Após a publicação da matéria A 85 dias da COP-30, lixo em Belém ameaça até a segurança de voos no Aeroporto Internacional, o jornalismo do EPOL recebeu com exclusividade um relatório da Área de Segurança Aeroportuária (ASA), que revela o que todo belenense já sente na pele — e agora até os aviões correm risco: o lixo acumulado nas ruas de Belém, Ananindeua e Marituba virou atrativo para aves perigosas, como o urubu-preto, e ameaça diariamente a segurança dos voos no Aeroporto Internacional de Val-de-Cans, em Belém, cidade sede da COP30, que será realizada em novembro deste ano.
O estudo, referente a maio de 2025, monitorou 14 pontos críticos no entorno do aeroporto e constatou um cenário preocupante: em todos eles havia urubus. No Mercado do Ver-o-Peso e em canais urbanos, ainda foram registradas garças-brancas-grandes, aves de grande porte que podem causar acidentes graves em colisões com aeronaves.
Azul notificou colisão de avião com urubu em maio
Um outro relatório que o jornalismo do EPOL conseguiu de forma exclusiva, foi da empresa Azul Linhas Aéreas, que alerta para falhas no controle da fauna no Aeroporto Internacional da capital. O relatório enviado ao setor de Segurança Operacional do aeroporto relatou a colisão de uma aeronave com um urubu durante a decolagem de um voo para Campinas (SP), no último dia 28 de maio.
A aeronave de matrícula PR-YRV, que realizava o voo AD2640 (Belém–Viracopos), atingiu a ave a cerca de 145 nós e 400 pés de altitude logo após a decolagem, sofrendo danos internos no motor 2. A gravidade do episódio levou a companhia a cobrar da administração do aeroporto evidências das medidas de mitigação contra o chamado “risco de fauna”.
No ofício, assinado pelo comandante Samir Wadih Ferreira, gerente de Segurança Operacional da Azul, a empresa solicita que as ações adotadas sejam apresentadas em até 30 dias. O documento reforça ainda que a companhia está à disposição para colaborar com as autoridades aeroportuárias na adoção de medidas preventivas.
O caso aumenta a pressão sobre o poder público municipal e se conecta diretamente à recente instalação da CPI do Lixo na Câmara Municipal de Belém. A investigação foi aberta para apurar denúncias contra a Ciclus Amazônia, empresa responsável pela coleta e destinação dos resíduos sólidos da capital. Moradores e especialistas apontam que o serviço prestado é falho e contribui para a proliferação de urubus na cidade — justamente a principal ameaça à segurança das operações aéreas.
A Azul não foi a primeira companhia a relatar problemas. Nos últimos anos, diferentes companhias aéreas registraram colisões e quase colisões envolvendo aves no aeroporto de Belém, reforçando que a má gestão dos resíduos urbanos tem impactos que vão muito além da limpeza da cidade, colocando em risco passageiros, tripulações e a própria reputação da capital como sede da COP30 em 2025.
Ameaça aos voos para Belém antes e durante a COP30
Em relação a novembro de 2024, está previsto um aumento de 50 % no número de voos para Belém no período da COP30. O Ministério do Turismo confirmou que serão 245.751 assentos disponíveis em novembro.
Expansão da malha aérea não impactou em preparativos na cidade
Só de voos doméstico o crescimento será de mais de 23,3% do número de assentos, ou seja, mais de 46 mil lugares extras, totalizando 245,7 mil assentos. Serão 1.395 voos domésticos no mês da COP30.
Imagine só: até novembro, a capítal paraese terá uma malha aérea turbinada como o trânsito de milhares de voos por todo canto – ligações diretas com Bogotá, Miami, Paris, Guarulhos, Fortaleza… Tudo isso numa Belém que se prepara para voar alto como palco de um dos eventos climáticos mais importantes do planeta, mas ainda patina em relação aos cuidados com o lixo.
O Aeroporto de Belém está sendo reformado com obras antecipadas (antes previstas para 2026, agora para agosto de 2025), com investimento de R$ 470 milhões, ampliando áreas de embarque, portões e praça de alimentação para dar conta da demanda extra. No entanto, a nova gestão da Prefeito de Belém ainda nao conseguiu resolver um dos principais problemas que levaram o ex-prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) à derrota nas eleições do ano passado.
Os focos de lixo a céu aberto vão desde feiras e terrenos abandonados, até o antigo lixão do Aurá, em Ananindeua, e o aterro de Marituba, que seguem atraindo bandos de aves. A Feira do Jurunas foi incorporada à lista oficial de monitoramento depois de três meses seguidos de risco elevado.
Estudo indica a gravidade do assunto e os riscos de graves acidentes
Estudos da CENIPA mostram que o urubu-preto é a espécie mais perigosa para a aviação brasileira. Ou seja, o que era um problema local — pontos críticos com lixo atrativo às aves — tem efeitos globais sobre a segurança aérea e a economia das companhias.
O relatório é categórico: a origem do problema está na ineficiência da coleta de lixo, na falta de políticas para destinação adequada dos resíduos e no descaso com o saneamento básico.
Apesar do acompanhamento da Comissão de Gerenciamento de Risco da Fauna (CGRF), a situação está além da alçada técnica da equipe aeroportuária. “Sem uma atuação firme das prefeituras, a segurança dos voos continuará em perigo”, alerta o documento.
A pergunta que fica é: quantos relatórios mais serão necessários até que as autoridades encarem a crise do lixo como uma ameaça não só à saúde pública, mas também à aviação civil?
Céus em jogo: mais de 2 mil “bird strikes” por ano no Brasil reforçam a gravidade da crise do lixo em Belém
Um dado alarmante escancara o problema: o Brasil registra mais de 2 mil colisões anuais entre aves e aeronaves, o que equivale a cerca de seis incidentes por dia — e isso só desde 2021. Esses “bird strikes” têm efeitos reais e caros: segundo a ABEAR, em 2021, as companhias aéreas perderam pelo menos R$ 110 milhões com esses eventos — e isso é só a ponta do iceberg.
Ninguém quer tragédia — e, felizmente, acidentes fatais são raros — mas os impactos operacionais são constantes: atrasos, cancelamentos, custos de manutenção e judicialização pesada já acontecem. Dois casos recentes, envolvendo grandes companhias, resultaram em voos interrompidos e muita dor de cabeça para os passageiros.
O CEO da Latam Brasil revelou em agosto do ano passado: só em 20 dias, eventos de bird strike na companhia afetaram 5 mil passageiros, com 14 colisões que geraram cancelamentos de 32 voos. Ou seja, cada choque com uma ave vira um efeito dominó de prejuízo humano, de imagem e financeiro.
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O post EXCLUSIVO: relatório alerta que lixo e urubus ameaçam a segurança de voos em Belém apareceu primeiro em Estado do Pará Online.