No dia 1º de agosto, começa a cobrança real de uma irresponsabilidade política que unifica – embora jamais admitam – Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva: o desprezo pelo interesse público. O anúncio de tarifaço feito por Donald Trump, mirando produtos brasileiros como retaliação ao Brasil, pode até ter o tom fanfarrão habitual do ex-presidente norte-americano, mas traz um alerta urgente: a brincadeira acabou. E o custo será altíssimo.
Bolsonaro e Lula são dois lados de uma mesma moeda mofada. De um lado, um ex-militar que surfou numa onda antipolítica, mas se revelou um populista autoritário, cercado de radicais e incapaz de articular qualquer projeto nacional. De outro, um ex-sindicalista messiânico, com nostalgia de revoluções fracassadas, que sonha em brincar de Hugo Chávez enquanto o Brasil definha. Ambos cultivam o conflito como método, o confronto como tática, e o poder como fim.
O brasileiro, esse sim, sempre fica com a conta. Vai pagar quando o agronegócio perder competitividade, quando exportações forem barradas, quando a inflação subir e o dólar disparar. Vai pagar com menos emprego, menos renda, menos comida no prato. Vai pagar com o isolamento internacional do país, fruto da arrogância de um governo que prefere posar de rebelde contra o império do que agir com inteligência geopolítica.
Enquanto isso, nos bastidores, elites econômicas fingem que não é com elas. Parte do empresariado nacional, viciado em subsídio e protecionismo, continua pendurado no Estado. A indústria brasileira foi desmontada por décadas de erros, omissões e políticas equivocadas. Só sobrou o agro — e esse, ainda que robusto, está sob ataque direto. Um embargo comercial norte-americano pode representar perdas bilionárias, justamente no setor que sustenta a balança comercial brasileira.
Imaginem se a crise escala. Os EUA têm o poder — e os meios — de tirar o Brasil do ar, literalmente. O sistema GPS, por exemplo, é controlado por eles. Sem acesso, voltamos à idade da pedra digital. Aviões não voam. Navios não navegam com segurança. Até a agricultura de precisão, orgulho do país, paralisa. Estamos na mão dos outros, e ainda achamos graça em provocar quem tem o botão na mão.
Bravatas e buraco
E qual o plano do Brasil diante dessa possibilidade? Nenhum. Lula, mais uma vez, reage com bravatas. Prefere defender juízes do STF em vez de pensar no impacto econômico e diplomático do seu posicionamento. Um líder de verdade, diante de uma ameaça de sanção internacional, articula, negocia, recua quando necessário — tudo em nome do interesse nacional. Lula prefere cutucar a superpotência com vara curta. E ainda se gaba disso. É um homem preso ao passado, com ideias velhas, escorado no parasitismo estatal e no assistencialismo de dar o peixe sem ensinar a pescar.
Bolsonaro, por sua vez, cavou o próprio buraco. Foi ele quem deu a Lula a chance de voltar ao poder. Com seu radicalismo tosco, com sua retórica vazia, com ataques ao STF e à democracia, esta ainda que capenga, desgastou o próprio campo liberal e conservador, abrindo espaço para o retorno de um projeto de esquerda anacrônico. A direita brasileira hoje o renega — porque sabe que ele não tem mais saúde, embora ainda desfrute de capital político, mas sem apoio internacional. A sua volta ao poder é implausível. Seu papel agora é de pedra no sapato da direita moderna.
No fundo, estamos presos numa disputa insana entre dois populistas que se retroalimentam. Um grita “comunismo!” sem nem saber o que significa. Outro fala em “resistência!” como se ainda vivesse nos anos 1970. Nenhum tem projeto de país. Nenhum investe em ciência, tecnologia, inovação, educação de ponta. Nenhum pensou, por exemplo, em criar um sistema próprio de navegação por satélite. A Índia, que deixou de ser colônia britânica no fim dos anos 1940, hoje lança foguetes e tem setor espacial competitivo. O Brasil? Nem internet decente consegue garantir nas escolas públicas.
A única ilha de excelência tecnológica brasileira se chama ITA — e sobrevive graças à persistência da Aeronáutica e ao mérito dos seus alunos. O resto do país anda para trás. Nossa indústria é uma sombra do que foi. Nossa infraestrutura é precária. Nossa diplomacia virou piada mundo afora.
E o pior: o Supremo Tribunal Federal, que deveria ser guardião da Constituição, virou ator político. Uma sigla com agenda, com lado. Ao invés de equilíbrio institucional, virou parte do conflito. E os juízes que agora têm vistos revogados pelos EUA vão sentir o peso simbólico, talvez não financeiro. Afinal, férias em Miami viraram fetiche. A proibição pode doer mais no ego do que no bolso.
Divisão insana
No fim das contas, o que há no Brasil é um vazio. Vazio de ideias, de projetos, de lideranças. O que sobra é a guerra de narrativas, as hashtags, as bravatas — de um lado e do outro. A elite política e econômica, incapaz de pensar o país como nação, colheu o que plantou: o populismo tosco, a divisão insana, a fuga de cérebros, a estagnação tecnológica, o isolamento geopolítico.
Se Trump realmente apertar o cerco, como promete, o Brasil sentirá. E muito. E aí, veremos quem realmente se importa com o povo. Porque nenhum desses políticos — nem os togados, nem os de palanque — vai sentir falta de feijão no prato ou gasolina no tanque. Mas você, cidadão comum, sim.
E pensar que tudo isso poderia ser evitado se o país tivesse um projeto. Um plano. Uma visão. Mas não. O que existe é só plano de poder. Nada além disso.
Bem-vindo ao Brasil real. Onde esquerda e direita se odeiam, mas se parecem. E onde o povo só entra nessa história como pagador da conta.
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