Vigia do galpão de Antônio Doido é encontrado morto em mata de Santa Isabel

O Ver-o-Fato apurou que a empresa ABS Construção Civil Ltda, onde o porteiro trabalhava, está em nome de Antônia Balbina dos Santos, mãe do deputado. Antônio Doido doou R$ 20 mil à família para os funerais. Polícia investiga caso.

Um crime brutal e cercado de mistérios chocou o município de Santa Isabel do Pará, quando o corpo de Jimmy Clay Nunes Ferreira, porteiro da empresa ABS Construção Civil Ltda, ligada ao deputado federal Antônio Leocádio dos Santos, o Antônio Doido (MDB), foi encontrado na manhã desta sexta-feira, 15, às margens de um igarapé. A vítima, desaparecida há vários dias, apresentava sinais de tortura, incluindo ferimentos nos pés e agressões com objetos contundentes, indicando o grau extremo de violência a que foi submetida.

O desaparecimento de Jimmy havia sido registrado após ele cumprir seu turno na terça-feira, 12, na empresa localizada em Marituba, a mais de 20 km de Santa Isabel, onde o corpo foi desovado. Segundo relatos da família e levantamentos exclusivos do repórter Jefferson Lima, o vigilante Jimmy manteve contato com parentes durante todo o dia, e foi visto pela última vez à noite.

Na manhã seguinte, outro vigilante encontrou o portão da empresa aberto, a motocicleta de Jimmy ainda no local e objetos pessoais intactos, mas sem sinal do funcionário.

O advogado da família, Dorivaldo Belém, detalhou ao portal Ver-o-Fato a linha do tempo dos últimos dias de vida de Jimmy: “O roubo na empresa ocorreu de sábado para domingo. Ainda no domingo, Jimmy já havia se apresentado e passado todo o dia sendo ouvido sobre o assalto, que envolveu bebedouro, televisão e sucatas de caminhão.

Na terça-feira, ele reassumiu seu posto e manteve contato normal com a família. Na quarta-feira, outro vigilante constatou o portão aberto e a ausência dele. Pouco depois, o corpo foi encontrado, severamente torturado, desovado nas matas.”

Segundo Belém, há fortes indícios de que Jimmy tenha sido abordado e capturado dentro da própria empresa. “Quem o abordou precisava que ele abrisse o portão. Os pertences dele ficaram no local, o que indica que não houve saída voluntária. Ainda estamos buscando que o inquérito seja encaminhado à divisão especializada de homicídios, para que os recursos e a investigação adequada sejam utilizados para identificar os autores e mandantes do crime”, afirmou o advogado.

O caso ganha contornos ainda mais complexos diante de antecedentes envolvendo a empresa e o parlamentar. Um episódio semelhante teria ocorrido em outra propriedade de Antônio Doido, em São Miguel do Guamá, onde um vigilante foi torturado e a Justiça condenou a empresa por maus-tratos.

Justiça e punição, querem parentes

Familiares relatam angústia e exigem respostas. A irmã de Jimmy, Karime Daniele Nunes Ferreira, afirmou que a filha de Jimmy, Jhully, revelou que o colega de trabalho, Thiago da Silva Foicinho, poderia perder o emprego, e que a empresa já havia sido alvo de furtos semelhantes, inclusive de caminhões.

Enquanto isso, a empresa ABS Construção Civil Ltda. forneceu, por meio de Pix, R$ 20 mil para custear os funerais, além de enviar uma coroa de flores para o velório. Fontes afirmam que Antônio Doido estaria “muito abalado” com o ocorrido. Tentativas de contato com o parlamentar, via telefone e WhatsApp, feitas pelo Ver-o-Fato, ainda não tiveram retorno.

A polícia realizou perícia no corpo e no local da empresa, levantando indícios sobre a forma como Jimmy foi torturado e removido. O advogado da família reforça a necessidade de acompanhamento do Ministério Público do Estado do Pará e solicita que câmeras de vigilância do galpão e de empresas vizinhas sejam analisadas, bem como dados tecnológicos de celulares e linhas de tempo, para mapear os últimos passos da vítima.

