Manifestação indígena paralisa tráfego na BR-153 há mais de um dia

Quilômetros de filas de veículos, principalmente caminhões de carga, se estendem pelos dois sentidos da BR-153, no trecho que liga São Domingos do Araguaia a São Geraldo do Araguaia, no sudeste do Pará. Desde a manhã de quinta-feira (17), representantes de quatro aldeias do povo Suruí Aikewara mantêm a rodovia federal completamente interditada, em uma manifestação que, nesta sexta-feira (18), já ultrapassa 24 horas de duração.

O movimento reúne indígenas das aldeias Itahy, Ipirahy, Awssehé e Pamé Igara, que exigem do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e do governo federal o cumprimento integral do Plano Básico Ambiental (PBA), documento aprovado há mais de cinco anos, mas que permanece sem execução efetiva, segundo denunciam as lideranças.

A interdição, estabelecida por tempo indeterminado, tem gerado impactos significativos no fluxo de mercadorias e pessoas que utilizam a importante via de ligação regional. Motoristas relatam prejuízos com cargas perecíveis, atrasos em compromissos médicos e transtornos diversos causados pela impossibilidade de trafegar pelo local.

Fila de caminhões é quilométrica na importante rodovia

Acordo ambiental

O centro da disputa estaria, segundo eles, no Plano Básico Ambiental, instrumento de compensação ambiental aprovado em 2019 como contrapartida às obras de infraestrutura que afetaram territórios indígenas da região. O documento estabelece uma série de medidas e investimentos destinados às comunidades Suruí Aikewara, mas que, na avaliação dos manifestantes, não saíram do papel.

As lideranças indígenas aguardam um posicionamento direto de Brasília sobre o cronograma de execução das ações previstas no plano. A falta de respostas concretas do DNIT motivou a decisão de intensificar a pressão através da interdição da rodovia federal, estratégia que visa dar visibilidade nacional às reivindicações.

A manifestação representa um capítulo a mais na longa história de conflitos entre povos indígenas e órgãos governamentais na região amazônica, onde questões fundiárias e ambientais frequentemente geram tensões e mobilizações.

Histórico de protestos

Esta não é a primeira vez que os Suruí Aikewara recorrem ao bloqueio da BR-153 para pressionar autoridades. A estratégia tem sido utilizada repetidamente nos últimos anos, sempre relacionada ao descumprimento de acordos ambientais e à falta de respostas do poder público.

Em maio de 2025, apenas dois meses antes da atual manifestação, as mesmas comunidades já haviam interditado a rodovia federal no mesmo trecho. Na ocasião, conforme noticiado pelo Correio de Carajás, povos indígenas das aldeias Sororó e Suruí Aikewara mantiveram o bloqueio durante uma tarde inteira, reivindicando agilidade do DNIT na execução do Plano Básico Ambiental.

O protesto de maio teve características similares ao atual, com a diferença de que foi estabelecido um acordo com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) para liberar a via às 18h do mesmo dia, com o compromisso de não realizar novos protestos durante o fim de semana.

Anteriormente, em maio de 2024, conforme reportagem do G1 Pará, os indígenas já haviam bloqueado a BR-153 próximo a São Geraldo do Araguaia, cobrando o cumprimento do plano básico ambiental da pavimentação da BR-230, a Transamazônica. Na ocasião, o cacique Yrykwa, da aldeia Akamassyron, declarou: “Estamos em busca da garantia dos nossos direitos. O DNIT prometeu e nunca cumpriu, queremos direito à educação, saúde, que seja respeitado e garantido.”

O histórico de manifestações remonta ainda a março de 2022, quando indígenas da Aldeia Itahy interditaram o trânsito na BR-153 por cerca de três horas, protestando contra constantes faltas de energia fornecida pela Equatorial Energia. Naquela ocasião, segundo o Correio Paraense, os manifestantes realizaram rituais de dança como forma de protesto antes de liberar o tráfego.

Autoridades estiveram no local tentando um entendimento

Repercussão

A interdição da BR-153 rapidamente ganhou repercussão nas redes sociais, onde internautas manifestaram opiniões sobre a legitimidade e os métodos utilizados no protesto. Enquanto alguns defendem o direito dos indígenas de reivindicar o cumprimento de acordos firmados, outros criticam duramente os transtornos causados aos usuários da rodovia.

Maria Eduarda Nands expressou sua indignação em uma publicação que viralizou: “Passei mais de 8 meses esperando uma vaga pra consultar minha filha que precisa de encaminhamento para cirurgia, agora não poderei ir porque estão fazendo isso. Creio que se querem cobrar seus direitos busquem outras formas mais eficientes, assim só atrapalha a vida de quem não tem nada a ver. Todo mundo tem problemas e passa por dificuldades, mas atrasar os outros não os faz melhor que ninguém”.

A crítica de Regiara Cirqueira foi ainda mais contundente: “Cara, eu acho isso um absurdo! Trabalhar não quer, né? Mas tá aí atrapalhando a vida dos outros com esses bloqueios sem fundamentos”.

Entre os diretamente afetados pela interdição está o motorista José Homero, que conduz uma carreta frigorífica carregada com alimentos perecíveis. Ele manifestou preocupação com os possíveis prejuízos à carga e criticou a forma escolhida para a manifestação.

“Tenho muito respeito aos indígenas, não critico a forma de vida e a preservação de tudo o que diz respeito a eles, mas também não podem nos desrespeitar, prejudicar quem está trabalhando. Não é justo”, declarou o motorista, que representa o sentimento de muitos profissionais do transporte que se encontram retidos na rodovia.

Até o momento, não há previsão para o fim da manifestação. As lideranças Suruí Aikewara mantêm a posição de que só deixarão a rodovia após receberem garantias concretas sobre a implementação do Plano Básico Ambiental, incluindo cronogramas detalhados e recursos assegurados. A reportagem não conseguiu ouvir o Dnit, órgão que mediou o impasse na última oportunidade.

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