Uma quadrilha altamente organizada roubou uma carga avaliada em R$ 7 milhões de toxina botulínica — o botox, substância usada em procedimentos estéticos — no terminal de cargas do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O crime aconteceu no dia 6 de junho e foi realizado em cerca de quatro horas sem levantar qualquer suspeita, expondo falhas graves na segurança do maior aeroporto da América Latina. A reportagem foi veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo.
De acordo com as investigações, os criminosos chegaram ao local em um caminhão pequeno, aguardaram a movimentação da carga vinda da Holanda e abordaram o motorista no estacionamento do terminal. A ação foi precisa: em apenas 40 minutos, toda a carga foi transferida para o veículo da quadrilha, que deixou o local em comboio, sem qualquer intervenção.
O boletim de ocorrência relata que um dos criminosos estava armado e anunciou o assalto. No entanto, as câmeras de segurança mostram uma cena surpreendente: os envolvidos agiam com naturalidade, sem qualquer indício de urgência ou violência. Em determinado momento, um dos assaltantes até ajuda o motorista a manobrar o caminhão, reforçando a impressão de normalidade.
A investigação conduzida pela Polícia Civil indica o envolvimento direto de funcionários da transportadora e possivelmente do próprio aeroporto. O que chama ainda mais atenção é o comportamento do suposto refém: ele, que seria funcionário da transportadora, aparece nas imagens de segurança caminhando normalmente pelo local antes de ser levado, junto com o motorista, em um dos veículos da quadrilha.
“Vimos que muita coisa do que eles disseram era fantasiosa”, afirmou o delegado João Carlos Miguel Hueb, responsável pelo caso.
A carga roubada foi localizada cinco dias depois do crime, armazenada em uma câmara fria de um mercadinho na cidade de Embu das Artes, na Grande São Paulo. O sucesso na recuperação do material se deu graças ao sistema de rastreamento da carga.
Apesar da recuperação da mercadoria, o caso expõe uma preocupante fragilidade no esquema de segurança de um dos mais movimentados aeroportos da América Latina. Segundo apuração do Fantástico, somente no último ano houve R$ 23 milhões em prejuízos com roubos de carga no Aeroporto Internacional de Guarulhos. A lista de itens roubados em 2024 inclui medicamentos, peças de máquinas agrícolas, drones, caixas de som e aparelhos celulares.
Um dos crimes mais emblemáticos já ocorridos no local foi registrado em 2019, quando assaltantes disfarçados de policiais federais conseguiram levar 750 kg de ouro do terminal de cargas.
“O que mais atrai essas quadrilhas são as cargas valiosas, a facilidade de cooptação com funcionários internos e a facilidade de dispersão no mercado paralelo”, alertou o delegado Hueb.
Em nota, a concessionária que administra o aeroporto afirmou que os roubos não ocorreram dentro do terminal de cargas e que os acessos seguem “critérios rigorosos”.
Até o momento, quatro suspeitos foram presos, sendo dois deles funcionários da transportadora envolvida. As investigações continuam para identificar outros integrantes da quadrilha e possíveis cúmplices dentro da estrutura aeroportuária.
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