Israel reedita práticas nazistas em Gaza; silêncio torna União Europeia cúmplice

Palestinos tentam obter comida em meio ao cerco imposto por Israel. Jabalia, 30 de abril de 2025 (Foto: Saeed Jaras)

Nas páginas mais sombrias da história: Gaza sob o fogo do sadismo e o silêncio europeu
Mesma União Europeia que sempre exaltou valores humanitários e o respeito aos direitos humanos agora se cala quando Israel usa comida para atrair palestinos em Gaza e depois executá-los

Wisam Zoghbour*/Diálogos do Sul Global – Em Gaza, a morte já não é uma notícia que causa espanto. O sangue que escorre diariamente sob o cerco e os bombardeios já não é apenas um episódio efêmero, mas transformou-se em parte da rotina da vida. Contudo, o que acontece hoje em Gaza não pode ser tratado como números abstratos ou cenas passageiras nos noticiários: é uma repetição grosseira e aterradora dos capítulos mais horrendos da história humana, com métodos assustadoramente semelhantes aos usados nas câmaras de gás nazistas.

Nos campos de concentração nazistas, as vítimas eram solicitadas a tirar as roupas sob o pretexto de banho, recebiam sabão e toalha, e eram conduzidas às câmaras de gás para serem sufocadas até a morte, sem resistência. Hoje, a mesma cena se repete, porém, com a linguagem e ferramentas modernas: em Gaza, os famintos são direcionados para locais supostamente destinados à “ajuda humanitária”, mas tão logo chegam, são recebidos com tiros de metralhadoras pesadas, enquanto drones sobrevoam para abater aqueles que tentam escapar do buraco da morte.

Será isso mera coincidência? Essas práticas podem ser consideradas inconscientes? Ou o que acontece ultrapassa o ato militar, representando um ódio sádico organizado, que visa aterrorizar todo um povo, quebrar sua vontade e destruir sua estrutura social e humana?

O que ocorre em Gaza não é uma guerra convencional, mas um projeto de extermínio sistemático sob o disfarce de “operações de segurança”, onde a fome é usada como arma, o engano como roteiro e as balas como método para eliminar as vítimas em seus momentos mais vulneráveis. Como podemos descrever uma cena na qual os famintos são convocados para receber alimentos e, em seguida, são exterminados coletivamente a tiros? Não é essa a mesma mentalidade nazista que o mundo tentou apagar para sempre?

O sadismo israelense não conhece limites
A questão ética aqui não se limita a quem dispara as armas, mas estende-se também a quem justifica, quem se cala e quem é cúmplice pelo silêncio e pelas posições ambíguas. Israel, que se promove como “a única democracia no Oriente Médio”, hoje pratica exatamente o oposto de tudo o que representa a democracia, expandindo seus instrumentos criminosos para além das fronteiras de Gaza, assassinando assim a consciência do mundo livre.

Se o silêncio dos regimes cúmplices é esperado, o maior choque está na postura da União Europeia, que sempre exaltou seus valores humanitários e cláusulas legais baseadas no respeito aos direitos humanos. Entretanto, esses valores se evaporam quando o assunto é Israel. Nem mesmo a cláusula explícita no acordo de parceria comercial Europa-Israel, que exige o respeito aos direitos humanos, foi suficiente para suspender o acordo diante dos massacres e crimes cometidos contra civis desarmados.

União Europeia: parceira pelo silêncio
Com essa postura, a União Europeia deixa de ser apenas uma observadora impotente e se torna uma parceira cúmplice. O silêncio aqui não é neutralidade, mas um apoio implícito ao criminoso, oferecendo uma cobertura política para que o exército de ocupação continue sua agressão sem responsabilização.

O crime da fome deliberada, o crime dos ataques durante a distribuição de ajuda humanitária, o crime de assassinatos em massa com uso de drones… todos estão documentados com áudio e imagem. Ainda assim, a consciência deste mundo “civilizado” só se manifesta quando se trata de condenar e demonizar a vítima.

O que ocorre hoje em Gaza não é apenas um extermínio físico, mas também uma tentativa de apagar a memória humana e reescrever a história através da força e do racismo. Porém, este povo, que já enfrentou catástrofes, massacres e deslocamentos, não pode ser vencido pela fome ou pelo engano. Por mais prolongado que seja o silêncio mundial, a verdade continuará batendo às portas e a máscara do sadismo cairá, mesmo que tarde.

Edição de texto: Alexandre Rocha

Wisam Zoghbour é Jornalista, membro da Secretaria-Geral do Sindicato dos Jornalistas Palestinos e diretor da Rádio Voz da Pátria.

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião do Ponto de Pauta.

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