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Prof. Ruel F. Pepa
Imagine um mundo onde verdades incômodas, como fragmentos inconvenientes da realidade que exigem reflexão, humildade e mudança, não sejam mais recebidas com curiosidade ou preocupação, mas com ridículo e desdém. Nesse mundo, os portadores da verdade não são acolhidos como catalisadores do progresso, mas sim alvos como inimigos do status quo.
Em vez de suscitar uma introspecção sóbria, essas verdades são recebidas com o riso presunçoso daqueles que se entregaram a ilusões reconfortantes. O riso, não como alegria, mas como uma arma afiada, irrisória e calculada, torna-se a ferramenta pela qual os poderosos desviam a responsabilidade e silenciam a dissidência.
Denunciantes, antes símbolos de coragem que desvendavam a podridão institucional ou o abuso sistêmico, agora são retratados como traidores ou lunáticos. Suas revelações, por mais meticulosamente documentadas que sejam, são descartadas antes de serem ouvidas, soterradas por campanhas orquestradas de difamação. Carreiras são destruídas, reputações desmanteladas, famílias ameaçadas, tudo para preservar uma fachada de normalidade. O público, sobrecarregado pelo barulho e pela desorientação, se afasta, incapaz ou relutante em discernir a verdade da invenção.
Nessa descida orwelliana, não são os sábios, os éticos ou os compassivos que ascendem a posições de influência, mas sim os demagogos, os enganadores carismáticos, os arquitetos de realidades alternativas. O discurso público não é guiado por fatos, mas pela emoção do viés de confirmação, pela atração sedutora das narrativas tribais.
A verdade se torna elástica, moldada não por evidências, mas pelas necessidades do momento, distorcida para se adequar a agendas disfarçadas de patriotismo, progresso ou segurança.
A história em si não está segura. Livros são editados, currículos revisados, monumentos erguidos para heróis fictícios, enquanto heróis reais são apagados. O que antes era inegável torna-se discutível; o que antes era criminoso torna-se justificável. Uma névoa se instala sobre a memória coletiva, adensando-se a cada dia, obscurecendo o caminho de volta à clareza.
Este não é o enredo de um romance distópico ou de um roteiro especulativo. É uma realidade insidiosa, que se desdobra na erosão silenciosa das normas, no descrédito do jornalismo, na reescrita de eventos passados com eficiência orwelliana. Ela se espalha não com o estrondo da guerra, mas com o sussurro da apatia que diz: “Sempre foi assim”, ou pior, “Não importa”.
Mas importa . O futuro não é um ponto fixo em uma linha do tempo; é um espelho que reflete nossas escolhas presentes. E em cada era, a batalha pela verdade deve ser travada novamente por aqueles que se recusam a desviar o olhar, que falam mesmo quando é perigoso, que pensam mesmo quando é mais fácil não pensar. Pois sem a verdade, a liberdade é um mito, e sem a coragem de encarar fatos desconfortáveis, a civilização oscila à beira de sua própria ruína.
O desaparecimento do papel da verdade na sociedade
Tradicionalmente, as sociedades prosperaram quando ancoradas na verdade. Ela serviu não apenas como um ideal abstrato, mas como um pilar prático e essencial da civilização. No âmbito da justiça, a verdade guiou leis e sistemas jurídicos, atuando como a bússola pela qual os tribunais distinguem o certo do errado, a culpa da inocência. Ela possibilitou a responsabilização, garantindo que o poder seja limitado pela ética e que as vítimas sejam vistas, ouvidas e justificadas.
Além dos tribunais, a verdade tem sido o motor do progresso humano. A descoberta científica, o avanço médico e a inovação tecnológica se baseiam na premissa de que os fatos importam por meio da observação, da evidência e da investigação honesta, que levam a melhores resultados. A história também tira suas lições da verdade. Uma sociedade disposta a confrontar seu passado com clareza e humildade é aquela que pode evoluir. Uma sociedade que se esconde de seu passado, ou o reescreve para se adequar às conveniências do presente, está fadada a repetir seus piores erros.
Mas a verdade não é apenas o alicerce da justiça e do progresso, mas também o fio invisível que une os indivíduos em comunidades funcionais. Ela cultiva a confiança. Quando as pessoas acreditam que estão sendo informadas a verdade por seus líderes, pela mídia, umas pelas outras, elas se mostram mais dispostas a cooperar, a se sacrificar pelo bem comum, a estender a empatia para além do interesse pessoal. A verdade permite que o contrato social funcione.
