Conselho de medicina proíbe anestesia em procedimentos de tatuagem

O CFM (Conselho Federal de Medicina) proibiu médicos de realizarem qualquer tipo de procedimento anestésico para tatuagens. A resolução 2.436/2025, publicada nesta 2ª feira (28.jul.2025) no DOU (Diário Oficial da União), estabelece exceção para as intervenções estéticas com finalidade reparadora com indicação médica. Eis a íntegra (PDF – 103 kB).

A medida veda especificamente a sedação, anestesia geral e bloqueios anestésicos periféricos para tatuagens.  Não há distinção em relação ao tamanho ou ao local em que o desenho seria feito. A norma entrou em vigor na data de publicação.

Para o presidente do CFM, José Hiran Gallo, a medida visa proteger a segurança dos pacientes e preservar os princípios éticos da medicina. “A decisão do CFM reafirma o compromisso da autarquia com a ética médica, a segurança do paciente e o respeito aos limites legais da atuação profissional”, disse.

A proibição não se aplica à intervenção com sedação destinada a viabilizar tatuagens com indicação médica para fins reparadores. Um exemplo seria a reconstrução de aréolas mamárias depois de mastectomia –cirurgia para a retirada da mama, uma das formas de tratamento de câncer na região.

Médicos que descumprirem a determinação estarão sujeitos às sanções previstas pelo CFM.

O conselheiro federal Diogo Sampaio, observa que a realização de tatuagens tem crescido exponencialmente, fenômeno acompanhado pela participação crescente de médicos, em especial anestesiologistas, no uso de agentes anestésicos para viabilizar analgesia em tatuagens extensas ou em áreas sensíveis.

“A participação médica nesses contextos, especialmente envolvendo sedação profunda ou anestesia geral para a realização de tatuagens, configura um cenário preocupante, pois não existe evidência clara de segurança dos pacientes e à saúde pública. Ao viabilizar a execução de tatuagens de grande extensão corporal, que seriam intoleráveis sem suporte anestésico, a prática eleva demasiadamente o risco de absorção sistêmica dos pigmentos, metais pesados (cádmio, níquel, chumbo e cromo) e outros componentes das tintas”, declarou.

Segundo ele, esses metais têm efeitos tóxicos cumulativos que ainda não estão totalmente elucidados, como:

  • migração linfática de pigmentos com retenção em linfonodos;
  • toxicidade crônica;
  • reações inflamatórias persistentes;
  • granulomas;
  • alergias retardadas;
  • possível risco carcinogênico.

ANESTESIA E TATUAGEM

O uso de anestesia durante as sessões de tatuagem ganhou notoriedade no início deste ano. No dia 20 de janeiro, o empresário e influenciador catarinense Ricardo Godoi morreu depois de se submeter à anestesia geral para a realização de uma tatuagem nas costas. Ele teve uma parada cardiorrespiratória no hospital em Itapema (SC).

O tatuador ainda não havia iniciado o procedimento estético quando o influenciador morreu. Além de Ricardo, outros influenciadores e celebridades passaram pelo mesmo procedimento, como Rafaella Santos, irmã de Neymar e influenciadora digital, e MC Cabelinho, funkeiro e ator.

O CFM estabelece condições mínimas de segurança para a prática anestésica, e determina que anestesia ocorra exclusivamente em estabelecimentos assistenciais de saúde que disponham de infraestrutura adequada para o atendimento imediato de intercorrências.

“Os ambientes onde tatuagens são usualmente realizadas com fins não médicos, via de regra, não cumprem esses requisitos mínimos, sendo desprovidos das condições materiais e humanas indispensáveis à segurança do ato anestésico”, afirmou Sampaio.