Trump aumentará sanções contra “aliados” de Lula

Enquanto Lula brinca de truco imaginário, seu entorno vai experimentar a mão pesada dos efeitos da “Lei Global Magnitsky”. Não está descartado o rompimento da relação diplomática entre os dois países

Brasília – O governo brasileiro podeser surpreendido com a escalada de pesadas sanções além do tarifaço de 50% sobre os produtos exportados aos EUA, previsto para o próximo dia 1º de agosto. Segundo apuração da CNN Brasil, e debatido um dia antes na live do Programa Linha de Tiro, do Portal Ver-o-Fato, o governo Trump vai sancionar autoridades brasileiras na próxima semana que vão incluir integrantes do alto escalão do governo Lula. No médio prazo, até a expulsão da embaixadora brasileira Maria Luiza Ribeiro Viotti estaria na lista das sanções, o que representaria um rompimento de relações diplomáticas entre os dois países.

O governo brasileiro parece não estar preparado para os impactos da medida, tampouco conseguiu negociar o adiamento da decisão, em uma “aposta arriscada que deixa a sensação de que o governo viu no tarifaço não uma crise, mas uma oportunidade”.

O presidente Lula tem adotado uma postura de crítica direta a Donald Trump, sinalizando a recusa em negociar pontos caros ao ex-presidente americano, como a flexibilização de regras para as Big Techs e o acesso a minerais críticos brasileiros. Sua estratégia, em parte, visa “recuperar sua popularidade, culpar os Bolsonaro pelo tarifaço e torcer para que os economistas alinhados estejam certos de que o impacto na economia será reduzido”. Essa abordagem “em cima do palanque” tem, no entanto, comprometido a capacidade do vice-presidente Geraldo Alckmin, encarregado das negociações, de resolver a situação. O próprio Lula teria afirmado que Alckmin não tem sido atendido pelos Estados Unidos, sugerindo uma obstrução política.

Paralelamente, a atuação da família Bolsonaro tem adicionado uma camada de complexidade à crise. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) defendeu a reversão da ineligibilidade do ex-presidente como solução para as tarifas, enquanto o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem pressionado pela análise imediata do pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Eduardo, a não votação dessas pautas poderia levar à suspensão de vistos e sanções contra presidentes da Câmara e do Senado. Essa estratégia é vista por lideranças do Congresso como uma “chantagem” que atrapalha qualquer diálogo, especialmente porque as pautas (anistia e impeachment) são consideradas inegociáveis pelo governo brasileiro, por envolverem soberania e independência de poderes. A percepção é que “essa tarifa, esse tarifaço, ele só vai recuar se houver alguma mudança nesse sentido”, algo que assessores internacionais do Planalto já avisaram ser “inegociável”.

Congressistas de pelo menos cinco partidos da centro-direita afirmam: “Lula não quer negociar”.

O cenário econômico e a busca por saídas
O setor privado no Brasil manifesta “desespero” diante do tarifaço. A Associação de Exportadores Brasileiros revisou “drasticamente para a queda das exportações esse ano por causa do tarifaço de quase 25% de queda”, projetando um possível desbalanço na balança comercial e paralisia em setores afetados. Embora economistas acreditem em um “efeito limitado no que a gente chama de macroeconomia” no curto prazo, há preocupação com o impacto em expectativas, câmbio e preços.

Diante desse cenário, o governo brasileiro prepara um “arsenal” de medidas para mitigar os prejuízos, incluindo a concessão de crédito para empresas e a possível retomada de programas de manutenção de emprego. Além disso, há tentativas de negociação para que pelo menos as exportações intercompanhias americanas sejam liberadas, dado que “30% das exportações brasileiras são feitas entre companhias americanas”, ou seja, com matriz nos EUA e filial no Brasil. A insatisfação dos empresários com a gestão da crise é notável, com a sensação de que o presidente Lula inviabilizou o trabalho de seu vice.

A perspectiva de Washington: sanções, justificativas e questionamentos
Em Washington, o tom é de pouca esperança para um acordo antes de 1º de agosto. Donald Trump estaria preparando novas bases legais, via International Economic Emergency Powers Act (IEEPA), para aplicar as tarifas de 50%. A justificativa política para tal medida seria a “alegação política de que existe uma perseguição judicial e do governo brasileiro contra o ex-presidente Jair Bolsonaro”. Essa abordagem difere do modelo usual, que prevê tarifas de até 10% para países com superávit comercial com os EUA.

