Chacina na fronteira do Pará: emboscada e oito garimpeiros mortos

No meio da selva amazônica, onde o Estado é um fantasma e a lei se mede pela força do fuzil, oito homens foram abatidos como se suas vidas não valessem nada. A chacina aconteceu na divisa entre Laranjal do Jari (AP) e Almeirim (PA), em uma região isolada, cortada pelo rio Jari e disputada a bala por garimpeiros e grupos armados.

A terra é rica em ouro, ferro, manganês e tântalo. O ouro, sobretudo, é a isca mortal. A região abriga áreas protegidas como a Estação Ecológica do Jari e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru, além da imensa Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca) — mais de 4 milhões de hectares, equivalente à Dinamarca. Mas na prática, esses selos ambientais significam pouco: a exploração ilegal avança, protegida pelo isolamento e pelo poder das armas.

Foi nesse cenário de selva fechada e acesso quase impossível — só helicóptero chega rápido, e apenas quando o clima ajuda — que um grupo de nove garimpeiros foi atacado enquanto negociava terras em área de garimpo ilegal. Oito deles morreram. Um escapou se escondendo na mata.

A Polícia Civil acredita que eles foram confundidos com assaltantes que dias antes roubaram ouro na região. Mas, na lógica brutal do garimpo ilegal, não há tempo para checar versões: mata-se primeiro, pergunta-se depois — se é que se pergunta.

As vítimas foram executadas e tiveram os corpos espalhados pela mata e pelo rio. Duas caminhonetes usadas pelo grupo foram incendiadas. A investigação está sob sigilo, mas suspeitos já foram identificados. Ninguém foi preso.

Entre os mortos, havia pais de família, trabalhadores do garimpo legalizado e pessoas sem ligação direta com a mineração. Havia um jovem de 23 anos, que transportava combustível para garimpos e deixou uma esposa grávida; um visitante que morava em Macapá e tinha um bebê de 1 ano; e veteranos da extração de ouro. Todos tiveram o mesmo destino.

O sobrevivente contou que o grupo saiu de Laranjal do Jari numa sexta-feira, deixou as caminhonetes num ponto da mata e seguiu de barco para negociar uma área. Na segunda-feira, comunicaram às famílias, via internet por satélite, que estavam voltando. Depois, silêncio. Na quarta-feira, as caminhonetes foram encontradas queimadas.

O delegado-geral do Amapá, Cézar Vieira, resumiu a tragédia:

“São trabalhadores e pais de família sem qualquer ligação com atividades criminosas.”

O caso expõe, de forma cruel, como certas áreas da Amazônia vivem em um faroeste permanente, onde grupos armados mandam, o ouro é a lei e a vida humana é apenas mais um recurso descartável.


The post Chacina na fronteira do Pará: emboscada e oito garimpeiros mortos appeared first on Ver-o-Fato.