A estrada, a praia e o paraense nu

10 da manhã, o Terminal Rodoviário de Belém está fervendo de férias. Gente com o passo rápido, malas de rodinha e isopor são marcantes no cenário. Eu, preocupado de não chegar no embarque e preocupado por ir. Até João Pessoa(PB) são mais de 2 mil quilômetros, 43 horas de viagem, sem farinha da baguda ou farofa, dormindo mal e sem banho. Tem que valer a pena não pagar R$ 500 de diária em Salinas para pagar R$120 no nordeste brasileiro.

Na estrada aprendemos que não é só o Rio Gurupi ou a paisagem com as matas de cocais que nos informa que saímos do Pará e já estamos pelo Maranhão. No Pará, um pedaço de carne, três grãos de arroz, algumas petecas de feijão e um cheiro de farofa, é certeza que dará mais de 50 reais. Já no Maranhão, 25, fora o suco de cajá – apelido dado ao taperebá.

Por outro lado, é marcante que a chegada no Maranhão se traduz em estradas horríveis. Olha que pra um paraense reclamar de buraco na via, é porque realmente a estrada é lunar. Converse com qualquer caminhoneiro e ele dirá: um estado tão bonito, que já teve um presidente do Brasil, agora tem um ex governador no STF, mas tão abandonado. Com certeza essa viagem vai dar dois dias, isso se não quebrar antes nessa buraqueira.

No Ceará, alívio. A estrado é um tapete. Piauí o mesmo, mas nada de alívio….pois pensa no calor da moléstia, como eles dizem. Olha que pra um paraense falar de calor…

Quase dois dias depois, depois de muitos sotaques, um sertão verde por conta da sua rara temporada de chuvas e muitos banheiros duvidosos, cheguei em João Pessoa. Prontamente o algoritmo do Instagram trata insistentemente me mandar tudo que é paraibano, é assustador! Depois de muito ser perseguido pelas propagandas, decidi por um passeio nas principais praias do litoral sul. O pensamento que ameniza o gasto: – é mais barato que salinas!

O paraibano sabe vender suas paisagens. De humor em humor, apanha mais turistas para os inúmeros passeios que eles inventam. O preço é justo, a lábia é boa, mas fiquei pensando que não faz muito sentido pagar pra ver um caranguejo manso na cabeça dos outros, ou nadar no meio de peixes que brigam por rações vendidas pelos guias. E o coqueiro em cima de uma pedra? A praia é impossível de tomar banho, tem muitas pedras e preços que destoam, mas tem o coqueiro que serve para tirar foto e publicar no grupo da família.

Descobri que não era só isso: na mesma praia, após uma intensa vegetação, havia um portal de acesso ao reino dos pelados, uma praia de naturismo. Longe da minha cidade, depois de quase dois dias sem dormir e querendo aproveitar tudo, é lógico que eu ia me meter nessa indecência travestida de good vibes.

Chegando próximo ao portal, a tensão vai aumentando, seu cérebro tenta lhe proteger da humilhação e lhe impõe mil desculpas pra não ir, principalmente aquela que você homem sabe qual é. Mas só fui e de tanto ir, já estava na porta do paraíso. Lá havia uma mulher – vestida – que dá algumas dicas e fala das regras, bem natural, como se fosse uma farmacêutica. Ok, vamos nessa. Um paraense nu.

Você tira a roupa e sente que todos vão te olhar e julgar cada imperfeição do seu corpo, mas ao ver o primeiro casal, você percebe não só que não é o único imperfeito, como também que ninguém liga. Depois de 5 minutos, você performa um indígena em 1500 e esquece que existe roupa. O interessante – eu acho – é que você conversa normalmente com as pessoas, enquanto uma giromba ou peitos bem vivos te olham sem se importar.

Aliás, ô coisa feia é um pênis, por que Deus nos fez assim? Ali você percebe que nem a diversidade nos favorece.

Melhor eu ir embora. É até legal, mas meia hora de naturismo já está bom demais, só pra não dizer que nunca fiz coisas estranhas na vida. O paraense, com barriguinha da farinha, não tem toda essa autoestima.

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