Hospedagem em Belém vira impasse às vésperas da COP30, mas governo reafirma sede e busca soluções
Hospedagem em Belém: Preços abusivos geram pressão internacional
Faltando pouco mais de três meses para a realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para ocorrer entre os dias 10 e 21 de novembro, a cidade de Belém, no Pará, enfrenta forte pressão internacional relacionada aos preços abusivos de hospedagem. A situação tem gerado preocupação entre representantes de países em desenvolvimento, ameaçando a participação plena de delegações mais vulneráveis no evento.
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, afirmou que estabelecimentos da capital paraense estão cobrando até 15 vezes mais do que o valor normal das diárias. “Há uma sensação de revolta por parte dos países menos desenvolvidos. Os preços em Belém estão completamente abusivos”, declarou em entrevista a correspondentes internacionais. A preocupação foi ecoada por Richard Muyungi, representante dos países africanos, que, em reunião recente do “Bureau da COP”, pediu que o Brasil apresente soluções viáveis até 11 de agosto para garantir acesso à hospedagem a todos os delegados. Muyungi foi direto: “Não estamos prontos para reduzir o número de negociadores”.
A Organização das Nações Unidas também interveio e cobrou do governo brasileiro medidas concretas para evitar que os altos custos de acomodação limitem a participação de países com menor capacidade financeira. Em alguns casos, os preços chegaram a ultrapassar US$ 700 por diária, bem acima do teto de US$ 149 previsto pela ONU para ajuda de custo.
Governo mantém Belém como sede da conferência
Apesar das críticas, o governo federal descartou qualquer possibilidade de alterar a sede da conferência. A Secretaria Extraordinária da COP30, ligada à Presidência da República, afirmou em nota oficial que “não há a possibilidade da COP30 ou parte da Conferência acontecer fora de Belém”.
Entre as razões para manter a localização estão o simbolismo e a urgência de discutir a crise climática no coração da Amazônia, região fortemente impactada pelas mudanças ambientais e que nunca sediou um evento climático dessa magnitude. A realização da COP30 em Belém é vista como um marco de descentralização dos debates globais, tradicionalmente concentrados no hemisfério norte.
Soluções emergenciais para a crise de hospedagem
Diante da escalada dos preços e da repercussão negativa, autoridades brasileiras anunciaram uma série de iniciativas para ampliar e diversificar as opções de hospedagem. Entre as medidas estão:
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Dois navios de cruzeiro atracados em Belém com capacidade para cerca de 6.000 hóspedes;
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Locação de residências familiares e Airbnbs com valores tabelados;
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Utilização temporária de imóveis do programa Minha Casa, Minha Vida como alojamentos;
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Adaptação de escolas públicas para receber visitantes;
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Lançamento de um portal oficial de hospedagem com tarifas entre US$ 100 e US$ 220 para países em desenvolvimento.
Apesar disso, as soluções ainda enfrentam críticas. Por exemplo, delegações de países como Timor-Leste e outras nações insulares alegam que, mesmo com os esforços recentes, os valores oferecidos pelo portal oficial ainda ultrapassam suas possibilidades orçamentárias. Além disso, outro ponto de tensão envolve a limitação inicial de acesso ao portal a apenas 98 países, o que acabou gerando descontentamento entre outros Estados interessados
Conflito logístico revela tensões políticas e diplomáticas
A discussão sobre os preços, por sua vez, não ocorre em um vácuo político. Por exemplo, a carta enviada por países como Canadá, Noruega e Suíça foi interpretada por alguns setores como reflexo do incômodo com o deslocamento do centro do debate climático global da Europa para a América do Sul. Além disso, no Brasil, a oposição aos governos do presidente Lula e do governador Helder Barbalho também critica a realização do evento na capital paraense, questionando tanto a capacidade logística quanto a segurança da cidade.
Ainda assim, o evento continua mobilizando grandes delegações. Até o momento, países como China, Índia e Reino Unido já garantiram presença, somando cerca de 2 mil representantes no total. Como resultado, estima-se que Belém deva acolher até 50 mil pessoas durante a COP30, incluindo negociadores, jornalistas, líderes indígenas, organizações da sociedade civil e representantes empresariais reforçando, assim, o protagonismo da Amazônia nos debates globais sobre mudanças climáticas.
COP30: um desafio e uma oportunidade histórica
A COP30 será, portanto, um momento crucial para avaliar o progresso das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) até 2035 e, além disso, discutir os caminhos possíveis para limitar o aquecimento global a 1,5 °C. Além disso, há grande expectativa de que a conferência aprofunde os debates sobre financiamento climático, transição energética e o papel dos combustíveis fósseis.
Nesse contexto, o embaixador André Corrêa do Lago defende que o evento fique marcado não apenas pelos desafios logísticos, mas também pela implementação de soluções concretas e pela promoção de uma economia de baixo carbono. Segundo ele, “a forma como o mundo precisa lidar com os fósseis é algo que precisa ser feito na COP30”.
Por outro lado, a realização da conferência na Amazônia impõe desafios concretos; no entanto, também representa uma oportunidade histórica de dar protagonismo a uma região estratégica no combate à crise climática. Embora a questão da hospedagem seja grave, o governo tem enfrentado o problema com respostas institucionais. Resta saber, por fim, se as soluções propostas serão de fato suficientes para garantir uma COP verdadeiramente inclusiva.
Fonte: Estado do Pará Online
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