Vasques nega blitze para barrar votos a Lula em 2022

O ex-diretor da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Silvinei Vasques negou nesta 5ª feira (24.jul.2025) ter ordenado operações no Nordeste para impedir o deslocamento de eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante o 2º turno das eleições de 2022.

Segundo ele, a corporação abordou 324 ônibus no Nordeste em 30 de outubro de 2022 e, ao todo, recolheu 13. “Nós abordamos 28 mil pessoas. Não tem como interferir num universo de 150 milhões”, disse. No caso dos ônibus com problemas mecânicos ou de circulação, disse que foram “chamados” outros veículos e que “as pessoas foram encaminhadas”. Vasques declarou que houve 1 caso no Pará em que a viatura policial escoltou os ônibus.

Vasques é um dos réus do “núcleo 2” da ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado e foi interrogado pelo juiz auxiliar Rafael Tamai, que atua junto ao ministro Alexandre de Moraes no STF (Supremo Tribunal Federal), relator do caso. “Eu nunca participei de uma organização criminosa porque eu não conheço essas pessoas”, disse.

Segundo as investigações, Vasques teria orientado agentes da PRF a realizar operações visando dificultar o acesso de eleitores às urnas em 30 de outubro de 2022. A maior parte das ações se deu no Nordeste, região onde Lula teve ampla vantagem sobre Jair Bolsonaro (PL).

Durante a audiência, o ex-diretor afirmou que as ações tinham como finalidade coibir crimes eleitorais, como o bloqueio de rodovias em todo o país. Ele negou qualquer direcionamento político e disse que não houve ordens ilegais por parte do então ministro da Justiça, Anderson Torres, a quem a PRF era subordinada.

“Tudo que recebemos como determinação, entendemos que deveria ser cumprido por dever legal. Não vi nenhuma ilegalidade nas falas do ministro. Foi isso que repassamos à PRF”, declarou Vasques.

Silvinei Vasques foi preso em 2023 por realizar operações no Nordeste que teriam impedido que eleitores votassem no 2º turno das eleições de 2022. Na época, ele usou as redes sociais para pedir votos ao Bolsonaro.

Em agosto de 2024, Moraes concedeu liberdade ao ex-agente, sob o uso de tornozeleira eletrônica. Ele foi nomeado para o cargo de diretor-geral por Bolsonaro em 2021 e foi demitido em dezembro de 2022, depois dos escândalos nas eleições.

“A Polícia Federal me deixou 1 ano na cadeia usando argumentos que eram mentirosos. Me deixaram 1 ano lá sofrendo com aqueles bandidos”, disse Vasques nesta 5ª feira (24.jul). O réu voltou a se queixar da “tortura psicológica” que teria sofrido em presídio da Papuda, em Brasília.

“Me torturaram na cadeia. Eu falava: to doente, eu tenho advogado. E eles falavam assim: ‘traz ele’, com a mãozinha para trás, se não eu ia lá para solitária. O que passei ninguém mais passou. Foi muita maldade me levar para Brasília. E eles sabiam”, disse.

NÚCLEO 2 DO “GOLPE”

Os réus do núcleo 2 são acusados de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e participação em organização criminosa armada.

A denúncia da PGR descreve esse grupo como responsável pela “gerência” do plano “golpista”. O núcleo teria sido responsável por “coordenar as ações de monitoramento e neutralização de autoridades públicas”. Leia mais nesta reportagem.

Integram o “núcleo 2”: 

  • Fernando de Sousa Oliveira, delegado da PF e ex-secretário-executivo da SSP: atuou em conjunto com Marília na organização de blitz. Também é acusado de “omissão”, como os demais integrantes da SSP denunciados: Marília e o ex-ministro Anderson Torres, que estava no comando do órgão durante o 8 de Janeiro.
  • Filipe Martins, ex-assessor especial de Assuntos Internacionais de Bolsonaro: teria sido responsável por editar a chamada “minuta golpista” e apresentar os seus “fundamentos jurídicos” ao alto escalão das Forças Armadas em reunião em 7 de dezembro de 2022.
  • Marcelo Costa Câmara, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, coronel do Exército: ficou responsável por “coordenar as ações de monitoramento e neutralização de autoridades públicas”, segundo a denúncia, junto do militar Mario Fernandes. Era ele quem repassava a agenda e os deslocamentos de Alexandre de Moraes a Mauro Cid, segundo as investigações.
  • Marília Ferreira de Alencar, delegada da PF (Polícia Federal) e ex-subsecretária de Inteligência da SSP (Secretaria de Segurança Pública): além de ter organizado blitz com Vasques e Fernando De Sousa Oliveira, teria coordenado “o emprego das forças policiais para sustentar a permanência ilegítima de Jair Messias Bolsonaro no poder”, segundo a denúncia.
  • Mario Fernandes, general da reserva e ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro: além do monitoramento, teria elaborado o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que planejou a execução de autoridades. Também teria sido interlocutor dos manifestantes acampados em quartéis no fim de 2022 e pressionado o então comandante do Exército, Freire Gomes, a aderir ao golpe.
  • Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal): era diretor do órgão que teria organizado blitz para tentar impedir que eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sobretudo no Nordeste, chegassem às urnas no 2º turno das eleições de 2022. Sua corporação também foi tida como “omissa” em não tentar deter as paralisações em estradas em apoio a Bolsonaro, depois de derrotado nas urnas.