Com justificativas diversas e silêncios eloquentes, quatro líderes estaduais optam por não comparecer, deixando o campo livre para o “diagnóstico” da popularidade nas ruas
Brasília – Neste fim de semana, a política brasileira testemunha um momento de singular importância, onde o pulso da popularidade será medido nas ruas. Os atos programados em diversas cidades, em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e em oposição ao Supremo Tribunal Federal (STF), configuram-se como um verdadeiro termômetro político. A ausência de figuras-chave, contudo, é o que realmente sublinha a complexidade e as estratégias em jogo. Nem o próprio ex-presidente nem quatro governadores de direita — Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO), Romeu Zema (MG) e Ratinho Jr. (PR) — comparecerão.
A não presença de Jair Bolsonaro, é imposta por medidas protetivas impostas pelo STF, ordenadas pelo ministro Alexandre de Moraes e posteriormente chanceladas pelos demais membros da 1ª Turma. Em outras palavras, um impedimento legal o mantém afastado. Este cenário, por si só, adiciona uma camada de complexidade e simbolismo à manifestação, transformando-a em um teste ainda mais acentuado para o “espólio político” do ex-presidente, uma vez que sua liderança física está ausente do epicentro do movimento.
As justificativas dos governadores, por sua vez, revelam um leque de motivações que vão do pragmatismo à total ausência de explicação.
Tarcísio Gomes de Freitas (SP) – Republicanos: A justificativa oficial para a ausência do governador de São Paulo é um “procedimento de radioablação por ultrassonografia de tireoide” marcado para o domingo, com alta prevista para o mesmo dia e compromissos internos na segunda-feira.
Ronaldo Caiado (GO) – União Brasil: O governador de Goiás adotou uma postura mais explicitamente estratégica, afirmando ter “uma reunião marcada anteriormente” e discordando do “timing” da manifestação. Caiado, que se declarou “100% contra o tarifaço” (em referência às tarifas impostas por Trump aos produtos brasileiros), enfatizou a prioridade na interlocução com o encarregado de negócios do governo dos EUA, Gabriel Escobar, defendendo a necessidade de “evitar novos tensionamentos por ora”. Essa postura sugere uma cautela calculada e um olhar voltado para a estabilidade econômica e diplomática em detrimento da participação em um ato de rua.
Ratinho Jr. (PR) – PSD: A justificativa do governador do Paraná é a de que ele estará “em viagem pelo interior do estado”. Uma explicação direta que, embora não entre em detalhes, cumpre a formalidade.
Romeu Zema (MG) – Novo: O caso do governador de Minas Gerais é o mais notável pela ausência de justificativa. Zema sequer se preocupou em apresentar justificativa, o que pode ser interpretado como uma escolha deliberada de distanciamento ou uma sinalização de que o evento não se alinha às suas prioridades neste momento.
A análise dessas ausências sugere, é que, independentemente das justificativas, o que está em jogo é o futuro do “espólio político do ex-presidente”. A decisão dos governadores, especialmente daqueles que lideram partidos de centro-direita (PSD, Republicanos, União Brasil, Novo), reflete um movimento político arriscado, porém essencial, para o desenho das estratégias visando as eleições de 2026.
O termômetro da popularidade e o “espólio político”
O propósito central desses atos vai muito além de um simples apoio ou protesto. Eles funcionam como um diagnóstico que deverá guiar as estratégias para as eleições de 2026. A centro-direita, sem a presença dos seus principais nomes nas ruas, busca aferir a “temperatura da popularidade” e avaliar a força do sentimento bolsonarista sem a figura central, o que é um movimento audacioso.
