Corte de verba humanitária ameaça 11,6 mi de refugiados

O Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) informou que os grandes cortes em verbas humanitárias colocam até 11,6 milhões de refugiados e deslocados internos em risco de perder assistência essencial ainda neste ano. A redução atinge cerca de ⅓ das pessoas que a organização atendeu em 2024.

Em relatório divulgado nesta 6ª feira (18.jul.2025), a agência indica que precisou suspender ou cortar US$ 1,4 bilhão em programas essenciais por falta de recursos. Os cortes estão afetando diretamente setores como saúde, educação, abrigo, segurança e alimentação em dezenas de países. Eis a íntegra do relatório (PDF– 4 MB, em inglês).

“Milhões de famílias estão perdendo o apoio de que dependiam para sobreviver. Precisam escolher entre alimentar os filhos, comprar remédios ou pagar aluguel”, diz o relatório.

A agência afirma que já interrompeu o transporte de recém-chegados em zonas de fronteira, como no Sudão do Sul e no Chade, deixando milhares de pessoas presas em locais remotos. Em Uganda, os índices de desnutrição aumentaram nos centros de acolhimento, que também enfrentam falta de água limpa e alimentos.

O Acnur também reduziu a ajuda financeira em 60% em todo o mundo. No Níger, muitas famílias agora vivem em abrigos superlotados ou enfrentam o risco de ficar sem moradia. Na Ucrânia e nos países vizinhos, a redução dos repasses compromete o acesso de refugiados ao aluguel, à alimentação e aos tratamentos médicos.

A crise também atinge serviços básicos de proteção. No Sudão do Sul, o Acnur fechou 75% dos espaços seguros para mulheres e meninas, o que deixou até 80.000 refugiadas sem acesso a cuidados médicos, apoio psicológico, assistência jurídica e atividades que asseguram alguma renda.

No Líbano, a agência pode encerrar todo o seu programa de saúde até o fim de 2025. Em Bangladesh, a suspensão de recursos ameaça a educação de 230 mil crianças rohingya que vivem em campos de refugiados.

Além disso, os cortes comprometem os programas de reassentamento e retorno voluntário. Somente neste ano, 1,9 milhão de afegãos retornaram ao país de origem ou foram deportados, mas a ajuda oferecida não cobre nem os custos básicos com alimentação ou moradia, o que enfraquece os esforços de reintegração.

Nos países da América Latina, como Colômbia, Equador, Costa Rica e México, a falta de financiamento interrompeu programas de regularização migratória e deixou milhares de refugiados em situação irregular, expostos à pobreza e à exploração no trabalho informal.

Ainda no relatório, o Acnur disse que precisa de US$ 10,6 bilhões para cobrir as operações em 2025, mas só arrecadou 23% desse valor até agora. A agência afirmou que, se receber os recursos necessários, tem condições de retomar e ampliar rapidamente a assistência humanitária.

A agência pediu que governos, organizações e indivíduos aumentem significativamente suas contribuições financeiras para evitar uma tragédia ainda maior.