Tensão entre China e EUA dispara importação de soja brasileira e reforça peso do agronegócio nacional

Em meio à guerra comercial, China quebra recorde de compras da oleaginosa e aposta no Brasil como fornecedor estratégico

Por Sandra Venancio – Jornal Local – Foto CNA/Wenderson Araujo/Trilux

A China importou em julho a maior quantidade de soja de sua história: 11,67 milhões de toneladas. O volume, puxado pelas exportações brasileiras, revela um movimento estratégico diante da crescente incerteza nas relações comerciais entre Pequim e Washington. O dado, divulgado pela Administração Geral de Alfândega e calculado pela Reuters, representa um salto de 18,5% em relação ao mesmo mês do ano passado.

>> Siga o canal do Jornal Local no WhatsApp

O aumento expressivo das compras chinesas ocorre em meio ao agravamento das tensões comerciais com os Estados Unidos, tradicional fornecedor da commodity. A mudança de rota beneficia diretamente o Brasil, que consolidou-se como o maior produtor e exportador de soja do mundo.

Para analistas de mercado, a leitura é clara: a China está se protegendo de uma possível interrupção de fornecimento americano. “Isso sugere que o mercado está se preparando para possíveis incertezas decorrentes das tensões comerciais entre a China e os EUA”, afirma Rosa Wang, analista da consultoria JCI, com sede em Xangai.

A especialista prevê que o ritmo acelerado das importações deve se manter nos próximos meses. “Esperamos volumes acima de 10 milhões de toneladas em agosto e setembro, com forte participação brasileira”, acrescentou.

O cenário reforça a dependência da China em relação ao agronegócio brasileiro — e amplia o protagonismo político do setor nas relações internacionais. Segundo fontes do Itamaraty ouvidas pelo Jornal Local, há uma movimentação nos bastidores para que o governo brasileiro aproveite esse momento de vantagem estratégica para renegociar acordos comerciais em bases mais favoráveis.

GUERRA COMERCIAL E A NOVA GEOPOLÍTICA DA SOJA

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostram que, entre janeiro e julho de 2025, o Brasil exportou 68,4 milhões de toneladas de soja, sendo 76% destinadas exclusivamente ao mercado chinês. O valor movimentado chega a US$ 41 bilhões no período.

Estudo do Centro de Estudos em Agronegócio da FGV aponta que o Brasil ocupa hoje 56% do mercado global da soja, superando os EUA com margem crescente. Além disso, há sinais de que empresas chinesas estão ampliando investimentos em portos, armazenagem e infraestrutura logística no Brasil para garantir o escoamento da produção brasileira, mesmo em anos de safra irregular.

Do ponto de vista jurídico, especialistas alertam para os riscos de dependência excessiva. “A concentração de exportações para um único país pode tornar o Brasil vulnerável a pressões políticas externas”, afirma o jurista e economista Marcos Pinto, da USP. “É necessário diversificar mercados, mesmo diante de ganhos imediatos.”