Gaza vive hoje um colapso humanitário sem precedentes: dezenas de milhares de mortos, fome crescente, acesso à ajuda humanitária bloqueado, e uma comunidade internacional intensamente mobilizada. Israel segue defendendo suas ações como parte de uma guerra contra o Hamas — mas muitos governos, líderes religiosos, ONGs e especialistas apontam para violação do direito humanitário internacional e possíveis crimes de guerra ou genocídio.
Dentro de Israel, o apoio ao governo de Netanyahu e à operação militar é cada vez menor entre o povo judeu; há cada vez mais vozes contrárias exigindo mudanças de rumo e o fim da guerra.
A sensação que fica é a de um impasse devastador: vidas se esgotando em Gaza, com a diplomacia internacional pressionando e a sociedade israelense questionando seus líderes e sua ética e os EUA, único aliado que Israel ouve, calado e falando em expulsar a população – que restar – e ocupar o território palestino como resorts.
Um novo holocausto
O que os judeus passaram nas mãos dos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial se repete em Gaza, só que com os judeus como promotores das atrocidades. Segundo a Ministério da Saúde de Gaza, até 22 de julho de 2025, pelo menos 59.106 pessoas foram mortas, incluindo 17.400 crianças, e 142.511 ficaram feridas. Destas mortes, 101 foram causadas por inanição*, sendo 80 crianças.
*Inanição é um estado de extrema fraqueza e debilidade causado pela falta prolongada de alimentos e nutrientes, seja por escassez ou por incapacidade de assimilação. É a forma mais grave de desnutrição proteico-energética e pode levar a sérias complicações de saúde e até à morte.

Desde que Israel encerrou o cessar-fogo em 18 de março, houve ao menos 8.268 mortes adicionais, com centenas de crianças entre as vítimas e desde o final de maio, mais de 1.000 pessoas foram mortas tentando acessar comida em pontos de distribuição (GHF ou ONU), segundo relatório da ONU. Dessas mortes, 766 ocorreram perto de centros da GHF e 288 em torno de comboios da ONU ou outras ONGs .
Organizações como a ONU, WHO, UNICEF, WFP e dezenas de ONGs humanitárias alertam que metade da população está em situação de emergência ou fome catastrófica, com mais de 470 mil pessoas enfrentando falta extrema de alimentos. Estima-se que até 71 mil crianças e 17 mil mães precisarão de tratamento urgente para desnutrição severa.
A pressão jurídica internacional contra Israel: O genocídio nos tribunais
A Corte Internacional de Justiça (CIJ), com sede em Haia, tornou-se palco central do embate jurídico sobre o que acontece em Gaza. Desde janeiro de 2024, a África do Sul acusa formalmente Israel de violar a Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio. A denúncia ganhou força à medida que o número de mortos civis palestinos aumentou em ritmo alarmante e a fome foi usada, segundo a acusação, como arma de guerra.
Agora, em julho de 2025, o Brasil anunciou que ingressará como parte nesse processo, ao lado de países como México, Turquia, Irlanda, Espanha, Colômbia e Indonésia. O governo brasileiro declarou que os “elementos materiais e simbólicos da ofensiva israelense configuram padrões compatíveis com a prática de genocídio”, e pediu medidas urgentes da CIJ para interromper as hostilidades e garantir acesso humanitário total a Gaza.

