Tecnologia em fase final de padronização integrará conteúdo de streaming, anúncios personalizados e acessibilidade offline, mantendo o sinal gratuito
Brasília – A televisão brasileira prepara-se para uma transformação sem precedentes com a chegada da TV 3.0, a nova geração da televisão aberta e gratuita que promete revolucionar a experiência do telespectador. Com adesão voluntária e transição gradual, essa inovação, esperada para ser uma realidade de transmissão a partir do próximo ano e para os consumidores em 2026, visa integrar a gratuidade do sinal aberto com a interatividade e a personalização da internet, posicionando o televisor como um verdadeiro “smartphone de parede”, conforme demonstrações e visões apresentadas em artigo publicado pelo ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho, e em evento demonstração patrocinado pela Rede Globo, no início do mês, para convidados.
2026: o salto para a TV 3.0
A TV 3.0 é apresentada como a mais recente e significativa etapa na evolução da televisão no Brasil, sucedendo a uma trajetória que começou há mais de sete décadas. Essa jornada teve início em 1950 com a TV 1.0, caracterizada pela tecnologia analógica. Em 1975, veio a TV 1.5, que introduziu as transmissões analógicas a cores. O salto para o mundo digital ocorreu em 2007 com a TV 2.0, trazendo consigo a alta definição (HD). Mais recentemente, a partir de 2021, o país entrou na era da TV 2.5, marcada pela popularização das Smart TVs, que já permitem acesso à internet e a serviços online, introduzindo tecnologias como HDR, áudio imersivo e, posteriormente, o DTV Play.
A nova tecnologia emerge como a culminação dessa evolução, “impulsionada pelo desejo da indústria brasileira de não ficar estagnada, buscando sempre a vanguarda tecnológica”, como disse o ministro Frederico de Siqueira Filho. Essa iniciativa está em consonância com a determinação do governo de democratizar o acesso à informação, garantindo que “a transmissão aberta do sinal da TV 3.0 será uma realidade a partir do próximo ano”, destacou o titular da pasta das Comunicações.
Um ponto central da transição para a TV 3.0 é seu caráter voluntário. De acordo com o Ministério, a adesão dos telespectadores será “gradual e responsável”, assegurando que “ninguém será prejudicado com o novo padrão brasileiro”. Essa abordagem visa replicar o sucesso da transição da televisão analógica para a digital ocorrida quase duas décadas atrás. A visão para essa nova fase da televisão é ambiciosa: o diretor de estratégia e tecnologia da Rede Globo, Regynaldo Barros, sugere que “a ideia é que os televisores sejam uma espécie de smartphones na parede: ligou, funcionou!”, indicando uma integração fluida e intuitiva do aparelho no cotidiano do usuário.
Experiência multissensorial da nova geração: imagem e som reimaginados
A TV 3.0 promete elevar a experiência do telespectador a um patamar sem precedentes, começando pela qualidade visual. O padrão Full HD atual será superado, com a nova tecnologia oferecendo uma resolução de imagem “quatro vezes maior”, atingindo 4K e com “potencial para atingir até 8K”, especialmente com o auxílio da conexão à internet. Além da clareza e do detalhe aprimorados, o contraste da imagem será significativamente melhorado por meio das tecnologias de HDR (High Dynamic Range), resultando em cores mais vibrantes e pretos mais profundos.
A experiência sonora também receberá um upgrade substancial, prometendo um “som totalmente imersivo, semelhante ao que experimentamos nas melhores salas de cinema”. Essa imersão não será apenas passiva; o telespectador ganhará um controle inédito sobre o áudio. Haverá a opção de personalizar o áudio, “podendo, por exemplo, escolher entre ouvir apenas o microfone do cantor com a banda ou destacar o som da plateia”. Isso representa um nível de customização que vai muito além das configurações de som tradicionais, buscando uma experiência auditiva verdadeiramente adaptada às preferências individuais.

Convergência e interatividade que redefinem o consumo de conteúdo
Um dos pilares mais transformadores da TV 3.0 é a sua integração com a internet, um fator “fundamental” para o aproveitamento pleno de suas inovações. Essa fusão eliminará a “atual segregação entre TV aberta e aplicativos nas Smart TVs”, criando uma experiência unificada. Essa integração é altamente viável no Brasil, já que “a conexão à internet já está disponível em 90% dos lares brasileiros, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE”.
A navegação na TV 3.0 será radicalmente modificada. Ao invés do modelo tradicional de sintonização por números, “os canais serão apresentados como apps na tela”, prometendo uma interface “mais intuitiva”. Contudo, a familiar função de “zapear” por todas as opções disponíveis será mantida.
