O delegado da PF e ex-secretário-executivo da SSP-DF (Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal), Fernando de Sousa Oliveira, declarou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que as mensagens atribuídas a ele no relatório final da PF sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022 estão “embaralhadas”. A fala se deu nesta 5ª feira (24.jul) durante o interrogatório dos réus do núcleo 2.
Oliveira é acusado de ter atuado com a delegada e ex-subsecretária de Inteligência da SSP, Marília Ferreira de Alencar, na organização de blitz durante o 2º turno das eleições presidenciais em 2022. Ele também é acusado de “omissão”, como os demais integrantes da SSP denunciados: Marília e o ex-ministro Anderson Torres, que estava no comando do órgão durante o 8 de Janeiro.
“Está no próprio relatório que as mensagens vieram embaralhadas. O que é incomum, na minha experiência como investigador durante 20 anos”, disse. O responsável pela elaboração do inquérito foi o delegado da PF (Polícia Federal) Fábio Shor, que prestou depoimento na 3ª feira (22.jul) como testemunha de defesa do policial federal Wladimir Matos Soares, um dos réus do núcleo 3.
Oliveira confirmou a autoria das mensagens ao juiz auxiliar Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, que atua no gabinete do ministro Alexandre de Moraes. Porém, disse que elas foram tiradas de contexto.
“Organizaram as mensagens e há uma possível supressão de palavras, podendo perder o sentido da frase. O analista que fez o relatório quis deixar claro que houve uma reorganização e uma edição”, declarou o réu.
Sousa Oliveira foi convidado a integrar o cargo na secretaria do ministério de Anderson Torres durante o governo Bolsonaro (PL).
O ex-secretário também declarou ter negado várias demandas encaminhadas por Torres durante o 2º turno eleitoral.
“O ministro pediu uma operação integrada entre a PF e a PRF (Polícia Rodoviária Federal). Tinha até nome: clima eleitoral zero. Foi o [meu] primeiro posicionamento contrário a um pedido do ministro. Ele estava insatisfeito com a atuação da polícia federal”.
Segundo Oliveira, todos os indícios de inteligência de crimes eleitorais, levantados pela também ré Marília de Alencar, estavam em centros urbanos. Ele declarou que não haveria viabilidade técnica para implementar efetivos da PRF no 2º turno das eleições, e diz ter indeferido o pedido do ministro.
“Devo muitas explicações relacionadas ao meu cargo e a essas conversas. Mas, quando se fala em alinhamento com o ministro, [isso ocorreu] em momento algum”, disse.
NÚCLEO 2 DO “GOLPE”
Os réus do núcleo 2 são acusados de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e participação em organização criminosa armada.
A denúncia da PGR descreve esse grupo como responsável pela “gerência” do plano “golpista”. O núcleo teria sido responsável por “coordenar as ações de monitoramento e neutralização de autoridades públicas”. Leia mais nesta reportagem.
Integram o “núcleo 2”:
- Fernando de Sousa Oliveira, delegado da PF e ex-secretário-executivo da SSP: atuou em conjunto com Marília na organização de blitz. Também é acusado de “omissão”, como os demais integrantes da SSP denunciados: Marília e o ex-ministro Anderson Torres, que estava no comando do órgão durante o 8 de Janeiro.
- Filipe Martins, ex-assessor especial de Assuntos Internacionais de Bolsonaro: teria sido responsável por editar a chamada “minuta golpista” e apresentar os seus “fundamentos jurídicos” ao alto escalão das Forças Armadas em reunião em 7 de dezembro de 2022.
- Marcelo Costa Câmara, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, coronel do Exército: ficou responsável por “coordenar as ações de monitoramento e neutralização de autoridades públicas”, segundo a denúncia, junto do militar Mario Fernandes. Era ele quem repassava a agenda e os deslocamentos de Alexandre de Moraes a Mauro Cid, segundo as investigações.
- Marília Ferreira de Alencar, delegada da PF (Polícia Federal) e ex-subsecretária de Inteligência da SSP (Secretaria de Segurança Pública): além de ter organizado blitz com Vasques e Fernando De Sousa Oliveira, teria coordenado “o emprego das forças policiais para sustentar a permanência ilegítima de Jair Messias Bolsonaro no poder”, segundo a denúncia.
- Mario Fernandes, general da reserva e ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro: além do monitoramento, teria elaborado o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que planejou a execução de autoridades. Também teria sido interlocutor dos manifestantes acampados em quartéis no fim de 2022 e pressionado o então comandante do Exército, Freire Gomes, a aderir ao golpe.
- Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal): era diretor do órgão que teria organizado blitz para tentar impedir que eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sobretudo no Nordeste, chegassem às urnas no 2º turno das eleições de 2022. Sua corporação também foi tida como “omissa” em não tentar deter as paralisações em estradas em apoio a Bolsonaro, depois de derrotado nas urnas.