EUA intensificam caçada a Nicolás Maduro, enquanto oposição clama por resistência interna
Brasília – O regime da Venezuela enfrenta nas últimas semanas pressões externas sem precedentes e uma crescente mobilização da oposição interna. O presidente Nicolás Maduro e seu círculo mais próximo estão sob o mais forte escrutínio e sanções dos Estados Unidos, que os acusam de narcoterrorismo, enquanto figuras como María Corina Machado, lidera a oposição num país sufocado pela corrupção e crimes contra os direitos humanos. As vozes contra Maduro clamam por uma “organização clandestina” para desafiar o regime chavista.
O cerco financeiro e judicial de Washington a Caracas ganhou uma nova dimensão. A Administração de Repressão às Drogas dos Estados Unidos (DEA), em um anúncio veiculado na segunda-feira (29), em sua conta no X (antigo Twitter), ofereceu uma recompensa de até US$ 25 milhões (equivalente a cerca de R$ 140 milhões) por informações que levem à prisão ou condenação de Nicolás Maduro. As acusações são severas: conspiração a favor do narcoterrorismo, importação de cocaína e uso de metralhadoras em apoio a crimes relacionados a drogas.
A ofensiva não se restringe a Maduro. Os ministros Diosdado Cabello Rondón (Interior, Justiça e Paz) e Vladimir Padrino López (Defesa), ambos membros do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), também foram incluídos na lista de procurados. As recompensas por Cabello chegam a US$ 25 milhões e por López, a US$ 15 milhões, equiparando os valores a figuras históricas de alta periculosidade, como Osama bin Laden, líder da Al-Qaeda, assassinado por um Comando Especial do exército norte-americano em seu esconderijo, no Paquistão, em 2 de maio de 2011, após os. múltiplos atentados terroristas de 2000 em solo americano.
O fundamento para tais ações contra os “cabeças” no regime de Maduro reside na classificação, pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro dos EUA, do “Cartel de los Soles” como uma entidade de terrorismo global, com Maduro apontado como seu líder. Segundo o OFAC, esse grupo, composto por altos funcionários do governo venezuelano, fornece “apoio material” a organizações terroristas estrangeiras como a venezuelana Trem de Aragua e a mexicana Cartel de Sinaloa, que “ameaçam a paz e a segurança” dos EUA. O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, declarou que essa ação expõe “ainda mais a facilitação do narcoterrorismo pelo regime ilegítimo de Maduro por meio de grupos terroristas como o Cartel de los Soles”. As acusações são de que Maduro “corrompeu as instituições do governo” para apoiar financeiramente e materialmente esses grupos criminosos, auxiliando no tráfico de drogas como fentanil, metanfetamina e cocaína para os Estados Unidos. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, reiterou as acusações, afirmando que Maduro “não era presidente da Venezuela e que seu governo não era legítimo”, e que ele “está sendo processado por traficar drogas para os Estados Unidos”.
Diante dessas acusações, o governo venezuelano mantém sua postura de negação, classificando as medidas como uma “ofensiva política” de Washington com o objetivo de desestabilizar o país sob o pretexto de combater o narcotráfico. Maduro e seus aliados alegam que os processos têm motivação ideológica.
Paralelamente à pressão externa, a oposição venezuelana intensifica sua mobilização interna. A líder opositora María Corina Machado convocou, em 28 de julho, uma “organização clandestina” contra o regime de Maduro. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, Machado lançou um desafio direto: “Maduro, você que tem tanto medo de ser invadido, as forças que vão tirá-lo do poder já estão aqui, dentro da Venezuela, e somos milhões”, desafiou.
A convocação de Machado ocorre em um cenário de profundas tensões eleitorais. As eleições presidenciais de 28 de julho de 2024, que proclamaram Maduro vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), são amplamente contestadas. A oposição, liderada por Machado, denuncia fraude eleitoral e insiste que o verdadeiro vencedor é o candidato Edmundo González Urrutia. Observadores eleitorais também apontaram indícios de fraude, destacando a não publicação das atas eleitorais pelo CNE, sob a alegação de um ataque hacker. Em resposta à crescente oposição, autoridades venezuelanas acusaram María Corina de liderar conspirações, o que resultou na detenção de quase mil pessoas, incluindo dirigentes muito próximos a ela, desde a eleição do ano passado.
Apesar dos apelos por abstenção e boicote feitos pela oposição em pleitos anteriores, como a renovação do Parlamento e a eleição de prefeitos, o chavismo tem obtido vitórias esmagadoras. Contudo, Machado continua a pedir apoio dos militares, embora um oficial da reserva tenha expressado que um cenário de insurreição é improvável devido ao “grau de medo” existente nas fileiras. Em entrevista recente ao jornal El País, Machado afirmou que “o único que resta a Maduro é o terror” e que a “luta pela liberdade é irreversível”, demonstrando confiança no colapso iminente do regime chavista.
O cenário venezuelano é ainda mais complexo devido ao crescente isolamento internacional. Os Estados Unidos e a União Europeia têm imposto novas sanções a diversos funcionários chavistas, resultando no congelamento de ativos e em restrições de viagens. Em 10 de janeiro de 2025, sanções europeias atingiram 15 altos funcionários venezuelanos, incluindo juízes e membros das forças de segurança, por “minar a democracia e violar direitos humanos”.
Em suma, a Venezuela vive um período de intensa confrontação, com uma ofensiva externa coordenada por Washington e uma mobilização interna da oposição, ambas buscando uma mudança de rumo para o país. O governo de Maduro, por sua vez, defende sua legitimidade e atribui as pressões a motivações ideológicas, enquanto a nação permanece em um estado de incerteza política.
Reportagem: Val-André Mutran é repórter especial para o Portal Ver-o-Fato e está sediado em Brasília.
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