Foto: Pdp
Redação – O serviço de patinetes da Jet chegou a Belém e rapidamente virou alvo de polêmica. Imagens de uso indevido, com quatro pessoas em um único equipamento, veículos abandonados fora da área de operação, e até tentativas de venda, dominaram as redes sociais, muitas vezes acompanhadas de comentários que tratam o problema como se representasse o “o caos belenense”.
Ocorre que essas situações se repetiram em todo lugar onde esse tipo de serviço foi implantado. Em São Paulo, patinetes já foram jogados em rios e desmontados para revenda; no Rio, uma quadrilha furtou 4 mil unidades; em Paris, furtos chegaram a 10% da frota por mês; em San Diego, equipamentos atravessaram a fronteira e foram parar no México.
A falta de regulação clara está no centro da questão: sem regras de circulação, uso de equipamentos de proteção, estacionamento e fiscalização, a Prefeitura se abstém de organizar a cidade e joga nos usuários a responsabilidade pelo “uso correto”, mas sem controle real.
Modernidade para poucos, abandono para muitos
O debate sobre patinetes acaba ocupando um espaço desproporcional na agenda pública, desviando o foco das discussões urgentes sobre mobilidade urbana e qualidade de vida na capital paraense. A verdadeira “desordem” é a maioria da população de Belém continuar sem acesso a saneamento básico digno, a saúde pública ser sistematicamente desmontada para dar lugar à privatização, e a educação pública sofrer ataques constantes de uma gestão que parece enxergá-la como despesa, não como prioridade.
A cidade clama por soluções reais de mobilidade – integração dos modais, ampliação de ciclovias e ciclofaixas, calçadas acessíveis, continuidade da renovação da frota de ônibus – mas recebe em troca soluções de nicho que servem mais como cortina de fumaça do que como política pública efetiva.
Modernidade não se mede por gadgets tecnológicos ou serviços digitais, mas pela capacidade de garantir direitos básicos a toda população. Enquanto a atual administração municipal priorizar o espetáculo, Belém continuará presa nesse paradoxo: uma cidade que almeja o futuro sem resolver os problemas do presente.
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