O projeto que o arquiteto paraense Francisco de Paula Lemos Bolonha elaborou, quando tinha 25 anos, para a fonte de águas sulfurosas de Araxá, Minas Gerais, foi publicado pela revista inglesa Architectural Forum.
Consistia num edifício em concreto armado destinado a abrigar dois pavilhões cobertos por uma laje curva.
A laje foi sustentada por pilares revestidos em mármore.
Meses depois, o mesmo projeto foi também publicado por outra revista da Inglaterra, a Londres Architecture Journal, já valorizado com uma nova honraria.
Fora incluído pela revista entre os dez melhores projetos de Arquitetura elaborados em todo o mundo naquele ano de 1948.
Eram, portanto, três as publicações internacionais a reconhecerem, àquela altura, o valor do jovem arquiteto paraense, pois, a revista francesa “L’Architecture D’Aujourd’Hui” publicara na capa de uma de suas edições um projeto dele, feito para o Jockey Clube do Rio de Janeiro.
Quando completou 26 anos de idade, Francisco de Paula acompanhou a execução, em Petrópolis, Rio de Janeiro, do seu maior projeto de residência unifamiliar, a Residência Hildebrando Accioly, como ela ficou conhecida.
Aquele trabalho fora realizado por Francisco “com grande liberdade de criação”, informa Oigres de Macedo, no ensaio “Francisco Bolonha, modernidade insigne”.
O ensaio foi apresentado no IV Congresso, no Brasil da Documentationand Conservation Modern Movement, órgão de consultoria da UNESCO.
A residência, dotada de uma capela, foi situada por outro pesquisador, Yves Bruand, entre a “pureza clássica” de Lúcio Costa e a “invenção plástica” de Oscar Niemeyer, no livro “Arquitetura Contemporânea no Brasil”.
Em outro ensaio, Oigres ressalta o caráter de síntese, da modernidade com a tradição, na Arquitetura, obtido por Francisco de Paula na residência.
Por exibir tal caráter, diz ele, aquela obra foi citada por grande número de publicações especializadas.
Este ensaio se intitula “A representação da religiosidade na casa modernista brasileira”.
Nele, Oigres analisa minuciosamente a capela feita por Francisco.
Ele apresentou o ensaio no Simpósio Internacional Religiosidade e Cultura.
Por ter projetado a casa, Francisco recebeu a Medalha de Prata na mais importante exposição de Arquitetura, do Brasil, o IV Salão Nacional de Artes Modernas.
Naquela fase de plenitude criativa, Francisco, aos 28 anos de idade, projetou, em seguida, uma das maiores obras de Cataguases, em Minas Gerais.
A cidade, então, se tornara uma espécie de laboratório de ensaio para a construção de Brasília, pois, entre os anos de 1941 e 1951, recebeu obras de grandes arquitetos, como Niemeyer.
Francisco deixaria nela o Hospital Maternidade.
A partir dos 31 anos, Francisco começou a preparar a construção da Escola Joseph Bloch, no Rio de Janeiro.
Nesta escola, ao invés de abrir janelas, ele criou um sistema especial de iluminação e ventilação, destaca Márcia Poppe, no ensaio “Para dentro da concha. Um olhar sobre a produção do arquiteto Francisco Bolonha”, publicado pela Arquitextos, em janeiro de 2007.
Aos 33 anos, Francisco retornou a Cataguases, e, lá, construiu um monumento para o industrial José Inácio Peixoto, por solicitação dos operários da Companhia Industrial Cataguases.
A simples identificação de seus companheiros nesta obra mostra o grau de prestígio profissional que o arquiteto paraense tinha alcançado.
Eles foram ninguém menos que Cândido Portinari, pintor brasileiro com maior projeção mundial, e, Bruno Giorgi, o escultor cujas obras ornamentaram as obras de Niemeyer em Brasília.
Portinari deixou no monumento seu painel “As Fiandeiras”.
Em 1967, Francisco completara 44 anos.
Neste ano, ele recebeu o mais importante prêmio do Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro, pelo projeto que preparara para a sede da Companhia Estadual de Telefones da Guanabara.
O prêmio era uma bolsa de estudos com duração de dois anos, em Paris.
Francisco ainda realizou muitos outros projetos que despertam o interesse de pesquisadores e acadêmicos em diversos estados brasileiros.
Houve um projeto, no entanto, ao qual ele dedicou 50 anos de sua vida: o da construção do Mosteiro dos Beneditinos, de Belo Horizonte.
Aquela obra, à qual Francisco atribuiu um significado especial, foi estudada no Programa de Pós-graduação de Arquitetura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por Márcia Poppe e Beatriz de Oliveira.
No ensaio “Arquitetura do Sagrado em Francisco Bolonha”, as autoras destacam que a obra foi levantada no alto de um morro.
Francisco morreu em 2006, com 83 anos de idade.
