Deputado federal licenciado atua como articulador informal da extrema direita norte-americana enquanto investigações apontam uso de R$ 17,2 milhões arrecadados via Pix para custear sua estadia no exterior; TCU, Coaf e Receita Federal investigam movimentações atípicas da família Bolsonaro. Relatórios da ABIN apontam suspeitas de influência externa na atuação do clã
Foto/Via Fotos Públicas
Enquanto o Brasil enfrenta uma escalada na tensão diplomática com os Estados Unidos, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) vive em solo americano com recursos cuja origem ainda não foi plenamente esclarecida. R$ 17,2 milhões, arrecadados via doações Pix para o ex-presidente Jair Bolsonaro, estariam sendo usados para financiar a permanência do filho nos EUA. A atuação política paralela de Eduardo em nome do pai junto a aliados de Donald Trump já preocupa autoridades brasileiras, e o rastro do dinheiro — sem prestação de contas — é hoje alvo de apurações do TCU, Coaf e Receita Federal. Suspeitas internas da ABIN reforçam a possibilidade de ingerência estrangeira.
Eduardo Bolsonaro está nos Estados Unidos desde o início de 2025. Sua presença, no entanto, vai além de uma simples estadia: fontes diplomáticas e documentos revelam que o deputado atua como articulador de pressões políticas contra o Brasil, com o objetivo de influenciar o ex-presidente Donald Trump a retaliar o governo brasileiro por medidas judiciais contra Jair Bolsonaro.
Segundo reportagem publicada em 26 de julho, Eduardo teria participado de reuniões com figuras-chave da extrema direita americana para discutir estratégias de sanção econômica ao Brasil, inclusive defendendo o aumento de tarifas sobre produtos brasileiros — medida confirmada por Washington e que entrará em vigor a partir de 1º de agosto, elevando as taxas a 50%. O deputado também teria atuado nos bastidores para pressionar pela revogação dos vistos de juízes do STF envolvidos nos processos contra seu pai.
Apesar de licenciado da Câmara dos Deputados desde março, Eduardo recebeu, até essa data, salário integral e auxílio-moradia. Após a suspensão dos pagamentos oficiais, passou a depender, segundo ele próprio, de uma “ajuda familiar” e de uma “reservinha pessoal”. Em depoimento à Polícia Federal em junho, Jair Bolsonaro afirmou ter transferido R$ 2 milhões para o filho nos EUA, retirados do montante de R$ 17,2 milhões arrecadados via Pix por apoiadores entre 2023 e 2024.
A justificativa do ex-presidente foi direta: “Não quero que meu filho e meus netos passem dificuldades no exterior. O custo de vida nos EUA é alto.” O deputado, por sua vez, declarou viver com simplicidade e dormir, inclusive, em um colchão inflável.
No entanto, a movimentação financeira levanta suspeitas. Nenhuma planilha ou extrato bancário foi apresentada à imprensa ou às autoridades para comprovar a origem e destino dos recursos arrecadados. A campanha via Pix não teve prestação de contas públicas, tampouco foram divulgados CPFs dos doadores, valores médios ou frequência das transferências.
O Tribunal de Contas da União apontou indícios de uso irregular de verbas públicas, solicitando à Câmara apuração sobre possíveis reembolsos e uso de recursos para cobrir despesas internacionais de Eduardo. O Coaf também identificou movimentações atípicas nas contas da família Bolsonaro e de aliados próximos.
Um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), divulgado em 24 de julho, adicionou mais um elemento à crise: agentes da inteligência brasileira suspeitam que parte da atuação bolsonarista esteja sendo alimentada por um “roteiro minuciosamente ensaiado pela Casa Branca, com a participação da CIA”. Embora o documento não traga provas conclusivas, reforça o alerta institucional sobre influência externa na política brasileira.
As suspeitas não surgem do vazio. A atuação da CIA na América Latina durante a Guerra Fria — incluindo apoio a golpes militares e desestabilização de governos de esquerda — alimenta hoje teorias sobre novas formas de intervenção, especialmente em países ricos em recursos naturais, como o Brasil. Nióbio, terras raras, lítio e outros minerais estratégicos colocam o país no centro da disputa geopolítica entre Estados Unidos e China.
