Material extraído pela PF mostra como o ex-presidente manteve contato com parlamentares, empresários e aliados para seguir politicamente ativo no governo Lula
Reportagem Sandra Venancio – Foto Rafa Neddermeyer/Agencia Brasil
Diálogos inéditos extraídos do celular do ex-presidente Jair Bolsonaro, apreendido pela Polícia Federal em maio de 2023, revelam os bastidores de sua atuação política mesmo após deixar a Presidência. O conteúdo mostra como Bolsonaro se articulava com aliados no Congresso, empresários e outros contatos estratégicos para manter influência e se manter relevante durante o governo Lula. A defesa do ex-presidente não comentou o caso.
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O material analisado pela Polícia Federal é resultado da apreensão do celular de Bolsonaro em 3 de maio de 2023, durante a operação que investigou fraudes em certificados de vacinação contra a Covid-19. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, que teve acesso exclusivo aos arquivos, o acervo inclui 7.268 itens, entre mensagens de WhatsApp, áudios, vídeos e documentos.
As conversas revelam que Bolsonaro mantinha contato regular com parlamentares da base conservadora, repassando orientações, articulando votações e promovendo discursos contra medidas do governo Lula. Há também registros de trocas diretas com empresários do setor do agronegócio, da comunicação e da indústria, nos quais o ex-presidente buscava apoio logístico e financeiro para manter ativa sua base política e digital.
Os arquivos indicam ainda tentativas de articulação internacional e aproximações com grupos religiosos e policiais militares, setores-chave de sua base. Em algumas mensagens, Bolsonaro se refere diretamente ao Supremo Tribunal Federal e à Polícia Federal, demonstrando preocupação com os inquéritos em curso e sugerindo estratégias de blindagem jurídica e política.
Apesar de não exercer cargo público, Bolsonaro demonstrava, nas mensagens, intenção de permanecer como liderança política central da oposição. Ele também comentava ações do governo Lula com críticas frequentes, e reforçava a narrativa de que estaria sendo perseguido por instituições brasileiras, o que ecoava entre seus apoiadores.
A Polícia Federal ainda analisa o conteúdo em detalhes e deve anexar parte dos arquivos a inquéritos já em andamento no STF, incluindo os que investigam a tentativa de golpe de Estado, as fake news, e as articulações paralelas ao governo institucional.
A defesa de Jair Bolsonaro foi procurada, mas preferiu não se manifestar sobre o conteúdo do celular e seu possível uso como prova em ações judiciais.