A questão do “espólio político do ex-presidente” é um dos eixos mais importantes. Se depender das forças que estão se mobilizando nos bastidores, esse legado dificilmente será entregue a um membro do clã Bolsonaro. Este é um indicativo claro de que, por trás das cortinas, há um jogo bruto de acomodação dessas forças, onde a influência de Jair Bolsonaro será reavaliada e, possivelmente, redistribuída entre outros nomes da centro-direita com vistas ao próximo pleito presidencial. A forma como esses atos se desenrolarem — se resultarem em um “vazio” ou em uma “adesão popular significativa” — determinará os rumos dos pré-candidatos e a alocação do capital político do bolsonarismo.
O jogo de acusação e defesa
Os atos deste final de semana nortearão as estratégias em curso para o embate político. Uma das manobras táticas em voga será a tentativa após os atos de responsabilizar o clã Bolsonaro pelo apoio à decretação das tarifas de 50% impostas por Trump aos produtos brasileiros exportados para os EUA. Esta narrativa busca isolar os jogadores e empurrará a família para as impopularidades, protegendo a imagem da centro-direita mais ampla.
Em um “segundo round”, os partidos de centro-direita planejam “blindar suas fileiras do avanço do PT”. A estratégia consiste em o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por tudo o que vem acontecendo, aludindo a uma suposta aliança com o STF e uma política externa que desagrada os norte-americanos, o bloco europeu e o Japão, tudo ao mesmo tempo. Esta tática de “bode expiatório” visa desviar a atenção de possíveis fragilidades internas da centro-direita e concentrar as críticas na gestão atual e seus aliados.
O embate político, portanto, não se restringe às ruas e aos tribunais; ele se estende à construção de narrativas e à disputa pela opinião pública, com cada lado buscando atribuir responsabilidades e definir o adversário.
Entre a adesão e a rejeição
O impacto desses atos na sociedade brasileira é multifacetado. A mobilização nas ruas serve como um termômetro do sentimento popular. Uma adesão massiva pode reforçar a percepção de que há um descontentamento significativo com o status quo e com as decisões do STF, além de indicar a resiliência da base bolsonarista, mesmo na ausência de seu líder. Por outro lado, uma participação pífia pode sinalizar um esgotamento do movimento ou uma desmobilização de parte do eleitorado, o que teria implicações diretas nas estratégias para 2026.
A polarização política, que tem sido uma característica marcante da última década, é um pano de fundo constante. Os atos, ao mesmo tempo em que reúnem apoiadores, também acentuam as divisões. A menção a “novos tensionamentos” na fala do governador Caiado reflete a preocupação com a estabilidade social e política.
A espera pela resposta das ruas
Nos bastidores, a tônica é de “pagar para ver”. A expressão encapsula a incerteza e a expectativa em relação à resposta das ruas. O sucesso ou insucesso da mobilização não apenas definirá o poder de fogo de Jair Bolsonaro e sua influência remanescente, mas também moldará as futuras alianças, as escolhas de pré-candidatos e, em última instância, o cenário da corrida presidencial de 2026.
A popularidade, ou a falta dela, expressa nas ruas neste fim de semana, é a chave para os próximos passos da centro-direita. Está posto um cálculo político frio, onde a emoção das massas será traduzida em dados para a elaboração de estratégias eleitorais. A manifestação se torna, assim, um laboratório onde se testará a temperatura de um eleitorado complexo e em constante transformação.
Os atos de fim de semana são muito mais do que um mero protesto ou apoio. São um ensaio para a centro-direita, que, sem a presença de seus principais líderes, busca calibrar o “termômetro” da popularidade. As ausências justificadas (e não justificadas) dos governadores, as medidas judiciais que afastam Bolsonaro, e as complexas manobras nos bastidores para redefinir o “espólio político” do ex-presidente, tudo converge para um cenário de grande efervescência pré-eleitoral. O resultado dessas manifestações servirá como um “diagnóstico” vital, traçando as linhas mestras para as estratégias que guiarão a centro-direita rumo a 2026, com o Brasil observando atentamente cada movimento nesse intrincado tabuleiro político.
Reportagem: Val-André Mutran é repórter especial para o Portal Ver-o-Fato e está sediado em Brasília.
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