Terras destinadas a comunidades quilombolas no Brasil, na Colômbia, no Equador e no Suriname apresentam taxas de desmatamento até 55% menores que outras áreas, segundo uma pesquisa publicada nesta 3ª feira (22.jul.2025) pela revista científica Communications Earth & Environment, do Grupo Nature. Eis a íntegra (PDF – 3MB).
O estudo, conduzido pela ONG Conservation International, analisou dados estatísticos e espaciais de 21 anos, combinados com informações históricas para avaliar o papel dos povos afrodescendentes na conservação ambiental.
As comunidades afrodescendentes dos 4 países sul-americanos ocupam apenas 1% do território total. Apesar disso, mais da metade dessas terras está entre os 5% de áreas com maior biodiversidade do planeta.
No Brasil, as terras quilombolas representam 39% do total pesquisado e se sobrepõem a 87 áreas protegidas, incluindo locais de importância global como o Parque Nacional do Jaú, na Amazônia. Esse padrão de conservação também é observado em Terras Indígenas da Amazônia, que registraram queda de 42% no desmatamento, o menor índice dos últimos 6 anos, segundo levantamento do Imazon divulgado em abril de 2024.
A titulação das terras se mostrou fator decisivo para os resultados. Áreas protegidas com titulação registram 29% menos desmatamento que unidades de conservação sem esse reconhecimento legal. Fora das unidades de conservação, a diferença sobe para 36%. Nas bordas territoriais, onde a pressão por desmatamento costuma ser maior, a redução atinge 55%.
Os territórios quilombolas estudados armazenam mais de 486 milhões de toneladas de carbono irrecuperável. As florestas tropicais, áreas úmidas e pantanosas nos quilombos brasileiros concentram 172,9 milhões de toneladas desse carbono, equivalente a 36% do total encontrado nos 4 países. O carbono irrecuperável, se perdido por desmatamento ou degradação, não pode ser recuperado em tempo suficiente para evitar os piores impactos climáticos.
ONU reconhece papel
A CDB (Convenção sobre Diversidade Biológica) da ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu formalmente a contribuição dos povos afrodescendentes para a conservação da biodiversidade durante a COP16, em 2024. A COP30, conferência de clima da ONU que acontecerá em novembro em Belém, contará com a participação da Comissão Internacional de Comunidades Tradicionais, Afrodescendentes e Agricultores Familiares.