Bomba de Trump cai sobre açaí do Amapá: exportação é suspensa

Enquanto isso, o presidente Lula dobra a aposta, desafia o presidente dos EUA e promete retaliação, taxando produtos americanos

A bomba ainda nem explodiu, mas os estilhaços já atingem duramente a economia amazônica. O tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra produtos brasileiros só entra em vigor no dia 1º de agosto, mas seus efeitos antecipados já estão sendo sentidos — com força — por pequenos produtores do Norte do Brasil.

A maior cooperativa de extrativistas de açaí do Amapá, a Amazonbai, anunciou esta semana o cancelamento de uma remessa de 1,5 tonelada de açaí que seria enviada aos EUA. O prejuízo calculado chega a R$ 480 mil. Segundo a cooperativa, o motivo foi direto: a medida protecionista de Trump, que praticamente inviabiliza a competitividade do produto brasileiro no mercado norte-americano.

Açaí parado, prejuízo certo

A Amazonbai, que reúne 151 extrativistas do arquipélago do Bailique e da região da “beira Amazonas”, em Macapá, vinha enviando dois tipos de açaí para os EUA: a polpa congelada, vendida a US$ 5 o quilo (R$ 27,69), e o liofilizado (em pó), com valor de até US$ 60 o quilo (R$ 332,25). Com a nova tarifa, os produtos brasileiros perdem espaço frente a concorrentes globais.

O presidente da cooperativa, Amiraldo Picanço, explicou que o açaí em pó começou a ser exportado em novembro de 2024, com alta aceitação. A polpa, por sua vez, teve os primeiros testes de mercado em 2023 e ganhou ritmo em 2024. Até agora, quatro remessas foram enviadas. A quinta, que sairia em julho, foi abortada.

“Com essa tarifa, a gente simplesmente fica fora do jogo. Estamos agora estocando o que podemos, encerrando a safra do açaí no Amapá, e buscando alternativas na Europa, no norte da África e na Ásia. O Brasil não pode ficar refém do mercado americano”, disse Amiraldo.

O tarifaço do lourão

No último dia 9 de julho, Trump oficializou a medida, com uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele alegou que a imposição tarifária de 50% se devia a “relações comerciais ruins” com o Brasil e outros países. “Apenas dissemos: vão pagar 50%. E é isso”, declarou o presidente norte-americano em evento em Washington, no dia 24.

Além do Brasil, outras nações foram incluídas na lista negra de Trump: Mianmar (40%), Laos (40%), Camboja (36%) e Tailândia (36%). O Brasil, no entanto, foi o mais atingido com a alíquota máxima.

Segundo o vice-governador do Amapá, Teles Jr., a medida obriga o país a reagir com inteligência e cautela. “Se formos aplicar reciprocidade, encarecemos produtos importados dos EUA. Mas o fato é que compramos mais de lá do que vendemos pra lá. Temos que buscar novos parceiros comerciais e não depender de uma economia volátil como a americana”, disse ele, lembrando que China, Canadá e União Europeia também enfrentaram tarifações e contornaram as crises com diplomacia e diversificação de mercados.

A economia amapaense depende do açaí

Segundo dados do IBGE de 2024, o açaí é motor da economia do Amapá. O estado produziu 22 mil toneladas do fruto em 1.760 hectares de área plantada, gerando R$ 65 milhões. O consumo local também é intenso: 500 toneladas são consumidas pelos próprios amapaenses. É um produto vital, tanto cultural quanto economicamente.

Mas a dependência do mercado norte-americano, agora em xeque, mostra a fragilidade do extrativismo amazônico frente a decisões unilaterais do poder internacional.

Enquanto o presidente Lula evita falar em “guerra comercial” e pede calma, na ponta da cadeia produtiva, o prejuízo já é real. Para os ribeirinhos da Amazônia, o tarifaço de Trump já começou — mesmo sem ainda estar valendo.


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