Para a Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais, ele é um “representante ilustre da Arquitetura Moderna Brasileira”.
A enciclopédia acrescenta que Francisco estabeleceu um diálogo criativo e independente com os principais expoentes daquela vertente, como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Reidy.
*Oswaldo Coimbra é escritor e jornalista
(Ilustração: Painel do monumento projetado por Francisco, em Cataguases, junto com Cândido Portinari)
Translation (tradução)
Francisco de Paula, the most prominent architect from Pará, reaches his peak
The project that the architect from Pará, Francisco de Paula Lemos Bolonha, designed at the age of 25 for the sulfur spring in Araxá, Minas Gerais, was published by the British magazine Architectural Forum.
It consisted of a reinforced concrete building intended to house two pavilions covered by a curved slab.
The slab was supported by marble-clad pillars.
Months later, the same project was also published by another British magazine, The Architectural Journal of London, now enhanced with a new honor.
It had been selected by the magazine as one of the ten best architectural projects in the world in that year of 1948.
There were, therefore, three international publications recognizing, at that point, the talent of the young architect from Pará. The French magazine L’Architecture d’Aujourd’Hui had previously featured one of his designs on its cover—a project for the Jockey Club of Rio de Janeiro.
At the age of 26, Francisco de Paula oversaw the construction in Petrópolis, Rio de Janeiro, of his largest single-family residence project, the Hildebrando Accioly Residence, as it became known.
That work was executed by Francisco “with great creative freedom,” writes Oigres de Macedo in the essay “Francisco Bolonha, Distinguished Modernity.”
The essay was presented at the 4th Congress in Brazil of Docomomo—Documentation and Conservation of the Modern Movement, an advisory body to UNESCO.
The residence, which included a chapel, was placed by another scholar, Yves Bruand, somewhere between the “classical purity” of Lúcio Costa and the “plastic invention” of Oscar Niemeyer, in his book Contemporary Architecture in Brazil.
In another essay, Oigres highlights the synthesis of modernity and tradition in architecture that Francisco de Paula achieved in this residence.
Because of this synthesis, he states, the work was cited by a large number of specialized publications.
That essay is titled “The Representation of Religiosity in the Brazilian Modernist House.”
In it, Oigres thoroughly analyzes the chapel designed by Francisco.
He presented the essay at the International Symposium on Religiosity and Culture.
For designing the house, Francisco received the Silver Medal at the most important architecture exhibition in Brazil—the 4th National Salon of Modern Arts.
In that phase of creative plenitude, at age 28, Francisco then designed one of the major works in Cataguases, Minas Gerais.
At the time, the city had become a sort of testing ground for the construction of Brasília, as between 1941 and 1951 it hosted works by great architects such as Niemeyer.
Francisco would leave there his design for the Maternity Hospital.
At age 31, Francisco began preparing the construction of the Joseph Bloch School in Rio de Janeiro.
In this school, instead of installing windows, he developed a special lighting and ventilation system, as noted by Márcia Poppe in the essay “Into the Shell: A Look at the Work of Architect Francisco Bolonha,” published in Arquitextos in January 2007.
At 33, Francisco returned to Cataguases, where he built a monument to the industrialist José Inácio Peixoto, commissioned by the workers of the Cataguases Industrial Company.
The mere identification of his collaborators on this project reveals the level of professional prestige the architect from Pará had achieved.
They were none other than Cândido Portinari, the most internationally renowned Brazilian painter, and Bruno Giorgi, the sculptor whose works adorn Niemeyer’s buildings in Brasília.
Portinari contributed to the monument with his panel “The Spinners.”
In 1967, Francisco turned 44.
That year, he received the most important award at the Modern Art Salon of Rio de Janeiro, for the project he designed for the headquarters of the State Telephone Company of Guanabara.
The award was a two-year study grant in Paris.
Francisco went on to carry out many other projects that continue to draw the attention of researchers and scholars in various Brazilian states.
There was one project, however, to which he devoted 50 years of his life: the construction of the Benedictine Monastery in Belo Horizonte.
That work, to which Francisco attributed a special meaning, was studied in the Graduate Architecture Program at the Federal University of Rio de Janeiro by Márcia Poppe and Beatriz de Oliveira.
In the essay “The Sacred Architecture of Francisco Bolonha,” the authors point out that the building was erected on the top of a hill.
Francisco died in 2006, at the age of 83.
According to the Itaú Cultural Encyclopedia of Visual Arts, he is “a distinguished representative of Brazilian Modern Architecture.”
The encyclopedia adds that Francisco established a creative and independent dialogue with the main exponents of that movement, such as Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, and Affonso Reidy.
Oswaldo Coimbra is a writer and journalist
(Illustration: Panel of the monument designed by Francisco in Cataguases, together with Cândido Portinari)
The post Francisco de Paula, o mais importante arquiteto paraense, chega à plenitude appeared first on Ver-o-Fato.