Aos 76, morre Ozzy Osbourne, lenda do heavy metal

Em 5 de julho de 2025, cantor se despediu oficialmente dos palcos em sua cidade natal, num último show com o Black Sabbath

Da Redação – O mundo da música foi surpreendido na tarde desta terça-feira (22), e lamenta a perda de um de seus mais emblemáticos e irreverentes personagens. Ozzy Osbourne, o inconfundível “Príncipe das Trevas” e vocalista que transcendeu gerações a frente da banda Black Sabbath, e em sua prolífica carreira solo, faleceu aos 76 anos de idade. A notícia, que abala fãs em todo o globo, surge em um dia já histórico. Em 5 de julho de 2025, há duas semanas, marcou sua despedida oficial dos palcos. A causa da morte do lendário cantor, no entanto, não foi revelada até o momento. Ozzy deixa sua esposa Sharon e seus seis filhos: Aimee, Kelly, Jack, Louis, Jessica e Elliot, além de uma legião de admiradores e uma obra musical que redefiniu o som do rock pesado.

A trajetória de John Michael Osbourne, que viria a ser mundialmente conhecido como Ozzy, é comparável a uma tapeçaria rica em extremos, desde a modesta origem no Reino Unido até o estrelato global, pontuada por momentos de glória, tragédia e uma resiliência notável.

Nascido em 3 de dezembro de 1948, em Marston Green, filho de Lilian e John Thomas Osbourne, o jovem Ozzy iniciou sua jornada musical aos 20 anos, formando a banda que, após algumas mudanças de nome (The Polka Tulk Blues Band, Polka Tulk, Earth), finalmente se consolidaria como Black Sabbath. A formação original, composta por Ozzy nos vocais, Tony Iommi na guitarra, Bill Ward na bateria e Geezer Butler no baixo, encontrou inspiração para seu nome em uma história de Dennis Wheatley, pavimentando o caminho para um som inovador e sombrio que definiria o heavy metal.

A era Black Sabbath foi monumental, com a banda lançando dez discos de estúdio que se tornaram pilares do gênero: Black Sabbath (1970), Paranoid (1970), Master of Reality (1971), Vol.4 (1972), Sabbath Bloody Sabbath (1973), Sabotage (1975), Technical Ecstasy (1976), Never Say Die! (1978), 13 (2013) e The End (2016). Além disso, a banda também entregou aos fãs três álbuns ao vivo e cinco coletâneas, solidificando sua posição como uma das mais influentes da história da música pesada. A contribuição vocal e a persona de palco de Ozzy foram cruciais para a identidade do grupo, marcando uma era de inovação e vanguarda.

Apesar do sucesso estrondoso, o álbum Never Say Die! marcou a despedida inicial de Ozzy do grupo britânico de heavy metal. A separação, no entanto, não significou o fim de sua carreira musical, mas sim o início de um novo ciclo e igualmente bem-sucedido capítulo. Ele rapidamente formou a banda Blizzard of Ozz, ao lado do virtuoso guitarrista Randy Rhoads, do baixista Bob Daisley e do baterista Lee Kerslake. O álbum de estreia, Blizzard of Ozz, lançado em 1980, foi um sucesso avassalador, impulsionado por hits como “Crazy Train” e “Mr. Crowley,” vendendo meio milhão de cópias em menos de 100 dias, consolidando Ozzy como uma força solo.

Ozzy Osbourne, vocalista do Black Sabbath e solo, em 2022. Foto: Harry How / Getty Images

Carreira solo
A carreira solo de Ozzy, contudo, foi também marcada por eventos que se tornaram tão lendários quanto sua música, alguns deles com contornos trágicos. Após o lançamento de seu segundo disco de estúdio solo, uma turnê europeia foi interrompida devido a um colapso nervoso, forçando seu retorno aos Estados Unidos para recuperação. Foi durante esse período que ocorreu um dos incidentes mais infames e polêmicos de sua carreira: em um show, o cantor mordeu a cabeça de um morcego real, pensando que era um adereço cenográfico. O episódio exigiu que ele recebesse diversas vacinas antirrábicas, que por sua vez, causaram choques anafiláticos e outros problemas de saúde, um testemunho das consequências imprevisíveis de sua performance extrema.

