Governo federal trabalha e negocia com EUA para reverter tarifa de 50%

Lula, ministro Fernando Haddad e o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmam que Brasil vai usar Lei da Reciprocidade, caso a articulação diplomática não reverta a derrubada da taxação anunciada por Donald Trump

O governo federal anunciou neste domingo (13) que vai trabalhar para reverter a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras. A medida, anunciada pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump, deve entrar em vigor a partir de 1º de agosto e ameaça setores estratégicos como siderurgia, agroindústria e indústria de base.

Em reunião no Palácio do Planalto, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou que o Brasil buscará articulação diplomática intensa para convencer o governo norte-americano a derrubar o chamado “tarifaço”. O encontro contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e da ministra da Secretaria-Geral, Gleisi Hoffmann.

Segundo Alckmin, o governo também vai regulamentar a Lei da Reciprocidade Econômica, sancionada em abril, que permite ao Brasil retaliar países que impuserem barreiras comerciais de forma unilateral. O decreto deve ser publicado até terça-feira (15).

“A prioridade é o diálogo. Temos uma relação econômica sólida com os Estados Unidos, mas não hesitaremos em usar instrumentos legais se for necessário para proteger a indústria nacional”, declarou o vice-presidente.

O anúncio de Trump, que justificou a nova tarifa como resposta a supostas perseguições judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, provocou reações imediatas. Na avaliação de analistas, a sobretaxa de 50% atinge em cheio produtos como aço, alumínio, carne, café e minério de ferro, além de prejudicar cadeias produtivas integradas, como a indústria automotiva e aeroespacial.

Atualmente, os EUA são o segundo principal destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China. Entre abril de 2024 e abril de 2025, as vendas para o mercado norte-americano somaram cerca de US$ 842 milhões, representando 12% das exportações totais.

O presidente Lula pretende ainda envolver o setor privado na estratégia de resposta, com a criação de um comitê de diálogo com empresários e associações de classe para avaliar os impactos e buscar soluções conjuntas. O Itamaraty, por sua vez, deverá intensificar conversas com autoridades americanas e levar o tema à Organização Mundial do Comércio (OMC).

Para o governo, a medida ameaça o ambiente de previsibilidade entre os dois países. Alckmin lembrou que os Estados Unidos têm superávit comercial com o Brasil, principalmente no setor de serviços e tecnologias, o que, segundo ele, reforça a necessidade de manter equilíbrio nas relações.

A previsão de economistas é que a nova tarifa tenha impacto limitado no PIB brasileiro — estimado em uma retração de até 1,2%, caso persista por mais de seis meses. Ainda assim, o governo quer evitar prejuízos maiores e aposta em diversificação de mercados, reforçando parcerias com Europa, Ásia e países do Sul Global.

A reação oficial ocorre em um momento delicado, em que Lula tenta equilibrar a base política interna, lidar com tensões do processo contra Bolsonaro e preservar a imagem do Brasil como parceiro confiável no comércio internacional.

O Palácio do Planalto deve anunciar novas medidas nos próximos dias. A expectativa é que a regulamentação da Lei da Reciprocidade seja o primeiro passo de uma estratégia mais ampla de defesa comercial, que poderá incluir sanções equivalentes, suspensão de concessões e revisão de acordos bilaterais.