Taxação de 50% sobre produtos brasileiros, que entra em vigor em 1º de agosto, é vista como retaliação ao processo judicial contra Bolsonaro; STF denuncia abuso de poder e interferência
Reportagem Sandra Venancio – Foto Marcelo Camargo/Agencia Brasil
A poucos dias da entrada em vigor do tarifaço anunciado por Donald Trump, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, desembarcou neste domingo (27) nos Estados Unidos para tentar conter a pior crise comercial entre os dois países em décadas. A medida do presidente republicano impõe uma taxação de 50% sobre produtos brasileiros, com início previsto para 1º de agosto, e tem sido interpretada como uma retaliação direta ao processo judicial que tornou Jair Bolsonaro réu por tentativa de golpe de Estado em 2022.
Clique aqui para fazer parte da comunidade do Jornal Local de Campinas no WhatsApp e receber notícias em primeira mão.
A visita de Mauro Vieira ocorre em meio a um cenário delicado para a diplomacia brasileira. Desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) avançou no julgamento dos envolvidos na trama golpista que visava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, tem subido o tom contra o Brasil, chamando as investigações de uma “caça às bruxas” e acusando a Justiça brasileira de perseguir Bolsonaro — seu aliado político mais próximo na América Latina.
A retaliação anunciada por Trump foi recebida com forte preocupação no Itamaraty e entre empresários brasileiros, que temem os impactos imediatos sobre setores como o agronegócio, siderurgia e manufaturados. Estimativas preliminares apontam que a taxação pode causar prejuízo bilionário nas exportações brasileiras, agravando o já instável cenário econômico internacional.
Fontes do governo brasileiro classificam a medida como abuso de poder e tentativa explícita de interferência em assuntos internos do Brasil, violando os princípios da soberania nacional e da não ingerência externa. O STF, por sua vez, não se pronunciou oficialmente sobre as declarações de Trump, mas ministros ouvidos reservadamente veem a ação como um grave ataque à independência do Judiciário.
Durante a viagem, Mauro Vieira deve se reunir com autoridades do Departamento de Estado e com representantes da ONU e da OMC para denunciar o caráter político da sanção econômica e buscar apoio internacional. A estratégia do Brasil inclui ainda consultas ao painel de disputas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e articulação com outros países afetados por políticas comerciais unilaterais da atual gestão republicana.
Nos bastidores, diplomatas avaliam que o gesto de Trump não tem apenas motivação econômica, mas também interesse eleitoral. O republicano tenta reforçar sua base conservadora às vésperas das eleições presidenciais nos EUA, usando o apoio a Bolsonaro como símbolo de sua cruzada contra governos progressistas e instituições judiciais que considera adversárias.