A China, maior parceira comercial do Brasil, tem expandido investimentos em tecnologia (como o 5G da Huawei), infraestrutura e mineração. Esse avanço preocupa Washington, que busca conter a influência chinesa na América Latina. Um Brasil alinhado à política externa americana poderia, em tese, dificultar a penetração chinesa em setores sensíveis — o que fortalece, mesmo sem provas, a tese de que pressões políticas sobre o governo Lula poderiam ter motivação estratégica internacional.
Embora, não haja comprovação de que a família Bolsonaro esteja a serviço da CIA ou sob comando direto do governo americano. O que existe é um conjunto de indícios de alinhamento ideológico, interesses comuns e tentativas de articulação conjunta entre atores políticos da extrema direita nos dois países. As investigações da Polícia Federal, da CPMI de 8 de Janeiro e de órgãos de controle tratam, prioritariamente, de ataques à democracia e tentativas de golpe, e não de espionagem ou submissão a potências estrangeiras.
Sem documentação oficial, a possibilidade de doações concentradas — ou simuladas por laranjas — passa a ser considerada pelos investigadores. O Coaf trabalha com a hipótese de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e uso de empresas ou CPFs ligados ao entorno bolsonarista como canais disfarçados de financiamento.
Nos EUA, Eduardo Bolsonaro não possui cargo diplomático nem autorização formal para representar o Brasil. Mesmo assim, atua como interlocutor direto de setores trumpistas, incentivando represálias políticas e econômicas contra o governo brasileiro. O jornal espanhol El País chegou a descrevê-lo como “o homem que sussurra a Trump para que castigue o Brasil”.
O governo federal, por meio do Itamaraty, já acompanha os movimentos de Eduardo nos EUA, e estuda emitir comunicados diplomáticos, caso se comprove ingerência contra a soberania brasileira.
A arrecadação via Pix, feita sob o pretexto de custear multas e defesa jurídica de Jair Bolsonaro, tornou-se um dos pontos centrais da crise ética, financeira e institucional envolvendo a família. A falta de transparência ameaça transformar o chamado “Pix patriótico” em mais um capítulo do possível esquema de dissimulação de patrimônio e financiamento irregular de ações políticas no exterior.
Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro permanece nos EUA, longe da imprensa, sem prestar contas públicas e fora do radar do Congresso Nacional. Mas o dinheiro continua circulando, e a pressão — política, diplomática e judicial — apenas começou.
Relações entre Bolsonaro, CIA e Trump
É fato documentado que Jair Bolsonaro manteve uma relação próxima com o governo de Donald Trump, compartilhando ideologias e alinhamentos políticos em temas como:
- Antiglobalismo
- Anticomunismo
- Aproximação com Israel
- Críticas à China
Isso levou a uma aproximação diplomática e militar entre Brasil e EUA durante esse período. O Brasil, por exemplo, foi nomeado “aliado extra-OTAN” pelos EUA em 2019, o que fortaleceu laços militares e comerciais.
Teorias sobre a CIA e exploração de recursos
A CIA historicamente esteve envolvida em ações na América Latina durante a Guerra Fria, apoiando golpes e interferências em governos considerados de esquerda. Isso alimenta especulações modernas sobre novos tipos de influência, sobretudo em países ricos em recursos naturais como o Brasil.
Até agora não há provas sólidas de que a família Bolsonaro esteja a “serviço da CIA” ou que siga instruções diretas do governo americano.
Investigações em andamento no Brasil (como as da PF e da CPMI de 8 de janeiro) tratam mais de ataques às instituições democráticas e possível tentativa de golpe do que de espionagem ou colaboração com potências estrangeiras.
Suspeitas da ABIN sobre influência da CIA
Um relatório divulgado em 24 de julho de 2025 mencionou que agentes da inteligência brasileira (ABIN) suspeitam que parte da atuação bolsonarista esteja sendo alimentada de fora, “num roteiro minuciosamente ensaiado pela Casa Branca, com a participação da CIA”
Ainda assim, essas são suspeitas internas, não provas concretas de uma operação direta ou controle externo.