Faltam 6 dias para que uma tempestade econômica recaia sobre o Brasil. A partir de 1º de agosto, entram em vigor as tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), que impôs uma alíquota de 50% sobre produtos brasileiros.
O tarifaço de Trump promete atingir em cheio as exportações nacionais, reacendendo receios antigos que, curiosamente, encontram eco em um sentimento enraizado no imaginário popular: a maldição de agosto.
A decisão do governo norte-americano representa um golpe frontal na balança comercial do Brasil. O impacto deve ser particularmente severo para os setores de agronegócio, siderurgia, mineração, têxtil e manufaturados, que dependem diretamente do mercado dos EUA.
Especialistas alertam para os riscos de quebra de contratos, cancelamento de encomendas, queda nos preços internos e aumento do desemprego em cadeias produtivas inteiras.
Além disso, a medida pode desequilibrar o câmbio, pressionar a inflação e minar a confiança de investidores estrangeiros. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) estima que o tarifaço terá um impacto negativo no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, com uma redução estimada em 0,16%, o que equivale a uma perda de R$ 19,2 bilhões na economia do país.
Simbolismo
O simbolismo do mês em que a medida entra em vigor não passa despercebido.
“Lendas e mitos foram surgindo ao longo dos anos. Para início de conversa, agosto nem existia no calendário romano; julho também não. Foi em homenagem aos imperadores romanos César Augusto e Júlio César que estes meses foram instituídos no calendário gregoriano. Antes, agosto era chamado Sextilis e até então tinha só 30 dias, mas os puxa-saco de plantão resolveram lhe acrescentar mais um dia. E quem pagou o pato foi fevereiro, que perdeu mais um dia, ficando com apenas 28”, explica o professor Carlos Felipe, especialista em folclore.
O temor em torno de agosto, no entanto, extrapola os calendários.
“Foi também entre os romanos que a fama de mês agourento começou a se espalhar: eles tinham aversão a agosto, período em que a constelação de Leão no hemisfério norte ficava mais visível. Como não sabiam do que se tratava, achavam que era um dragão que passava pelo céu, cuspindo fogo e espalhando maldição”, diz Carlos Felipe.
Os dados históricos confirmam essa reputação. Em agosto de 1954, Getúlio Vargas suicidou-se no Palácio do Catete. Em 1976, um avião da Transbrasil caiu em Florianópolis, matando 55 pessoas. Em 2001, o edifício Palace II, construído pela empresa de Sérgio Naya, desabou no Rio de Janeiro. Mais recentemente, o Hospital Badim, no Rio, pegou fogo, e o Pantanal registrou o maior número de queimadas da década.
No mundo, o mês também coleciona tragédias: as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, o furacão Katrina, a morte da princesa Diana, a explosão do submarino Kursk. Todas em agosto. Agora, somam-se às catástrofes do calendário o abalo econômico causado pelo tarifaço de Trump –de novo, em agosto.
Talvez os romanos não estivessem errados em temer agosto. Resta saber se, em 2025, o dragão que cospe fogo do céu virá na forma de tarifas e recessão.