Além das tarifas, o plano de Trump inclui “retirar o visto para o entorno do presidente Lula”, poupando-o e à primeira-dama, e “fazer as sanções financeiras, econômicas contra os juízes do STF que votaram a favor das punições para o ex-presidente Jair Bolsonaro”. Essas sanções poderiam envolver o congelamento de bens e ameaças a instituições que se relacionem com os ministros. A escalada prevê, em última instância, o descredenciamento do embaixador brasileiro em Washington e a suspensão das relações, com o Brasil sendo um “laboratório” para esse tipo de tratamento, seguido por Colômbia e México.

Apesar da rigidez da Casa Branca, existem questionamentos sobre a base jurídica do IEEPA para elevar tarifas, com ações judiciais já em curso nos EUA. Há a percepção de que a investigação pela Seção 301, um mecanismo mais lento, é um “plano B” caso o IEEPA não se sustente.

Minerais críticos como moeda geopolítica pode distender impasse
Um ponto de possível negociação, embora de longo prazo, são os minerais críticos e terras raras. Os Estados Unidos demonstram grande interesse em reduzir sua dependência da China, que concentra a produção e o refino desses materiais estratégicos para “energia verde, carros elétricos e até na zona e presente as telas de celular”, indústria bélica e aeroespacial. O Brasil, detentor da segunda maior reserva mundial de terras raras, mas com baixa produção, poderia se tornar um parceiro.

O diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Raul Jungmann, confirmou o interesse americano, mas ressalta que a exploração deve seguir as leis brasileiras, não permitindo que estrangeiros explorem diretamente, mas sim via joint ventures ou acordos de tecnologia. Ele destaca que o refino é “muito caro, ele é muito complexo, ele exige muita tecnologia e recursos”, necessitando transferência de tecnologia para acelerar a produção.

No entanto, a questão dos minerais críticos é geopolítica. A China já utilizou o controle sobre esses minerais como arma em guerras tarifárias, e qualquer compromisso do Brasil de direcionar exportações para os EUA poderia provocar forte reação chinesa. A discussão transcende a bilateralidade, com países do G7 também focados na segurança do fornecimento de minerais estratégicos, evidenciando uma preocupação global com a “necessidade de relocalização de diversas cadeias produtivas”.

A relação entre Trump e Bolsonaro é vista como um fator complicador crucial. Christopher Garman, da empresa de risco político Eurasia Group, observa que “o presidente Trump se enxerga no drama do ex-presidente Jair Bolsonaro”, identificando-se com a narrativa de perseguição judicial e censura. Essa “visão já mais consolidada” de Trump dificulta as negociações no curto prazo, pois ele não vê espaço para “cantar de vitória” sobre medidas do governo brasileiro que cedam a suas demandas.

No plano interno, a estagnação do Projeto de Lei 2780, que propõe uma política nacional de minerais críticos, há um ano no Congresso, é um sintoma da “invisibilidade” do setor de mineração no Brasil. Essa falta de prioridade estatal em uma área “4% do PIB nacional e 10% do PIB industrial” contrasta com a urgência da agenda geopolítica global.

Prognóstico piorou após declarações provocativas de Lula
A crise do tarifaço é tratada como “um jogo de truco imaginário” pelo presidente brasileiro, portanto, é um complexo entrelaçamento de política interna, economia e geopolítica. A aposta do governo Lula em transformar a crise em oportunidade política, a intromissão do bolsonarismo nas negociações, a ameaça de sanções americanas sem precedentes, e a potencial (mas distante) solução via minerais críticos, tudo aponta para um cenário de alta volatilidade. O Brasil se vê em um embate onde, sendo a parte mais fraca militar, econômica e geopoliticamente, a saída pode depender tanto da pressão do setor privado americano quanto de uma recalibração da própria estratégia brasileira para evitar danos de longo prazo.

Reportagem: Val-André Mutran é repórter especial para o Portal Ver-o-Fato e está sediado em Brasília.

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