A Região Metropolitana de Belém registrou 292 tiroteios no primeiro semestre de 2025. A informação é do Fogo Cruzado, instituto que desenvolve uma metodologia própria para monitorar tiroteios em centros urbanos e seus impactos.
Em média, quase dois tiroteios ocorreram por dia na região metropolitana de Belém, e 46 pessoas foram baleadas por mês, aponta levantamento semestral do Instituto Fogo Cruzado.
-Tiroteios em ações e operações policiais cresceram 9%, mesmo com queda no número total de tiroteios.
-100% das chacinas ocorrem em ações policiais, o número de mortes aumentou de 12 para 14 (16%) quando comparado com o primeiro semestre de 2024.
-Uma comunidade quilombola foi alvo de tiroteios com mortes durante ações policiais.
-Santa Izabel do Pará teve aumento de 133% no número de baleados em ações policiais.
-Quatro idosos foram mortos, um aumento de 33% em relação ao mesmo período de 2024. Essa foi a única faixa etária com crescimento no número de vítimas.
O Instituto Fogo Cruzado registrou um recuo no número total de tiroteios no primeiro semestre de 2025 na região metropolitana de Belém. No entanto, houve crescimento na letalidade em recortes específicos. De janeiro a junho, foram 292 tiroteios e/ou disparos de arma de fogo, uma média de quase dois por dia. Em 2024, neste mesmo período, foram mapeados 312 tiroteios na região metropolitana. Quase metade (48%) dos tiroteios ocorridos no primeiro semestre deste ano aconteceram durante ações ou operações policiais. Ao todo, foram 139 registros. Houve um aumento de 9% em relação ao mesmo período do ano anterior, que concentrou 127 registros em ações ou operações policiais — contrariando a tendência de queda nos demais indicadores.
A violência nas periferias da região metropolitana de Belém continua produzindo impacto direto sobre populações vulneráveis. Um dos principais alertas do semestre está no avanço de ocorrências policiais com morte em comunidades tradicionais. Um caso foi registrado em território quilombola, com três mortes — todas durante ações policiais. O número representa um crescimento de 50% em relação ao semestre anterior, que concentrou dois casos.
Além disso, quatro chacinas foram registradas, todas em ações policiais, com um total de 14 mortos — crescimento de mais de 16% no número de mortos em relação ao mesmo período do ano anterior, mesmo mantendo o número de chacinas. Em 2024, neste mesmo período, foram 12 mortos nas quatro chacinas mapeadas.
Em Belém, um dos casos que mais repercutiu foi o do duplo homicídio em frente a uma academia no bairro do Marco, em maio, envolvendo agentes de segurança e reforçando a centralidade da violência armada na região metropolitana. Outro caso foi o de um homem morto enquanto trabalhava com um caminhão de lixo, em praça pública, em janeiro.
“A atuação policial nas periferias urbanas e em territórios de comunidades tradicionais segue sendo motivo de grande preocupação. O aumento das mortes em ações policiais, especialmente em comunidades quilombolas, mostra que o uso da força pelo Estado continua afetando de forma desproporcional populações já vulnerabilizadas. Em um contexto de debates importantes sobre o papel desses povos na pauta ambiental, e em todas as violências provocadas pelo racismo ambiental na Amazônia, esses dados reforçam a urgência de se discutir o modelo de segurança pública adotado na região metropolitana de Belém, e provocam preocupações quanto ao futuro das políticas em todo o estado”, analisa Eryck Batalha, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Pará.
O mapa da violência armada
Municípios
Entre os municípios da região metropolitana de Belém, a capital paraense foi a mais afetada pela violência armada, concentrando 49% dos tiroteios, 41% dos mortos e 53% dos feridos mapeados no semestre, seguidos de Ananindeua, Marituba e Castanhal.
Belém: 145 tiroteios, 91 mortos e 29 feridos
Ananindeua: 63 tiroteios, 52 mortos e 11 feridos
Marituba: 33 tiroteios, 30 mortos e 8 feridos
Castanhal: 18 tiroteios, 14 mortos e 3 feridos
Total da região metropolitana:
292 tiroteios, sendo 139 em ações policiais
220 mortos e 54 feridos, totalizando 274 baleados
Bairros
Considerando os bairros da região metropolitana de Belém, os mais impactados pela violência armada em 2025 estão concentrados em Belém e Ananindeua. Os cinco mais afetados no 1º semestre foram:
Icuí-Guajará (Ananindeua): 12 tiroteios, 11 mortos e 4 feridos
Cidade Nova (Ananindeua): 12 tiroteios, 8 mortos e 5 feridos
Guamá (Belém): 11 tiroteios, 8 mortos e nenhum ferido
Marco (Belém): 10 tiroteios, 6 mortos e 4 feridos
Telégrafo (Belém): 10 tiroteios, 8 mortos e 1 ferido
Locais
Entre as 274 pessoas baleadas na região metropolitana de Belém, no primeiro semestre de 2025, 30% foram atingidas dentro de casa, 15% dentro de automóveis e 11% em bares. Os locais mais frequentes de ocorrências com vítimas baleadas foram:
Residência: 30 baleados (queda de 30% em relação a 2024, que acumulou 43 baleados)
Automóvel: 15 baleados (aumento de 7% em relação a 2024, que acumulou 15 baleados)
Bar: 5 baleados (queda de 50% em relação a 2024, que acumulou 10 baleados)
Posto de gasolina: 1 caso (redução de 50% em relação a 2024, que acumulou 2 baleados)
Transporte público: nenhum caso (redução de 100% em relação a 2024, que acumulou 2 casos).
Lava jato: 1 caso (não havia registros no semestre anterior)
O perfil da violência armada
Vítimas por faixa etária
Ao menos três adolescentes foram baleados no primeiro semestre na região metropolitana de Belém. Todos morreram. Em 2024, no mesmo período, quatro adolescentes foram baleados e morreram. Quatro idosos foram mortos por disparos de arma de fogo na região metropolitana no primeiro semestre de 2025, um aumento de 33% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foram registradas três mortes. Essa foi a única faixa etária com crescimento no número de vítimas.
Agentes de segurança
Houve redução no total de agentes de segurança mortos no primeiro semestre de 2025, passando de 23 em 2024 para 13 em 2025. No entanto, o número de policiais civis baleados cresceu 200% no período, indo de um, no ano anterior, para três, em 2025, contrariando a tendência geral de queda.
Mulheres e feminicídios
O número de feminicídios dobrou na região metropolitana no primeiro semestre de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024: foram dois casos, contra um no ano anterior. Além disso, o número total de mulheres mortas por violência armada aumentou cerca de 16%.
Vítimas por município
Cinco municípios da região metropolitana apresentaram aumento no número de pessoas baleadas:
Marituba: aumento de 41% – de 27 em 2024 para 38 em 2025
Ananindeua: aumento de 11% – de 57 em 2024 para 63 em 2025
Barcarena: aumento de 5% – de 20 em 2024 para 21 em 2025
O crescimento também foi observado especificamente em ações policiais:
Castanhal: aumento de 50% – de 6 em 2024 para 9 em 2025
Barcarena: aumento de 40% – de 10 em 2024 para 14 em 2025
Ananindeua: aumento de 30% –de 27 em 2024 para 35 em 2025
Marituba: aumento de 18% –de 17 em 2024 para 20 em 2025
SOBRE O FOGO CRUZADO
O Fogo Cruzado é um Instituto que utiliza tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.
Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 50 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife, de Salvador e de Belém.
Por meio de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado obtém e disponibiliza informações sobre tiroteios, verificados em tempo real, que são o único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.
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