Os deputados Célia Xakriabá (PSOL-MG) e Kim Kataguiri (União-SP) trocaram ofensas na madrugada desta 5ª feira (17.jul.2025), no plenário da Câmara, durante a votação das mudanças no licenciamento ambiental. O texto-base do PL (Projeto de Lei) 2159/2021 foi aprovado por 267 a 116 votos.
Houve tumulto entre os congressistas e o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), solicitou a intervenção da Polícia Legislativa. A confusão começou quando Kataguiri reclamou das contrapartidas por impacto ambiental, afirmando, sem apresentar provas, que os indígenas receberam picapes, cabeças de gado e dinheiro quando foi construída a Usina de Belo Monte.
Assista ao vídeo com os principais momentos da discussão (6min47s):
“Como é que transformar tribo indígena em latifúndio ajuda a compensar impacto ambiental? Não ajuda, gente, isso é dinheiro indo para o bolso dessas pessoas”, afirmou Kataguiri. O deputado referiu-se por 3 vezes aos povos indígenas como “tribo”. O termo de uso recorrente é considerado inadequado por lideranças e ativistas indígenas por se referir a um pequeno grupo que tem origem em uma nação ou país e não possui autonomia ou organização própria, o que não se aplica aos povos indígenas.
Xakriabá, então, chamou Kataguiri de “pessoa estrangeira” e “deputado reborn”. “Essa pessoa deputada estrangeira, deputado reborn que acabou de falar, sequer tem direito de falar sobre a questão indígena. […] O senhor não sabe da história, então o senhor fique quieto”, disse a deputada.
A congressista também criticou-o por usar a expressão “tribo”. “O senhor nem sabe falar. São povos indígenas, mais de 300 povos e diversidades. O senhor primeiro estude história”, disse.
Depois, Kataguiri retomou a palavra e respondeu a Xakriabá: “Determinada deputada me chamou de deputado estrangeiro. Eu quero dizer aqui que estrangeiro e ali próximo de onde estão meus ancestrais é o pavão, que é um animal lá da Ásia. Não tem nada a ver com tribo indígena do Brasil, mas tem gente que parece que gosta de fazer cosplay”.
O deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS) alinhou-se a Kataguiri e dirigiu-se à Xakriabá, que usava um cocar. “Já que o assunto é o pavão misterioso, nós queremos saber do licenciamento ambiental do pavão aqui presente. Se para abrir uma estrada, para abrir um empreendimento, é preciso de licenciamento, para abater um animal também precisa de licenciamento ambiental”, declarou.
A deputada pediu direito de resposta, então, por ter sido mencionada, ainda que indiretamente. Apesar dos protestos de Nogueira, Motta permitiu que Xakriabá respondesse.
“Esse foi o cocar sagrado utilizado pelo povo Fulni-ô. E quem conhece o povo Fulni-ô sabe”, afirmou. “As pessoas podem ter bancadas inteiras para defender seus interesses, mas atacar uma mulher indígena pelo que se veste? Eu não tenho problema de saber de onde eu venho. Não precisa me chamar de cosplay, porque isso é um racismo televisionado. Certamente, eu tomarei as medidas necessárias”, acrescentou, antes de ter o microfone cortado quando terminou o seu tempo.
Kataguiri e Xakriabá iniciaram uma discussão paralela à votação que continuou a transcorrer, e o tumulto foi aumentando. Motta, então, solicitou a intervenção da Polícia Legislativa “para restabelecer a ordem” na sessão.