No entanto, hoje, assistimos a um perigoso desmoronamento. Uma nova e perturbadora tendência emergente ameaça desmantelar essa base. Aqueles que dizem a verdade, antes celebrados por sua integridade e coragem moral, estão agora cada vez mais marginalizados. Em vez de serem exaltados, suas vozes são desacreditadas, atacadas ou abafadas por uma enxurrada de ruídos. O desconforto que suas revelações trazem não é mais visto como necessário ou nobre, mas sim como inconveniente, até mesmo ofensivo.
Em seu lugar, figuras carismáticas se apresentam, não com fatos, mas com narrativas elaboradas para aplausos, indignação e apelo viral. Munidos de confiança em vez de evidências, eles oferecem histórias que acalmam, bajulam ou provocam, raramente exigindo o ônus da prova. Nesse novo cenário, o espetáculo substitui a substância.
A desinformação não se espalha nas sombras, mas sob os holofotes, amplificada por algoritmos, repetida por partidários e cada vez mais adotada como “fatos alternativos”.
As consequências dessa mudança são profundas. Quando a sociedade deixa de confiar em quem diz a verdade, a justiça vacila. Quando as decisões são tomadas com base em mentiras em vez de fatos, o progresso estagna ou retrocede. Quando comunidades são construídas com base em ilusões compartilhadas em vez de entendimento mútuo, a confiança se rompe e a cooperação entra em colapso. O próprio tecido da nossa civilização, tecido com base na verdade, na confiança e na transparência, começa a se desgastar.
Se não for controlada, essa erosão corre o risco de inaugurar um mundo onde a percepção prevalece sobre a realidade, onde a justiça é determinada pela popularidade e onde o conhecimento é desvalorizado em favor da narrativa. Mas isso não é uma inevitabilidade. A história nos mostra que a verdade perdurou mesmo nos tempos mais sombrios, porque sempre há aqueles dispostos a dizê-la, protegê-la e lutar por ela. A questão é se nós, neste momento, estamos dispostos a fazer o mesmo.
O efeito de câmara de eco das mídias sociais
Vários fatores interligados contribuíram para a degradação alarmante da verdade em nosso discurso público. O principal deles é a rápida ascensão e a influência generalizada das mídias sociais, que transformaram fundamentalmente a forma como a informação é produzida, compartilhada e consumida. Ao contrário da mídia tradicional, que opera sob pelo menos alguns padrões jornalísticos e supervisão editorial, as plataformas de mídia social são movidas por algoritmos, ou seja, fórmulas matemáticas não projetadas para informar ou esclarecer, mas para maximizar o engajamento, os cliques e o tempo de tela.
Esses algoritmos selecionam feeds de conteúdo personalizados que moldam sutil, mas poderosamente, nossa percepção da realidade. Ao oferecer constantemente aos usuários conteúdo alinhado às suas crenças, preferências e gatilhos emocionais, eles criam câmaras de eco digitais, como ambientes insulares onde perspectivas divergentes são filtradas e onde a visão de mundo de cada um não é apenas reforçada, mas raramente questionada. Dentro dessas bolhas, opiniões se disfarçam de fatos, e fatos que contradizem a narrativa predominante são descartados como falsos, tendenciosos ou maliciosos.
Esse ambiente potencializa o viés de confirmação, a tendência psicológica de favorecer informações que corroboram nossas visões preexistentes, ignorando ou racionalizando evidências contraditórias. Com o tempo, esse viés se arraiga, tornando os indivíduos mais resistentes a novas informações, especialmente se elas exigirem a reconsideração de crenças profundamente arraigadas. Em vez de promover a abertura de espírito ou o diálogo, o cenário digital fomenta uma mentalidade tribal, em que a lealdade ideológica prevalece sobre a busca pela verdade.
Para agravar o problema, existe o enorme volume de informações, tanto precisas quanto enganosas, que inundam nossas telas diariamente. O ritmo com que o conteúdo é criado e disseminado deixa pouco espaço para verificação ou reflexão. Desinformação, desinformação, meias-verdades e conteúdo emocionalmente carregado competem por atenção, muitas vezes com pouca credibilidade. Em um ambiente tão saturado, o discernimento se torna um fardo, e muitos simplesmente se refugiam em narrativas familiares que parecem seguras, mesmo que sejam falsas.
Além disso, a estrutura das mídias sociais favorece o sensacionalismo em detrimento da substância. Discussões aprofundadas são penalizadas por períodos curtos de atenção e formatos restritivos, enquanto declarações ousadas e incendiárias são recompensadas com curtidas, compartilhamentos e viralidade.
Questões complexas são reduzidas a frases de efeito cativantes ou memes enganosos. A manipulação emocional por meio da indignação, do medo ou de uma retórica baseada em identidade torna-se uma ferramenta de influência, atraindo as pessoas não com argumentos fundamentados, mas com um apelo visceral.
