PARÁ – Um corpo crivado de balas no Ramal dos Coelhos

Um corpo jovem, amarrado, crivado de balas e abandonado à margem de uma estrada de terra. A cena, típica de guerra, aconteceu não em um país estrangeiro em conflito, mas na madrugada desta sexta-feira (11), no Ramal dos Coelhos, região do Eixo Forte, zona rural de Santarém, oeste do Pará. A vítima, Willian Felipe Neves dos Santos, de apenas 22 anos, teve o destino selado no silêncio brutal de uma área onde o Estado mal alcança e onde a vida, frequentemente, vale menos que um punhado de ouro ou um metro cúbico de madeira.

O corpo foi encontrado por um taxista que trafegava pelo ramal e acionou a Polícia Militar. Willian estava com as mãos amarradas e apresentava múltiplas perfurações provocadas por disparos de arma de fogo, especialmente na cabeça. Cápsulas deflagradas foram espalhadas pelo chão — um sinal claro de execução.

A Polícia Civil esteve no local e solicitou a remoção do corpo ao Instituto Médico Legal (IML). A perícia foi requisitada e a Delegacia de Homicídios, sob o comando da delegada Raíssa Beleboni, ficará responsável pelas investigações. Pelo menos no papel.

Na prática, há um padrão sombrio que se repete com frequência nas regiões mais isoladas da Amazônia Legal — áreas como esta, onde imperam o garimpo ilegal, a grilagem de terra, a extração predatória de madeira e a criação extensiva de gado. A presença do Estado é quase simbólica, limitada a operações pontuais ou à presença frágil de policiais em delegacias sucateadas.

Nessas áreas, a lei do mais forte — ou do mais armado — ainda é soberana.

Na estatística da violência

Mortes como a de Willian, embora bárbaras, muitas vezes não passam da frieza de um número em planilhas de estatísticas da violência. São crimes que raramente recebem investigação aprofundada, principalmente se a vítima for pobre, anônima, ou alguém que “não faz falta” para os olhos do poder público. São mortos sem nome que desaparecem no mato e no tempo, apagados por um sistema que falha em proteger e em punir.

Enquanto a floresta se torna cenário de disputas territoriais sangrentas e negócios ilegais que movimentam milhões, vidas humanas continuam sendo ceifadas sem alarde. A Amazônia, terra de promessas e riquezas, segue marcada por uma lógica perversa: a de que para muitos, viver — ou morrer — ali, não faz diferença.

E o crime de hoje, com um corpo no ramal, pode muito bem ser esquecido amanhã.

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