A 85 dias da COP-30, lixo em Belém ameaça até a segurança de voos no Aeroporto Internacional

Mesmo com os esforços anunciados pela Prefeitura de Belém para intensificar a limpeza urbana e os preparativos para receber a COP-30, a realidade das ruas ainda expõe um problema persistente: a presença de dezenas de pontos críticos de despejo irregular de resíduos. A população reconhece avanços das ações do poder público, mas, a menos de três meses do evento internacional, os desafios permanecem evidentes.

Um exemplo emblemático está na Travessa Juntai, no bairro de Val-de-Cans. Ali, o acúmulo de entulho e lixo doméstico cresce há meses, reflexo da deficiência na coleta. A situação se torna ainda mais preocupante pela proximidade do Aeroporto Internacional de Belém.

O descarte inadequado de resíduos atrai aves necrófagas, como o urubu (Coragyps atratus), e espécies oportunistas, como a garça-branca (Ardea alba), que encontram no lixo uma fonte farta de alimento. Além delas, outros animais, como ratos, também são beneficiados pela sujeira. Esse cenário aumenta significativamente o risco de colisão aviária, colocando em xeque a segurança das operações aéreas em uma área de grande movimentação de voos nacionais e internacionais.

A ameaça é especialmente sensível no contexto da COP-30, quando Belém deve receber milhares de visitantes, entre chefes de Estado, delegações internacionais, jornalistas e ativistas ambientais. Além de comprometer a imagem da cidade, a combinação de lixo acumulado e fauna silvestre em áreas próximas ao aeroporto reforça a necessidade de soluções imediatas e duradouras.

Embora a Prefeitura tenha anunciado investimentos e ações emergenciais, especialistas e moradores cobram maior eficiência na coleta e no combate aos pontos de despejo irregular. “A COP-30 é uma oportunidade única para mostrar o melhor da Amazônia ao mundo, mas, se não resolvermos o problema básico do lixo, corremos o risco de passar uma imagem oposta”, alerta um morador da região.

Com a contagem regressiva em andamento, a lição é clara: o tempo corre contra Belém, e enfrentar de forma efetiva a questão do lixo urbano não é apenas uma pauta ambiental, mas também de segurança pública e credibilidade internacional.

CPI do Lixo

Em junho deste ano, a maioria dos vereadores de Belém aprovaram a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar possíveis irregularidades no contrato de R$ 926 milhões entre a Prefeitura de Belém e a empresa Ciclus Amazônia S.A, responsável pela coleta e destinação do lixo em Belém.

Apesar do alto valor do contrato e da promessa de eficiência, o serviço prestado pela concessionária continua sendo alvo de críticas. O EPOL vem noticiando denúncias de moradores que mostram ruas tomadas por lixo, acúmulo de entulho e a proliferação de pontos de despejo irregular e revelam que a realidade está longe do que foi projetado. “São mais de 200 notificações para essa empresa, e o problema não se resolve. Isto é uma grave ameaça à saúde da população e ao erário público”, afirmou o vereador Michell Durans (PSB), autor do pedido que resultou na CPI.

A comissão terá como presidente o vereador Felipe Vinagre (União Brasil), vice-presidente Zezinho Lima (PL) e relator Jorge Vaz (PRF). O prazo inicial de investigação é de 60 dias, podendo ser prorrogado por mais 30. Ao final, o relatório deverá ser encaminhado ao plenário da CMB, ao Ministério Público e ao prefeito de Belém, Igor Normando (MDB).

A Ciclus Amazônia, por sua vez, afirma que atua em “rigorosa conformidade com cláusulas contratuais, dentro de modelo de controle e fiscalização”, reforçando que a concessão, estruturada em modelo de Parceria Público-Privada (PPP), prevê 30 anos de vigência.

Entretanto, a insatisfação popular e a proximidade da COP-30 — que deve atrair milhares de visitantes e colocar Belém sob os holofotes internacionais — ampliam a pressão para que soluções rápidas e concretas sejam apresentadas. Se o lixo já se transformou em tema de uma CPI, a mensagem que ecoa é clara: a paciência da população e dos vereadores chegou ao limite, e o caso deve marcar a agenda política da capital nos próximos meses.

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