COP 30 em Belém sob ataque: aluguéis despencam e mentiras sobem

Cidade tem mazelas, sim, mas nada diferente de outras grandes capitais, inclusive no saneamento. Velha imprensa que recebe milhões em propaganda sobre o evento, morde e assopra

Uma reunião de emergência realizada pelo bureau climático da Organização das Nações Unidas (ONU), no começo desta semana expôs um movimento articulado que ameaça o papel de Belém como sede da COP 30, marcada para novembro próximo. A cidade amazônica, que se preparou intensamente para receber um dos maiores eventos globais sobre mudanças climáticas, virou alvo de uma campanha internacional – em parte alimentada por desinformação – que tenta descredenciá-la para o protagonismo que conquistou.

A reunião foi convocada após pressões de países, especialmente do chamado Sul Global, que alegaram dificuldades com os preços de hospedagem em Belém. Segundo o jornal britânico The Guardian, delegações de países africanos, caribenhos e até europeus expressaram preocupação com tarifas que chegariam a US$ 700 por noite. As reclamações fizeram com que o Brasil se comprometesse a apresentar uma resposta detalhada até o próximo dia 11 de agosto.

Contudo, apurações do portal Ver-o-Fato indicam que os supostos problemas com hospedagem estão sendo amplificados por um esquema maior, que teria como objetivo fragilizar a imagem de Belém e, por tabela, transferir partes importantes da conferência para capitais do centro-sul do país, com maior poder político e estrutura tradicional de eventos.

O esquema envolveria setores do próprio governo federal, pressionado por alas da ONU e por ativistas que operam politicamente sob a bandeira ambientalista. Alegando supostos “valores exorbitantes” nos aluguéis e diárias hoteleiras, esse grupo defende, nos bastidores, que cerimônias e atividades centrais da COP 30 sejam deslocadas para São Paulo, Brasília ou Rio de Janeiro.

Qual o objetivo disso? Centralizar novamente a vitrine midiática, o networking diplomático e os dividendos econômicos longe da Amazônia.

Na semana passada, a Rede Globo, que hoje fatura bilhões do governo federal em campanhas institucionais – inclusive sobre a própria COP 30 – exibiu um programa com imagens de áreas de Belém marcadas por pobreza e precariedade urbana. A reportagem omitiu, no entanto, que situações semelhantes se repetem em praticamente todas as grandes cidades brasileiras, incluindo capitais como São Paulo e Rio, onde o saneamento básico ainda é um desafio crônico.

Para analistas locais, a produção da Globo pareceu sincronizada com o esforço de criar, fora do Pará, a imagem de que Belém não estaria pronta para sediar a conferência. Um coro ao discurso de que falta “estrutura” para receber o evento – a pouco mais de três meses de sua realização –, mesmo com mais de R$ 8 bilhões investidos em melhorias urbanas na capital paraense, das quais 90% das obras já estão concluídos, incluindo mobilidade, saneamento, requalificação de vias, parques e áreas de convivência.

A verdade sobre a hospedagem em Belém

Apesar do alarde, os preços de hospedagem e aluguéis em Belém e na Região Metropolitana caíram significativamente nas últimas semanas. As imobiliárias contratadas para intermediar locações e hospedagem – em parceria entre a ONU e o governo federal –, porém, não vieram até agora a público confirmar essa queda, o que levanta questionamentos sobre a transparência no processo.

Por que essas empresas não informam ao mundo, com dados concretos, que apartamentos amplamente divulgados como custando “R$ 2 milhões” por quinze dias são escassas exceções fora da realidade? E por que a mídia sulista insiste em vender ao público internacional que esse é o padrão de preço na capital amazônica, reforçando uma narrativa de exclusão de Belém que já não se sustenta nos fatos?

A verdade, sonegada do grande público, é que essas imobiliárias escondem um faturamento de até 30% sobre os valores da locação, amarrando os interessados, donos de apartamentos e casas, às suas regras, na base do “pegar ou largar”.

Tão perverso quanto isso é a postura do governo federal, que não abre mão da cobrança de 27,5% de imposto de renda dos que fecharem os contratos. Ou seja, ao fim e ao cabo, só a título de exemplo, quem alugar seu imóvel por R$ 100 mil pela temporada da COP30, pagará 30% de comissão para as imobiliárias, sobrando o valor bruto de R$70 mil, do qual levará a “facada” do imposto de renda do governo federal, restando ao locatário 50,75% do valor contratado.

Dos R$ 100 mil, no final, sobrarão R$ 50.750 aos donos dos imóveis. Em resumo: parte quase igual da loção irá para os cofres dos tubarões privados e públicos.

Para piorar tudo, a plataforma internacional contratada pelo governo federal para centralizar todas as hospedagens, a Bnetwork, ainda cobrará 10% de comissão, majorado sobre todo o valor final das transações fechadas.

E tem mais

A plataforma internacional foi orientada pelo governo federal a cadastrar para locação por temporada somente através de imobiliárias, em lotes mínimos de 100 unidades, ou seja, acabou obrigando que os preços dos imóveis de locação por temporada carreguem no preço final, as taxas de 10% de intermediação da própria plataforma e os 30% das imobiliárias.

O resultado geral é que o próprio governo federal acabou inflacionando o preço geral de todas as hospedagens, pois nem cogitou a possibilidade de abrir mão dos 27,5% de IR dos proprietários de imóveis. Com isso, estimulou a desconfiança internacional em todas as outras possibilidades de locações através de outras plataformas de hospedagens, como Air BnB e Booking.

Belém está pronta — e é única

Belém é, sim, diferente. E é essa diferença que incomoda. É uma capital encravada na Amazônia, com cultura própria, povo acolhedor e generoso, riquíssima gastronomia reconhecida mundialmente — basta lembrar os prêmios da culinária paraense —, além de um patrimônio histórico vibrante e hospitalidade que transcende a estrutura hoteleira.

A escolha por Belém não foi um acidente: foi um aceno político e simbólico à floresta e aos povos que dela cuidam e que talvez sequer sejam ouvidos pelos donos do mundo. Ao transformar Belém no centro do debate climático global, a COP 30 tem o poder de desconcentrar a geopolítica ambiental do eixo tradicional e colocar os olhos do mundo diretamente sobre a Amazônia. Por isso, resistências surgem.

A três meses da COP 30, a cidade já provou que tem condições técnicas, culturais e humanas para sediar o evento. O que falta, talvez, seja apenas o reconhecimento daqueles que ainda não entenderam — ou não querem aceitar — que a Amazônia também sabe liderar.

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