BlaBlaCar: centralizar venda de passagens rodoviárias é insustentável

A diretora-geral da BlaBlaCar no Brasil, Tatiana Mattos, disse que a distribuição centralizada de passagens de ônibus para rotas rodoviárias no país “trava a regulamentação do setor de carona solidária e é um modelo insustentável”. Segundo ela, a proposta da plataforma, de descentralizar o setor, faz com que as operadoras rodoviárias a considerem uma ameaça.

“Há setores do transporte que enxergam a plataforma de carona como ameaça ou como um modal que vem roubar o usuário do rodoviário, mas o usuário tem que ter o direito de escolher de quem vai comprar esse inventário, considerando que a operação rodoviária no Brasil é uma concessão pública”, afirmou Mattos, em entrevista ao Poder360.

Assista ao Poder Entrevista (31min30s):

Segundo a diretora-geral, a solução para que as plataformas de carona auxiliem o setor de transporte em massa é a ampla concorrência.

Porém, a visão dos setores contrários impede que as conversas sobre a regulamentação dos aplicativos evoluam: “Alguns representantes dos rodoviários voltaram atrás no que havia sido construído, e não tem como avançar no debate iniciado em 2021.”

De acordo com Mattos, uma regulamentação de caronas ao nível federal “sem dúvida ampliaria o debate e possibilitaria levar as políticas ao patamar de ter subsídios ao setor”.

Afirmou ainda que poucos operadores de rotas rodoviárias controlam as vendas de passagens por canais digitais e físicos e querem manter o domínio sobre o setor. Nesse contexto, a presença da BlaBlaCar –operando venda de passagens– traria competitividade de preços e “distribuição de passagens em múltiplos canais”.

Leia abaixo trechos da entrevista:

  • combate a clandestinidade “Transporte clandestino é um inimigo comum entre a carona e o transporte rodoviário […] Para combater, a BlaBlaCar gera, todos os dias, um relatório de viagens suspeitas. Essas viagens passam por uma verificação e podem ser bloqueadas. Ano passado, a gente bloqueou 1,2% das nossas viagens”;
  • carona nichada – “Carona sempre vai ser um transporte nichado e complementar. Hoje, 80% da oferta de carona se dá conectando cidades que não têm nenhum outro tipo de transporte. Não só ônibus, mas avião, balsa,  nenhum tipo de alternativa. A carona está para servir essas regiões”;
  • monitoramento – “Há ferramentas proativas e reativas para o combate do transporte profissional na plataforma. A precificação é controlada pela BlaBlaCar. O preço é calculado por quilômetro, por assento e o preço de custo de uma viagem é dividido pelos 5 assentos do carro e multiplicado pela distância”;
  • responsabilização –A plataforma intermedeia viagens entre pessoas físicas. Na eventualidade de qualquer acidente, a gente tem a responsabilidade por um suporte psicológico dos envolvidos e a abertura de dados e informações para as investigações. Sempre cooperando com as autoridades em qualquer eventualidade […] os casos de judicialização são ínfimos”;
  • relevância no mercado –O Brasil é o maior mercado da BlaBlaCar –21 milhões de contas registradas– ultrapassou a França e vem se mantendo em 1º lugar nos últimos 3 anos. O crescimento é na faixa de 15% a 20% na carona. Em ônibus está de 70% a 80%”;
  • transporte verde –A plataforma deixou de emitir 2 milhões de toneladas de CO₂ com a atividade da BlaBlaCar em 2024″;
  • concentração –Sul, Sudeste, Nordeste é mais ou menos onde a atividade acontece mais massivamente. O Centro-Oeste vem crescendo bastante. As rotas de média e longa distância são as preferidas para o ônibus, enquanto a carona tem uma afinidade com curta e média distância”.