Nesse clima, o pensamento crítico se erode. As habilidades necessárias para analisar afirmações, avaliar fontes e considerar múltiplas perspectivas tornam-se menos valorizadas e menos praticadas. Em vez disso, o raciocínio emocional e a conformidade ideológica assumem o centro das atenções. Como resultado, a manipulação não apenas prospera, como também se torna normalizada.
Influenciadores, propagandistas e oportunistas exploram essa vulnerabilidade, usando a arquitetura das mídias sociais para promover agendas, distorcer fatos e semear confusão.
O que nos resta é uma sociedade cada vez mais desvinculada da realidade objetiva, na qual as vozes mais altas, e não as mais verdadeiras, ganham mais força. E, a menos que cultivemos ativamente a alfabetização midiática, promovamos o pensamento independente e exijamos responsabilidade tanto das plataformas quanto de nós mesmos, essa descida ao caos informacional só se acelerará.
Cumplicidade institucional no silenciamento da verdade
Além disso, instituições poderosas, desde corporações multinacionais a órgãos governamentais e agências de inteligência, frequentemente desempenham um papel significativo e preocupante na erosão contínua da verdade. Essas entidades, com vasta influência sobre economias, canais de informação e percepção pública, nem sempre são motivadas por um compromisso com a transparência ou o bem comum. Em vez disso, muitas são movidas pelos imperativos do lucro a curto prazo, da conveniência política ou da preservação do poder, mesmo quando esses objetivos são feitos em detrimento da honestidade, da responsabilidade ou do bem-estar social.
Em tais contextos, a verdade torna-se inconveniente e, portanto, um obstáculo a ser gerenciado, em vez de um princípio a ser defendido. Informações que possam expor corrupção interna, danos ambientais, violações de direitos humanos ou abusos de poder são frequentemente suprimidas, distorcidas ou estrategicamente enterradas. Em vez de enfrentar problemas sistêmicos de frente, essas instituições frequentemente optam por proteger sua imagem, participação de mercado ou viabilidade eleitoral, optando pelo controle de danos em vez da reforma ética.
Essa supressão pode assumir diversas formas: documentos internos retidos do escrutínio público, pesquisas científicas manipuladas ou desacreditadas, conjuntos de dados divulgados seletivamente ou narrativas inteiras fabricadas para influenciar a opinião pública. Em alguns casos, campanhas de relações públicas bem financiadas são lançadas para lançar dúvidas sobre denunciantes confiáveis ou para turvar a questão de claras violações éticas. O resultado é um clima em que a verdade não é apenas ocultada, mas agressivamente contestada, diluída e deslocada.
Os denunciantes, jornalistas investigativos e pessoas de dentro conscientes que ousam desafiar esse status quo frequentemente enfrentam consequências severas. Em vez de serem protegidos e celebrados por sua coragem, são frequentemente submetidos a intimidação, retaliação profissional, ações judiciais, vigilância ou difamação. Suas carreiras podem ser destruídas, suas reputações manchadas e suas vidas pessoais reviradas. A mensagem que isso transmite é inequívoca: dizer a verdade, especialmente quando ameaça o poder, é um ato perigoso.
Esse efeito intimidador se estende muito além do indivíduo. Cultiva uma cultura de medo e silêncio dentro das organizações, onde os funcionários aprendem a ignorar o problema e a aceitar concessões éticas como o custo da estabilidade no emprego ou da ascensão profissional. Com o tempo, as instituições se isolam da responsabilidade, cercadas por bajuladores e leais, em vez de críticos e pessoas que só falam a verdade. A podridão se instala silenciosa, mas profundamente.
Os danos não se limitam a escândalos isolados. Quando instituições sacrificam repetidamente a verdade em nome do lucro ou do poder, elas corroem a confiança do público nos sistemas fundamentais de governança, saúde, educação, ciência e direito. As pessoas começam a questionar a legitimidade dos próprios fatos, inseguras se qualquer alegação, por mais bem fundamentada que seja, está isenta de manipulação. Essa traição institucional contribui significativamente para a crise mais ampla da verdade na sociedade, alimentando o cinismo, a polarização e a apatia.
E, no entanto, não precisa ser assim. As instituições são compostas por indivíduos, e sua direção pode ser alterada por meio de pressão, reforma e da insistência coletiva de que a verdade importa não apenas na teoria, mas também na prática. Mas essa insistência deve ser sustentada e vocal, porque as forças alinhadas contra ela são bem organizadas, bem financiadas e profundamente enraizadas. A escolha, em última análise, é se permitimos que essas instituições moldem nossa realidade por meio da ofuscação ou se exigimos que elas sejam submetidas a um padrão mais elevado, enraizado na responsabilidade, transparência e integridade.
Continua…
Fonte: https://www.truth11.com/silencing-truth-the-high-cost-of-honesty-in-a-misinformed-world/
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