Morre J.R.Guzzo, jornalista e colunista do ‘Estadão’, aos 82 anos

Guzzo iniciou sua carreira como repórter em 1961, fez parte da equipe fundadora da revista Veja e foi correspondente em Nova York. Leia o último artigo dele, hoje publicado

O jornalista e colunista do Estadão José Roberto Guzzo morreu na manhã deste sábado, 2, aos 82 anos. Guzzo foi vítima de um infarto. Segundo a família, ele já sofria de problemas crônicos coronários, pulmonares e dos rins. O enterro será realizado no Cemitério de Congonhas, em São Paulo.

 “Estou muito triste porque hoje morreu senão o maior e melhor jornalista de todos os tempos, um dos maiores e melhores jornalistas que o Brasil já teve”, disse Roberto Guzzo, filho dele.

Guzzo estava trabalhando normalmente nos últimos dias e nesta sexta havia mandado para o Estadão sua coluna que seria publicada neste sábado no portal (e no domingo no jornal impresso). Ele também assinava outra coluna semanal, publicada às quartas-feiras exclusivamente no digital.

Guzzo era colunista do Estadão desde 2019. Sua última coluna foi publicada neste sábado, 2. O texto foi escrito e enviado à redação na sexta, prática rotineira do jornalista, que também escrevia às quartas-feiras. No texto, o jornalista opina que “o governo brasileiro decidiu que [o ministro Alexandre de] Moraes, cujas decisões e conduta são o verdadeiro motivo pelo qual os americanos adotaram as sanções, está acima das obrigações humanas, como os arcanjos e os profetas. O Brasil é o ministro. O ministro é o Brasil”.

Guzzo escreveu colunas para o Estadão seguindo esse tom: crítico ao governo Lula e à atuação do STF.

O jornalista é fundador da revista Oeste, autodefinida como uma revista conservadora “na sua visão da política, da vida e da sociedade”. “Ser conservador, em nosso entendimento, é defender claramente que as coisas boas sejam conservadas”, escreveu o próprio Guzzo, ao definir o compromisso da Oeste com o leitor. A primeira edição da Oeste foi publicada em março de 2020.

Carreira

Guzzo iniciou sua carreira como repórter do jornal Última Hora de São Paulo, em 1961. Cinco anos depois, foi trabalhar no Jornal da Tarde, que acabara de ser lançado pelo Grupo Estado, do qual foi correspondente em Paris.

Foi na Editora Abril, porém, que Guzzo trabalhou a maior parte da carreira. Em 1968, fez parte da equipe fundadora da Veja, como editor de Internacional, e depois foi correspondente em Nova York. Cobriu a guerra do Vietnã e acompanhou a visita pioneira do então presidente americano, Richard Nixon, à China, em 1972. Foi o único jornalista brasileiro presente ao encontro de

Em 1976, aos 32 anos, Guzzo assumiu a direção da Veja, que ocupou até 1991. Neste período, a publicação saiu do vermelho e sua circulação passou de 175 mil exemplares para quase 1 milhão, o que a levou ao quarto lugar no ranking das maiores revistas semanais de informação do mundo, atrás apenas das americanas Time e Newsweek e da alemã Der Spiegel. Por sua habilidade de transformar um texto enfadonho em algo agradável de ler apenas com retoques pontuais, ganhou o apelido de “mão peluda” na redação.

Em 1988, passou a acumular a direção da Veja com o cargo de diretor-geral da Exame, encarregado de reinventar a revista. Deixou a Veja em 1991, encerrando um ciclo na revista. Depois de um ano sabático, voltou à ativa, dedicando-se exclusivamente à Exame, primeiro como diretor editorial e depois como publisher. Nos 11 anos em que esteve à frente da revista, transformou-a na publicação mais rentável, em termos relativos, da Abril.

Nota de Pesar

O Grupo Estado lamenta profundamente o falecimento do jornalista José Roberto Guzzo, ocorrido neste sábado.

Com uma trajetória marcante na imprensa brasileira, Guzzo colaborou como colunista com o Estadão desde 2019. Em seus textos, sempre claros e firmes destacou-se pela coragem intelectual e pela independência com que analisava os principais temas do cenário político e econômico do País.

Manifestamos nossa solidariedade aos familiares, amigos e leitores que, como nós, reconhecem em José Roberto Guzzo um dos grandes nomes do jornalismo brasileiro.

“Lúcido, crítico, não mascarava suas posições. Podia-se concordar ou discordar dele, mas nunca ignorá-lo. Guzzo agradava no atacado e incomodava no atacado”, disse Eurípedes Alcântara, Diretor de Jornalismo do Grupo Estado.

Manifestações

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou que Guzzo marcou época “por sua coragem, lucidez e compromisso inegociável com a liberdade de expressão”. Em publicação nas redes sociais, Tarcísio classificou o jornalista como “uma referência intelectual que nunca se calou diante do poder”.