A interatividade se estenderá a uma infinidade de “conteúdos adicionais”. Quando assistindo a um canal de TV aberta, o telespectador poderá acessar diretamente séries, jogos, shows, documentários, programas de entretenimento, telejornais e filmes – sejam eles ao vivo ou gravados –, replicando a conveniência dos aplicativos de streaming.
A personalização será uma marca registrada da TV 3.0. Os temas e as propagandas exibidos pelas emissoras serão “personalizados de acordo com as preferências de consumo dos telespectadores”. Essa segmentação será possível com a conexão à internet, que permitirá anúncios “adaptados a atributos como gênero, idade e interesses do usuário”. Além disso, a nova tecnologia trará a “possibilidade dos telespectadores interagirem com os anúncios exibidos na tela e de receberem conteúdos exclusivos”.
Demonstrações da tecnologia, como a conduzida pela TV Globo, ilustraram a amplitude da interatividade. Funções como “chats, reações e quizzes em tempo real” permitirão, por exemplo, a participação direta em votações de reality shows. O espectador também terá acesso a “informações em tempo real sobre o conteúdo exibido”, como dados de uma corrida olímpica, e a “conteúdos extras” relacionados ao programa, como reportagens e notícias. O usuário terá a possibilidade de criar lembretes para programas favoritos.
Um dos “principais destaques do teste”, será o recurso “shoppable“, que possibilita ao espectador “comprar produtos relacionados ao conteúdo assistido, seja ao vivo ou gravado”. Exemplos notáveis incluem a aquisição de luvas de boxe durante a transmissão de uma luta ou até mesmo a compra da roupa usada por um personagem de novela. Gilberto Castanõn, diretor de Distribuição de Conteúdo da Globo, garantiu que “a seleção dessas ofertas será feita por uma curadoria totalmente humana”.
É importante notar que, mesmo sem conexão à internet, algumas funcionalidades básicas ainda estarão disponíveis. Isso inclui a programação completa do canal assistido, legendas em diferentes idiomas e um avatar intérprete de língua de sinais, garantindo que o telespectador possa usufruir de novidades da TV 3.0 “mesmo quando estiver offline”.
Caminhos para a implementação e o futuro da TV 3.0 no Brasil
A jornada da TV 3.0 até o consumidor final já tem um cronograma delineado. O anúncio oficial, com a “assinatura do decreto da TV 3.0”, está previsto para o “começo deste segundo semestre”. A tecnologia, atualmente em fase de padronização, com diversos protótipos sendo testados e regulamentados até o final do ano, deve ser lançada globalmente em meados de 2026, com o objetivo de estar “no ar durante a Copa do Mundo, que será realizada em Los Angeles”. No Brasil, a expectativa é que a tecnologia “chegue ao consumidor final apenas em 2026”.
Para ter acesso às inovações da TV 3.0, de acordo com o governo, ”não será necessário trocar de aparelho”. Um “set-top box”, que atua como adaptador, permitirá que “televisores atuais suportem os recursos da TV 3.0”. A compatibilidade foi testada em televisores da “geração 2.5”, que já possuem “hardwares potentes suficientes para suportar a nova tecnologia”. Contudo, para o pleno aproveitamento da personalização avançada e da interatividade, a conexão com a internet é indispensável.
A implementação da TV 3.0 no Brasil está sob a égide de importantes entidades. O Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD), o Ministério das Comunicações e a Anatel estão frequentemente envolvidos em discussões sobre a chegada da TV 3.0 ao país, com foco em “como fornecer uma TV aberta gratuita e de qualidade ao público brasileiro”. Uma vez aprovada, a TV 3.0 deverá chegar “primeiro ao eixo Rio-São Paulo”, conforme afirmado por Regynaldo Barros, que adiciona: “Com um marco regulatório que permita a TV 3.0, os investimentos da Globo começarão pelos principais mercados, como Rio e São Paulo”.
Um novo paradigma está em gestação avançada para a televisão brasileira
A TV 3.0 representa, portanto, um divisor de águas na história da televisão brasileira. Ao convergir a gratuidade do sinal aberto com a vasta capacidade de personalização e interatividade da internet, ela redefine fundamentalmente a relação do telespectador com o conteúdo. A promessa de imagem em 4K/8K, áudio imersivo, navegação intuitiva por aplicativos e funcionalidades inovadoras como a compra de produtos em tempo real aponta para uma era em que a televisão deixa de ser um mero receptor passivo para se tornar um hub dinâmico de entretenimento e informação. A “TV no Brasil está mais jovem e atual do que nunca”, e sua evolução, vai “oferecer mais informação, cultura, educação e entretenimento para a sociedade brasileira”, solidificando sua posição como um veículo essencial na vida dos cidadãos.
Reportagem: Val-André Mutran é repórter especial para o Portal Ver-o-Fato e está sediado em Brasília.
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