O caso reacende questionamentos sobre a real função do galpão da ABS Construção Civil Ltda. e sobre a atuação do parlamentar, que já é alvo de inquéritos da Polícia Federal por suspeita de lavagem de dinheiro, desvio de recursos públicos e uso de empresas de fachada.

A investigação permanece em andamento, enquanto familiares e a sociedade exigem respostas. A brutalidade e o mistério que envolvem a morte de Jimmy Clay Nunes Ferreira reforçam a necessidade de uma apuração séria, eficiente e imparcial, capaz de identificar os responsáveis por este crime chocante.

Ocorrência policial de Jimmy

Termo de Depoimento
Nº da Ocorrência: 00029/2025.103869-5

Aos 12 dias do mês de agosto de 2025, na 18ª Seccional Urbana de Marituba – 2ª RISP – 22ª AISP, sob a presidência da autoridade policial, Exmo(a) Sr(a) Adelino Hilton Serra Sousa, presente o(a) escrivão(ã) de Polícia Paulo Ricardo Salomão de Sousa, compareceu Jimmy Klay Nunes Ferreira, nacional de Brasil, natural de Muaná-PA.

Compromissado na forma da lei, disse que: É porteiro da empresa ABS Construção Civil Ltda, trabalhando há quase dois anos em um galpão localizado no Portal Cargas Marituba, na Rod. BR-316, Km 16, nº 2361, Uriboca – Marituba-PA; que seu horário é em escala 24×24, das 06h às 06h; que trabalha junto com o funcionário Thiago da Silva Foicinho, na mesma escala, ficando sozinhos no prédio.

No dia 10/08/2025, por volta das 8h, ao chegar para o serviço, encontrou o portão do local escancarado e percebeu a falta de dois caminhões de grande porte (sucata), um branco e outro enferrujado. Procurou Thiago, foi até os fundos do galpão e encontrou marcas de pneus de carro na porta lateral. Ao entrar, viu que o portão estava arrombado e, no interior, havia grande bagunça e ausência de bens, incluindo:

  • 01 aparelho celular Samsung (com chip no nome de Thiago)
  • 01 bebedouro de mesa branco e cinza
  • 01 TV Philco 32″
  • 01 TV box
  • 01 roçadeira laranja e cinza

O depoente afirmou que o cadeado havia sido cortado e que avisou imediatamente a empresa, sugerindo reforço de segurança no local.

Termo de Depoimento
Nº da Ocorrência: 00029/2025.103942-1

Aos 13 dias do mês de agosto de 2025, na 18ª Seccional Urbana de Marituba, sob a presidência da autoridade policial Adelino Hilton Serra Sousa, presente o escrivão de Polícia Paulo Ricardo Salomão de Sousa, compareceu Karime Daniele Nunes Ferreira, nacional de Brasil, natural de Muaná-PA.

Compromissada na forma da lei, disse que: É irmã de Jimmy Klay Nunes Ferreira; que ele está desaparecido há duas semanas; que no dia 10/08/2025 recebeu uma ligação de Jhully, filha de Jimmy, dizendo que não conseguia falar com o pai e que poderia estar relacionado a um roubo no local onde ele trabalhava. Jhully relatou que Jimmy havia dito que seu colega Thiago estaria “perdendo a empresa” e que, em outra ocasião, ele teria comentado que Thiago iria “perder o emprego”.

Karime afirmou que Jimmy contou que a empresa já havia sido roubada antes, inclusive caminhões, e que no dia do desaparecimento, quando Thiago chegou ao local, ela teria mandado mensagens sem resposta. Nada mais disse e assinou.

Imagens do local de onde a vítima sumiu



The post Vigia do galpão de Antônio Doido é encontrado morto em mata de Santa Isabel appeared first on Ver-o-Fato.