O ex-deputado federal Deltan Dallagnol também prestou homenagem, chamando Guzzo de “um gigante do jornalismo brasileiro” e lembrando sua defesa da operação Lava Jato e de valores como liberdade, moralidade pública e respeito à Constituição. Outro nome da política, Fernando Holiday destacou o papel de Guzzo à frente da Veja, revista da qual foi diretor de redação entre 1976 e 1991. “Responsável pela era de ouro da Veja, Guzzo também foi um dos responsáveis pela fundação da revista Oeste”, escreveu.

Colegas de imprensa também se manifestaram. O jornalista Silvio Navarro, que trabalhou com Guzzo, afirmou ter perdido “sua maior referência para escrever”. “Obrigado por tudo”, escreveu. Caio Blinder disse que o colega foi “jornalista importante” e “fundamental” em sua formação. Já o comentarista político Xico Graziano lembrou a convivência com o jornalista no Estado de S. Paulo e o definiu como um profissional “verdadeiro, ativo, que nunca cedeu ao poder”.

Roger Rocha Moreira, vocalista da banda Ultraje a Rigor, lamentou a morte e classificou Guzzo como “o maior jornalista do Brasil”, destacando sua coragem e a precisão de suas análises. Admiradores também expressaram o pesar com a morte. Com informações do Estadão e agências de notícias.

O ÚLTIMO ARTIGO DE GUZZO, ESCRITO ONTEM, PUBLICADO HOJE, 2

OpiniãoO governo brasileiro decidiu que Moraes está acima das obrigações humanas, como arcanjos e profetas

EUA aplicaram sanções ao Brasil e a reação oficial brasileira é um hino contra a razão

Nota da redação: Esta é a última coluna de J.R. Guzzo para o Estadão. O texto foi escrito e enviado à redação na sexta, prática rotineira do jornalista, que também escrevia às quartas-feiras. Guzzo morreu na madrugada deste sábado, vítima de infarto.

A primeira vítima das tiranias, pelo que comprova a experiência dos últimos 2.000 anos, costuma ser a verdade – se bem que tantas misérias costumam chegar juntas, nesses casos, que fica difícil cravar as top 10. O efeito mais visível é a pane geral nos circuitos cerebrais onde se produz o pensamento racional. O debate político cessa de emitir sinais de vida inteligente.

É precisamente o que está acontecendo neste momento de escuridão que cerca o mais vicioso conflito jamais surgido nas relações do Brasil com a maior potência econômica, militar e política do mundo. Os Estados Unidos, dentro das suas leis, aplicaram punições ao Brasil pelo que estimam ser o comportamento delinquente do governo e do ministro Alexandre de Moraes. A reação oficial brasileira é um hino contra a razão.

Em nenhum aspecto do contencioso o Brasil de Brasília e o seu sistema de propaganda estão construindo uma calamidade tão reles quanto no pacto anormal que têm com o ministro Moraes. O governo brasileiro decidiu que Moraes, cujas decisões e conduta são o verdadeiro motivo pelo qual os americanos adotaram as sanções, está acima das obrigações humanas, como os arcanjos e os profetas. O Brasil é o ministro. O ministro é o Brasil.

Não chega a ser uma ideia; é apenas uma proposição estúpida. Por conta dela, todo cidadão brasileiro está no dever cívico, quase legal, de apoiar o ministro nas suas desventuras com a lei americana – e nas decisões em que viola a lei brasileira. Não importa o que tenha feito na sua função. Ou você fica do lado dele, e do que ele faz – ou então é linchado como traidor da pátria, sabotador do Brasil e inimigo da soberania nacional. É dessa descompensação que sai a última causa da esquerda nacional, como o “Sem Anistia” e outros naufrágios: “Mexeu com o Xandão, mexeu com os brasileiros”.

Com os “brasileiros”? Que brasileiros, cara pálida? Mexeu nada. Só mexeu com o próprio Moraes. Os crimes de que é acusado pelo governo americano – e que o jogam na escória mundial dos torturadores, assassinos em massa, genocidas, terroristas, criminosos de guerra etc. etc. – não têm absolutamente nada a ver com os “brasileiros”. Têm a ver apenas com Moraes e com os seus cúmplices. Não são problema seu. São problema deles.

Não foi você, nem Donald Trump, que abriu ilegalmente um inquérito policial que já dura seis anos, serve de caixa de ferramentas para todo tipo de repressão e torna ilegal tudo o que deriva dele – como os processos do golpe. Não foram os “brasileiros” que condenaram a 17 anos de prisão a moça do batom. Não fomos nós que levamos à morte o “Clezão”. Por que temos de pagar pelo que ele fez?

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