Unidade de saúde do São José, em Campinas, abre as portas sem recepção, sistema de exames fora do ar, equipes desfalcadas e até bebedouro seco. Pacientes voltam para casa sem atendimento enquanto a gestão só chega depois das 8h30
Foto Fernanda Sunega/PMC
Na manhã desta quinta-feira (17), o Posto de Saúde do São José, em Campinas (SP), funcionou por mais de uma hora sem recepção ativa, sem médico em uma das equipes, sem enfermeiro em outra, sem coleta de sangue e até sem água no bebedouro. A cena — descrita por usuários como “rotina de abandono” — escancara os gargalos na Atenção Básica do SUS e contrasta com o fato de que o prefeito da cidade, Dário Saadi, é médico.
Por volta das 7h, o posto já recebia pacientes. No entanto, não havia ninguém na recepção terceirizada para orientar o fluxo de atendimento. Usuários se acumulavam em filas erradas ou aguardavam por informações que não vinham. Somente por volta das 7h30 é que a recepção começou a funcionar — meia hora após o início oficial do expediente.
Além da falta de acolhimento, o sistema de coleta de sangue estava fora do ar desde a tarde anterior, segundo informações de uma funcionária que pediu anonimato. Quem chegava com pedido médico para exames laboratoriais era orientado a voltar em outro dia, sem previsão de normalização do serviço. O sistema digital atual, chamado Matrix, substituiu o anterior (Liga), mas tem apresentado instabilidades recorrentes, prejudicando o trabalho das equipes e o atendimento à população.
A estrutura do posto também enfrenta defasagem de pessoal. A Equipe Amarela está sem médico há sete meses, e a Equipe Vermelha opera sem enfermeiro de referência. O serviço de visitas domiciliares — essencial para acamados e pacientes com mobilidade comprometida — encontra-se paralisado por falta de veículo e de servidores designados.
Não há, entre 7h e 8h30, nenhum coordenador ou gestor presente na unidade, conforme apurado pela reportagem. Esse intervalo sem supervisão agrava a sensação de abandono vivida por quem busca atendimento nas primeiras horas da manhã.
Durante a espera, um desabafo de uma senhora que deixou a unidade sem ser atendida ecoou entre os demais pacientes:
“Ainda que o prefeito é médico… imagina se não fosse.”
O relato resume o sentimento de frustração de quem ainda acredita na promessa constitucional de saúde como direito de todos e dever do Estado. Nem mesmo um bebedouro com água havia no local no período da manhã — símbolo do descuido com o básico.
Fechamento com apelo cidadão:
Este não é um ataque a servidores, que muitas vezes enfrentam jornadas sobrecarregadas e sistemas inoperantes. É um apelo — um grito silencioso por mais estrutura, mais humanidade e mais gestão. Se o prefeito é médico, que ouça o que está acontecendo na ponta. E se os jornalistas ainda têm voz, que ela seja para ecoar o que os corredores do SUS gritam todos os dias, mas ninguém parece ouvir.
Outro problema foi o sistema de coletas de sangue, que estava fora do ar desde a tarde anterior, segundo
Colaborou Nelson Gervoni – jornalista, MTb 75011/SP