A tragédia mais impactante de sua vida pessoal e profissional ocorreu em 19 de março de 1982, quando o talentoso Randy Rhoads, seu guitarrista e amigo próximo, perdeu a vida em um acidente aéreo. O incidente, que também vitimou a maquiadora Rachel Youngblood e o motorista do ônibus da banda (um ex-piloto), foi resultado de um voo imprudente. Segundo relatos da época, o motorista, supostamente abalado por um divórcio, teria lançado o avião contra o ônibus da banda. Aqueles que estavam no ônibus saíram ilesos, mas todos a bordo da aeronave faleceram. A morte de Rhoads mergulhou Ozzy em uma profunda depressão, alterando seus planos musicais, o que o levou a lançar uma coletânea de clássicos do Black Sabbath, intitulada Speak of the Devil (EUA) ou Talk to the Devil (Inglaterra), em vez de um álbum ao vivo.

Nos anos seguintes, Ozzy continuou a lançar material, mesmo com críticas. O álbum The Ultimate Sin (1986), apesar de conter o hit “Shot in the Dark,” foi considerado medíocre pelo próprio artista. No entanto, o tributo a Randy Rhoads permaneceu uma constante em sua vida. Em 1987, impulsionado por centenas de cartas de fãs e o contato da mãe de Randy, Ozzy reuniu arquivos do falecido guitarrista, enviando-os ao produtor Max Norman, o que resultou no lançamento do comovente disco Tribute to Randy Rhoads.

A história de Ozzy também é inseparável da saga de reuniões com o Black Sabbath. Embora boatos de um reencontro histórico tenham surgido já no início dos anos 1980, problemas entre Sharon, esposa e produtora de Ozzy, e os empresários do grupo impediram um retorno oficial na época. No entanto, colaborações esporádicas aconteceram, como a participação de Geezer Butler no álbum Just Say Ozzy. O público teve um vislumbre da magia original em 1992, quando, em um dos shows que se pensava ser dos últimos de Ozzy, os membros originais do Black Sabbath subiram ao palco na Califórnia para tocar clássicos como “Black Sabbath,” “Fairies Wear Boots,” “Iron Man” e “Paranoid.” A aparição culminou na enigmática mensagem “I’ll be back,” prometendo um retorno que, de fato, se concretizaria.

A esperada reunião do Black Sabbath finalmente aconteceu em 11 de novembro de 2011, com o anúncio oficial no site da banda, reacendendo a chama para milhões de fãs. Em 2012, eles iniciaram gravações em estúdio e embarcaram em uma turnê mundial, culminando no lançamento do single “God is Dead?” em 2013. Contudo, esse período de retorno também foi marcado por desafios pessoais para Ozzy. No mesmo ano, ele revelou ter passado seis meses de 2012 viciado em drogas e analgésicos, um período que quase custou seu casamento. Sua recuperação e o pedido público de desculpas demonstraram sua vulnerabilidade e força. A turnê do Black Sabbath com ingressos esgotados, incluindo três shows no Brasil (Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo), atestou a contínua relevância e apelo da banda. Em setembro de 2014, Ozzy mencionou planos para um novo disco de estúdio em 2015 com Rick Rubin, mas o projeto não se concretizou. O verdadeiro adeus definitivo veio em 2016, com o lançamento do último disco da banda, The End, seguido por uma derradeira turnê mundial.

Após a finalização de sua jornada com o Black Sabbath, Ozzy Osbourne retornou à carreira solo em 2017, mantendo sua produção musical ativa com álbuns como Ordinary Man (2020) e Patient Number 9 (2022). No entanto, seus últimos anos foram profundamente marcados por uma série de problemas de saúde recorrentes, iniciados em 2018 com duas infecções na mão que o forçaram a adiar datas de turnê. Em 2019, ele foi internado na UTI devido a bronquite e, posteriormente, pneumonia. O desafio mais significativo veio em 21 de janeiro de 2020, quando Osbourne revelou publicamente no programa Good Morning America da ABC seu diagnóstico de Parkinson, uma batalha que ele enfrentou com coragem nos anos seguintes.

O desfecho de sua notável vida coincidiu com um momento de celebração e despedida. Em 5 de julho de 2025, no mega festival beneficente Back to the Beginning, Ozzy Osbourne e o Black Sabbath, com a formação clássica (Bill Ward, Tony Iommi e Geezer Butler), subiram ao palco do Villa Park, estádio do Aston Villa, time de coração do artista, para seus últimos shows. Este evento não só selou o adeus de uma banda icônica, e nesta terça-feira (22), marcou, o fim da jornada terrena do “Príncipe das Trevas” aos 76 anos. O legado de Ozzy Osbourne, moldado por sua voz inconfundível, performances ousadas, lutas pessoais e uma discografia revolucionária, permanece imortal na história da música, um testamento de sua influência duradoura no heavy metal e no rock mundial.

Reportagem: Val-André Mutran é repórter especial para o Portal Ver-o-Fato e está sediado em Brasília.

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