ajustada “para cima ou para baixo” a depender da relação com país.

O primeiro-ministro da província canadense de Ontário, Doug Ford, cancelou em fevereiro um contrato de US$ 100 milhões com a empresa norte-americana Starlink para o fornecimento de internet em áreas remotas. Foi uma resposta ao aumento da tarifa que havia acabado de ser anunciado. Em março, Ontário ameaçou cortar o fornecimento de energia para os EUA.

VIAGENS A WASHINGTON

Premiês de províncias, que equivalem aos governadores de Estados no Brasil, têm trabalhado individualmente ou em conjunto contra as tarifas. François Legault, do Québec, viajou a Washington em 12 de fevereiro de 2025 para se encontrar com congressistas dos Estados Unidos segundo o jornal Le Devoir (leia aqui, em francês). Ford, de Ontário, esteve na capital dos EUA na mesma data segundo o site Global News (leia aqui, em inglês).

O governo canadense intensificou as conversas com o governo dos Estados Unidos e contratou empresas de lobby em Washington para ampliar a eficiência nas negociações. Além disso, o país também impôs tarifas a produtos norte-americanos específicos, com maior impacto em Estados onde Trump teve maior votação na eleição de 2024. “Precisamos nos defender, e não apenas liderando as cobranças. Somos o país que mais impôs tarifas contra os produtos dos EUA”, disse em abril de 2025 a então ministra das Relações Exteriores do Canadá, Mélanie Joly.

Joly é atualmente ministra da Indústria do Canadá no governo do primeiro-ministro Mark Carney (Partido Liberal, centro-esquerda). O partido de Carney venceu as eleições no país em abril em uma campanha em que se contrapôs a Trump. O presidente dos EUA havia dito que o Canadá poderia se transformar no 51º Estados dos EUA. Carney respondeu: “Isso nunca, jamais acontecerá”.

O governo canadense fez em março anúncios publicitários em 12 Estados dos EUA onde Trump venceu as eleições de 2024. Usaram outdoors com mensagens como “Tarifas são impostos para trabalhadores norte-americanos” segundo a revista Newsweek (leia aqui, em inglês).

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Reportagem da Newsweek mostra outdoor do governo dos Canadá nos EUA em que diz que tarifas são imposto para trabalhadores

TARIFA PARA O BRASIL

Trump anunciou tarifa de 50% para produtos brasileiros na 4ª feira (9.jul.2025). Justificou o ato pelo que considera o tratamento injusto do governo brasileiro ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O único governador a procurar atuar diretamente para reverter a decisão foi o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ele foi à Embaixada dos EUA em Brasília na 6ª feira (11.jul) para discutir o assunto. Mas é improvável uma ação coordenada com o governo federal. Tarcísio criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na 4ª feira (9.jul) depois do anúncio de Trump. Disse que a tarifa foi consequência de “ideologia” do governo brasileiro. Lula afirmou na 5ª feira (10.jul) que Tarcísio é apoiador de Trump.

Será difícil para governadores de Estados brasileiros atuarem diretamente nas negociações com os EUA, disse o advogado Celso Figueiredo, doutor em direito Internacional pela USP (Universidade de São Paulo). Uma retaliação aos EUA por meio de decisões deles, por exemplo, seria difícil. A elevação do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) para produtos norte-americanos seria possível, mas exigiria coordenação muito complexa entre os governos estaduais.

Figueiredo afirmou que a opção mais eficiente para retaliar alguns produtos seria o governo federal usar a Lei da Reciprocidade, aprovada em abril de 2025. Ele disse que isso não deve ser feito necessariamente, mas é preciso ser apresentado como uma possibilidade.  “É necessário não deixar de entrar na mesa com poder de barganha”, afirmou ele, do escritório Barral Parente Pinheiro Advogados, em Brasília.