Mulheres, quilombolas e jovens lideram adaptação climática no Marajó: “Conhecimentos tradicionais”

No coração do arquipélago do Marajó, comunidades quilombolas, agricultoras e agricultores familiares mostram que a resposta à crise climática pode nascer das próprias margens da Amazônia. O projeto Marajó Resiliente, que já alcançou diretamente mais de 1,1 mil pessoas e indiretamente 14,4 mil, atua em Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari unindo saberes tradicionais e tecnologias de adaptação para fortalecer a sustentabilidade local.

A iniciativa, conduzida pela Fundación Avina com apoio do Fundo Verde do Clima (GCF) e parceiros, ganhou destaque em um ano simbólico: Belém sediará a COP30, conferência global sobre mudanças climáticas. O projeto se apresenta como um exemplo de ação climática construída a partir do diálogo com os territórios mais vulneráveis da Amazônia.

Lírio Moraes

“O projeto se ancora na ideia de multiplicação, reconhece e valoriza saberes e práticas, conhecimentos tradicionais que as populações já têm…”, explica Lanna Peixoto, coordenadora do projeto, ressaltando a importância de fortalecer associações, cooperativas e sistemas produtivos diversificados.

Os desafios são urgentes. Estudos da Universidade Federal do Pará e do INMET mostram queda na precipitação durante a estação seca nas últimas duas décadas, agravando estiagens e afetando colheitas. Relatório da Emater-Pará aponta perdas de até 40% na produção de mandioca e milho em comunidades quilombolas, devido à seca, salinização e erosão do solo.

Para reverter esse cenário, o Marajó Resiliente aposta nos Sistemas Agroflorestais Diversificados (SAFs), que combinam espécies agrícolas, frutíferas e florestais no mesmo espaço. Essa prática não apenas garante alimentos e renda, mas também conserva solo, água e biodiversidade. Hoje, 59,2% dos beneficiados diretos são mulheres e 20 comunidades quilombolas participam ativamente.

Lírio Moraes

O agricultor Tiago Alves, da comunidade do Pedral, em Soure, viu sua produção mudar: “Antes de conhecer o projeto eu plantava sem calcário, tocava fogo em toda a matéria orgânica… porém hoje, com o conhecimento adquirido, a produtividade da minha área é uma maravilha.”

O projeto também promoveu oficinas de comunicação para jovens, formou multiplicadores de saberes agroflorestais e criou Comitês Comunitários de Governança Climática. Carla Campos, agricultora de Cachoeira do Arari, destaca a importância da diversificação: “Ele é bom porque quando eu tô esperando o açaí, eu já estou tirando o cupuaçu… já dá para sobreviver, me manter.”

Lírio Moraes

A experiência ganhou visibilidade internacional em maio de 2025, na Conferência Internacional sobre Adaptação Climática por Comunidades (CBA19), no Recife. Valéria Carneiro, quilombola de Salvaterra, levou a voz marajoara ao debate global e cobrou a desburocratização do acesso a recursos climáticos.

Com a COP30 no horizonte, o projeto se prepara para mostrar que políticas públicas e financiamento climático podem nascer da realidade dos territórios. “A COP30 é um momento super importante para posicionar o projeto… e fomentar discussões sobre apoio às comunidades tradicionais”, reforça Lanna Peixoto.

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