A pressão também acontece em cortes nacionais. Na Espanha, França, Bélgica, Alemanha e Reino Unido, organizações da sociedade civil estão acionando a Justiça para forçar os governos a interromperem vendas de armas, acordos comerciais e cooperação militar com Israel. Em muitos casos, os tribunais aceitaram analisar as ações.
Reações e acusações de genocídio
Mais de 115 ONGs e grupos de direitos humanos acusam Israel de empurrar os palestinos para a fome e o colapso humanitário, caracterizando suas ações como aproximação de genocídio.
A relatora especial da ONU, Francesca Albanese, afirmou em conferência na Colômbia que o mundo precisa agir contra uma campanha genocida em Gaza, pedindo sanções, embargos, suspensão de laços diplomáticos e econômicos.
O Brasil anunciou que ingressará oficialmente no processo do ICJ, apoiado por África do Sul, para acusar Israel de genocídio sob a Convenção de Genocídio de 1948. Também países como Espanha, Turquia e Irlanda pediram intervenção no caso.
Em uma declaração conjunta, 25–28 países, incluindo França, Reino Unido, Austrália, Canadá e Japão, condenaram as ações de Israel como “assassinato desumano” e exigiram cessar-fogo imediato e acesso humanitário sem restrições.
Na Europa, ONGs apresentaram ações na Justiça contra governos que não reagem diante de supostos crimes de guerra e genocídio, exigindo medidas como suspensão de exportações de armas e de acordos com Israel e assentamentos.
O The Guardian o chamou de “genocídio de fome”, com mortes acontecendo a cada 12 minutos em julho, denunciando o bloqueio como estratégia deliberada de eliminação progressiva de civis.
Dentro de Israel: críticas, protestos e divisão interna
Dentro de Israel, não há unanimidade — muito pelo contrário. Manifestantes de rua, grupos pacifistas, reservistas e até ex-security chiefs têm denunciado a contínua ofensiva como política e perigosa.
Cartas abertas de militares e acadêmicos criticam a política do governo e alertam que a ofensiva agrava o sofrimento palestino — algo raro em Israel desde 2023.
A recusa de jovens a servir como reservistas cresce: apenas metade deles tem se apresentado para o serviço, citando objeções morais e insatisfação com a abordagem do governo.
Protestos massivos tomam cidades como Tel Aviv, Jerusalém, Haifa: incluem famílias de reféns exigindo negociações e cidadãos pedindo novas eleições e o fim da guerra. Enquanto isso, marchas da extrema‑direita celebram ocupação e promovem violência contra árabes, denunciando setores pacifistas do governo como traidor — o que evidencia ainda mais as divisões políticas internas, onde a extrema direita acaba se desgastando diante da opinião pública, mas que mantém o assassinato deliberado do povo palestino, em nome da guerra e da vingança contra o Hamas.
Governo enfrentava fortes manifestações antes da guerra
Protestos em Israel, a reforma judicial e a tempestade antes da guerra

Antes da guerra com o Hamas eclodir em outubro de 2023, Israel vivia uma das maiores crises políticas internas de sua história. Durante quase 30 semanas consecutivas, centenas de milhares de israelenses — em algumas ocasiões, até 500 mil — ocuparam as ruas de Tel Aviv, Jerusalém e outras cidades para protestar contra uma controversa reforma judicial proposta pelo governo ultradireitista de Benjamin Netanyahu.

O projeto, que visava enfraquecer a Suprema Corte e aumentar o poder do Executivo, foi considerado por muitos como uma ameaça direta à democracia israelense. Dentre os pontos mais críticos estavam:
- Retirar da Suprema Corte a capacidade de vetar decisões governamentais consideradas “não razoáveis”;
- Dar ao governo maior controle sobre a nomeação de juízes;
- Blindar leis classificadas como “básicas” de revisões judiciais, mesmo que contrariem princípios democráticos.
Esse movimento gerou forte oposição social, incluindo líderes militares, reservistas das Forças Armadas, associações médicas, sindicatos e até parte do setor empresarial. A rejeição era tamanha que houve ameaça de paralisação militar — algo quase impensável num país em permanente estado de alerta.
A tempestade perfeita: crise interna e guerra externa
Em meio a essa convulsão interna e ao enfraquecimento institucional causado pela reforma, cresciam as tensões com a população palestina e com o Hamas. A guerra iniciada em 7 de outubro, após um ataque brutal do grupo islamista, mudou radicalmente o cenário político e social do país.
E é aí que surge a pergunta espinhosa: a guerra teria servido como uma “válvula de escape” para um governo encurralado internamente?
Embora não haja evidências diretas de que o governo tenha “provocado” ou desejado o conflito, muitos analistas apontam que a guerra serviu para:
- Unificar a sociedade em torno da defesa nacional, ofuscando as divisões políticas internas;
- Suspender os protestos, que cessaram quase imediatamente após o início do conflito;
- Redirecionar a atenção internacional, que antes estava voltada para os abusos autoritários da coalizão de Netanyahu;
- E, talvez mais criticamente, preservar o poder de Netanyahu, que enfrentava forte pressão para renunciar.
Conclusão: da democracia em crise à guerra total
Os protestos históricos de 2023 revelaram um país em profunda tensão social e institucional, com uma democracia em risco pelas mãos de seu próprio governo. A guerra com o Hamas interrompeu bruscamente esse processo, mas levantou suspeitas legítimas sobre o timing do conflito e seus efeitos políticos. O conflito externo, nesse contexto, parece ter congelado — ao menos temporariamente — um colapso institucional interno que estava em curso.
Ou seja: para muitos, a guerra não apenas adiou a crise democrática israelense — ela pode tê-la, tragicamente, legitimado.
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