Trump promove desestabilização no Brasil para derrubada de Lula – Por André Lobão

Uma coisa precisa ser dita com todas as letras: o governo dos EUA está em campanha aberta por um golpe no Brasil para derrubar o governo de Lula. Donald Trump. Daniel Torok/White House

Por André Lobão/Revista Fórum – O anúncio das taxações das exportações brasileiras para os EUA por Donald Trump não se resume como uma mera retaliação ao Brasil, em razão dos processos criminais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. É óbvio que estão em jogo interesses maiores do que podemos imaginar, como a questão que envolve as terras raras. Mas o grau do ataque do governo Trump ao Brasil já pode ser considerado como uma tentativa real e clara de desestabilização do país e, sim, a derrubada do governo Lula.

A imposição de taxas de 50% aos produtos brasileiros anunciada pelo governo estadunidense entrou em vigor no dia 6/08. A nota emitida pela Casa Branca afirmava que “a adoção das tarifas visa lidar com políticas, práticas e ações recentes do Governo Brasileiro, que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”.

A justificativa da nota considera que “a perseguição, intimidação, assédio, censura e processo politicamente motivados pelo Governo Brasileiro contra Bolsonaro e seus apoiadores constituem graves violações dos direitos humanos que minaram o Estado de Direito no Brasil”. Alguém quer prova maior de que está em curso um processo de desestabilização e influência externa dos EUA sobre o Brasil?

Ainda em 30/7, O governo Trump anunciou a aplicação da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). Em um comunicado justificando a aplicação da lei, Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, afirmou que Moraes assumiu a responsabilidade de ser juiz e júri em uma caça às bruxas ilegal contra cidadãos e empresas americanas e brasileiras.

A Lei Magnitsky é um dispositivo da legislação estadunidense, que permite que os EUA apliquem sanções econômicas a acusados de corrupção ou graves violações de direitos humanos. Ela foi aprovada durante o governo de Barack Obama, em 2012. Dentre as sanções, a lei prevê o bloqueio de contas bancárias e de bens em solo dos EUA, além da proibição de entrada no país.

Segundo informações da CNN Brasil, o governo Trump já tem em mãos uma lista com informações aprofundadas sobre todos os escritórios de advocacia que pertencem a familiares de ministros do STF ou dos quais esses parentes são sócios. O objetivo é mapear todas as possíveis ligações financeiras dos ministros e ter meios para aplicar neles uma “asfixia financeira”, evitando caminhos alternativos para a eventual fuga das sanções previstas na Lei Magnitsky.

Nem JFK e Lyndon Johnson sancionaram o Brasil como Trump
O momento atual nos remete aos preparativos do golpe civil e militar, que derrubou o presidente João (Jango) Goulart, em 1º de abril de 1964. A conjuntura naquela época era pontuada pela Guerra Fria, em que Jango ao assumir a presidência da República em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, não tinha apoio do então presidente dos EUA, John Kennedy e, tampouco, dos militares brasileiros, os mesmos que o derrubaram em 1964, sendo empossado após retorno de uma viagem à China, depois de um movimento cívico liderado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola.

Jango tinha como principal bandeira a aplicação das Reformas de Base, um conjunto de medidas que consistia na aplicação de uma ampla reforma agrária; valorização do ensino público; justiça fiscal; com uma reforma tributária; reforma eleitoral, com a permissão do voto dos analfabetos e de militares de baixa patente, além de legalização de partidos proscritos, como o Partido Comunista; reforma urbana, com um grande plano de ordenamento habitacional; e reforma bancária, com o aumento de crédito para pequenos empreendedores e produtores rurais. Mas o que mais incomodou foi a criação da Lei de Remessa de Lucros de empresas multinacionais em 1962, que impedia as empresas de enviarem mais de 10% de seus lucros para o exterior.

Isso, obviamente, causou contrariedade ao governo dos EUA e da burguesia brasileira, que viram no programa de Jango a reprodução de uma Cuba em Pindorama.

Assim, os governos John Kennedy e depois de Lyndon Johnson, ambos do Partido Democrata, através do seu Soft Power, suspenderam uma série de convênios estabelecidos na Aliança para o Progresso, um amplo programa cooperativo destinado a acelerar o desenvolvimento econômico e social da América Latina, ao mesmo tempo em que visava frear o avanço do socialismo nesse continente.

Além disso, os EUA passaram a financiar ativamente grupos e políticos conservadores no Brasil. Dois grupos que recebiam amplo financiamento estadunidense ficaram conhecidos como “complexo Ipes-Ibad”, sendo o Ipes, o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, e o Ibad, o Instituto Brasileiro de Ação Democrática.

O Ibad, inclusive, foi alvo de uma CPI em 1962 porque recebeu milhões do governo estadunidense para financiar a campanha de mais de 800 políticos durante as eleições daquele ano. Os políticos apoiados eram conservadores, e o objetivo era criar uma frente parlamentar que barrasse o governo de João Goulart de todas as formas. Segundo a legislação brasileira da época, esse tipo de financiamento era ilegal.

E toda a articulação do golpe de 1964 teve atuação direta de autoridades dos EUA no Brasil, conforme é relatado no livro Taking Charge – The Johnson White House Tapes, 1963-1964 (“Tomando Conta – As Gravações de Johnson na Casa Branca”), escrito por Michael Richard Beschloss, historiador americano, especializado na presidência dos Estados Unidos. A obra conta toda o acompanhamento pessoal do presidente Johnson, em correspondência e conversas telefônicas, com a embaixada estadunidense, através do diplomata Lincoln Gordon, na articulação do golpe. O resto é história.

Soft Power dos EUA também derrubou Dilma
Agora, a tentativa de um novo golpe Made in USA no Brasil assume contornos de uma ação mais direta e transparente, com notas oficiais e ações de Estado, como as taxações e imposição de sanções contra autoridades da República de forma nominal e direta, contando também com a articulação direta de legisladores brasileiros, como Eduardo Bolsonaro, que até o momento vê seu mandato intocável.

Está mais do que na hora de Lula vir a público e denunciar essa desestabilização contra o Estado brasileiro, e não incorrer no mesmo erro de Dilma Rousseff, que aceitou pacificamente a articulação que a derrubou em 2016, que tinha nas entrelinhas ações do Soft Power a partir do simpático e sorridente Barack Obama. A Lava Jato foi a ação mais contundente dessa articulação golpista que no seu bojo trouxe a ascensão da extrema direita no Brasil.

Recordar é viver, é preciso agregar o povo na rua contra o golpe de Trump e do imperialismo!

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do Ponto de Pauta

O post Trump promove desestabilização no Brasil para derrubada de Lula – Por André Lobão apareceu primeiro em PONTO DE PAUTA – PARÁ.