Lula cobra União Brasil e expõe fraqueza da coalizão no Congresso

Com três ministérios sob risco, partido ensaia desembarque e intensifica movimento de oposição antes das eleições de 2026

Brasília – Não foi amistosa a reunião, na terça-feira (29), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com três de seus ministros filiados ao União Brasil. As críticas de Lula se concentraram na falta de coesão dos ministros e na ambiguidade dos líderes do União Brasil, que, mesmo ocupando ministérios, frequentemente se alinham à oposição em discursos e votações. No episódio mais recente, Lula expressou desagrado com declarações públicas do presidente nacional da sigla, Antônio Rueda, e do líder no Senado, Efraim Filho, que se mostraram críticos ao governo, questionando, inclusive, ações internacionais, como o “tarifaço” imposto pelos EUA a produtos brasileiros.

Na mesa, estavam os ministros do Turismo, Celso Sabino, das Comunicações, Frederico Siqueira Filho, e Integração Nacional, Waldez Góes, que ouviram de Lula, “que essas atitudes geram instabilidade e corroem a confiança na coalizão, alimentando a percepção de que a presença de partidos na Esplanada não garante fidelidade no Congresso”.

O presidente vê nesses episódios não apenas uma ameaça à governabilidade imediata, mas também uma manobra eleitoral do União Brasil para se posicionar como centro-direita viável na disputa de 2026.Os três ministros reafirmaram apoio ao presidente e expressaram desejo de permanência nos cargos. Eles destacaram que as posições críticas partem da cúpula partidária e não refletem unanimidade interna.

O presidente nacional do União, Antônio Rueda, e o líder do partido no Senado, Efraim Filho mantêm uma postura crítica ao governo petista. Efraim anunciou a entrega de cargos após se aproximar da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e declarou-se “independente”, sinalizando fissuras internas profundas no partido e favorecendo sua estratégia eleitoral.

Sinal de alerta
O clima de cobrança pública e as críticas escancaradas ameaçam a estabilidade já frágil da coalizão governista. Caso o União Brasil decida formalizar seu desembarque, o governo Lula perderá um dos maiores partidos de sua base, impactando diretamente na aprovação de projetos estratégicos e exacerbando o poder de barganha do chamado “Centrão”. Além disso, as tensões podem estimular um realinhamento partidário já de olho nas eleições de 2026, com blocos mais polarizados e aumento da dinâmica do “toma lá, dá cá”, maior ativo na política brasileira.

A instabilidade na relação com o União Brasil pode resultar em obstáculos concretos para a tramitação de reformas e projetos prioritários no Congresso. O Executivo pode ser forçado a ampliar negociações com outros partidos, o que implica mais concessões e lentidão legislativa. Para além do curto prazo, a crise expõe a volatilidade das coalizões brasileiras, evidencia a necessidade de reformas políticas para garantir maior estabilidade e desperta receios sobre a capacidade do governo federal de cumprir seu programa sem alianças sólidas.

A situação do União Brasil não é isolada, o PP, partido a qual é filiado o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (AL), sinaliza que desembarca do governo na virada do ano.

Embora o União já tenha um pré-candidato para 2026, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, os ministros sinalizaram disposição deles, individualmente, em apoiar Lula na disputa presidencial. Apesar dos três ministérios, o União tem votado contra os interesses do Planalto no Congresso Nacional.

Lula quer organizar outra reunião com o partido em agosto, dessa vez com a presença do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), dos líderes da sigla na Câmara, Pedro Lucas, e no Senado, Efraim Filho, para questionar novamente se haverá ou não desembarque da sigla. O Planalto também quer a participação de Rueda no próximo encontro.

Mais cedo, também na terça-feira, Lula já havia feito uma rodada de conversa semelhante com ministros do MDB e lideranças da legenda. Esse encontro, no entanto, ocorreu em tom diferente que o do União Brasil. De acordo ministros presentes, não houve cobranças e foi uma conversa sobre avaliação de cenário e projeção do futuro para 2026. O governo tem três ministros da MDB: Simone Tebet (Planejamento), Jader Filho (Cidades) e Renan Filho (Transportes), os três já declararam publicamente apoio a Lula nas eleições do ano que vem.

Diversas perspectivas políticas enxergam esses movimentos tanto como reação natural das disputas pelo poder quanto como sinal de maturidade de uma oposição que tenta romper a lógica do loteamento ministerial em prol de maior independência programática. Para o governo, o quadro é de alerta máximo—qualquer novo desgaste pode ser explorado eleitoralmente e dificultar ainda mais a governabilidade.

Na próxima semana, institutos de pesquisa começam a medir os efeitos do tarifaço de Trump sobre a economia brasileira, e as perspectivas de melhora na aprovação do governo Lula, serão observadas com lupa pelos atuais aliados.

Reportagem: Val-André Mutran é repórter especial para o Portal Ver-o-Fato e está sediado em Brasília.

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