O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, afirmou em entrevista publicada no domingo (20.jul.2025) pela Folha de S.Paulo que a guerra comercial dos Estados Unidos, os conflitos militares recentes, e o crescimento da direita nas eleições europeias estão comprometendo as ambições para a conferência climática.
A reunião da ONU (Organização das Nações Unidas) será realizada em Belém, no Pará, em novembro de 2025, sem representação oficial norte-americana nas discussões preparatórias realizadas em Bonn.
“As negociações evoluem muito de acordo com as circunstâncias internacionais, e não preciso dizer que vivemos circunstâncias internacionais particularmente complexas”, declarou Lago sobre o cenário atual.
A ausência dos Estados Unidos nas negociações está sendo realizada depois que Donald Trump anunciou a saída do país do Acordo de Paris, em 2017. Este tratado estabelece metas contra o aquecimento global e foi elaborado para incluir os Estados Unidos, que não participaram do Protocolo de Kyoto.
A retirada norte-americana representa um obstáculo para as discussões, considerando que o país ocupa a 2ª posição em emissões de gases de efeito estufa em 2025 e lidera o ranking histórico de emissões. “Afinal, eles são os maiores emissores históricos, estão em segundo lugar no ano de 2025 e, portanto, é muito importante ter um ator tão relevante na discussão”, disse Corrêa do Lago.
A conferência em Belém será a 1ª sobre mudanças climáticas sediada pelo Brasil desde a Rio-92. O evento manterá a reunião de chefes de Estado na capital paraense, conforme determinação do presidente Lula.
Um dos principais objetivos da COP30 será apresentar o “roadmap”, documento que Brasil e Azerbaijão devem elaborar para indicar como o mundo poderá alcançar US$ 1,3 trilhão (R$ 7,2 trilhões) em financiamento climático. Este valor é considerado necessário pelos países em desenvolvimento para enfrentar a crise climática.
A meta atual de US$ 300 bilhões (R$ 1,6 trilhão), aprovada na COP29 no Azerbaijão, ficou abaixo do esperado. Esta insatisfação levou alguns países a tentarem reabrir as negociações sobre financiamento durante o encontro preparatório em Bonn, na Alemanha, em junho de 2025, paralisando as discussões por 2 dias.
Apesar da ausência do governo federal americano, 37 Estados dos Estados Unidos manifestaram intenção de seguir o Acordo de Paris. “Eles vão ter uma participação importante, são 37 Estados americanos que pretendem seguir o que é decidido no Acordo de Paris, e esse grupo representa em torno de 70% do PIB americano”, disse o embaixador.
Sobre a ausência dos Estados Unidos nas negociações, o embaixador questiona se isso beneficia outras nações: “Ganha espaço, mas com a ausência de um ator muito importante. É uma vitória discutível”. Ele também criticou Trump por usar o etanol e o desmatamento ilegal como justificativas para investigações comerciais contra o Brasil.
“O presidente Trump precisa receber informações mais corretas sobre o Brasil”, declarou.
Em relação à redução do uso de combustíveis fósseis, Corrêa do Lago lembrou que o termo “transitioning away” já foi aprovado na COP28. “É importante lembrar o seguinte: o ‘transitioning away’, ou seja, a famosa frase para nos afastarmos dos fósseis, já foi aprovada por consenso em Dubai”, afirmou.
Quanto à China e União Europeia, outros grandes emissores globais, o presidente da COP30 informou que ambos ainda não apresentaram suas novas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). “Tendo em vista que menos de 20 apresentaram antes de fevereiro, o normal se tornou não ter apresentado”, disse.
O embaixador mantém perspectiva positiva sobre os resultados da conferência preparatória em Bonn. “Tenho uma tendência a ser otimista, então vejo o copo metade cheio. Ou seja, houve um engajamento das delegações, apesar das divergências, algumas bastante vocais. Aconteceram vários avanços nos textos que precisamos aprovar em Belém”, afirmou.