Quem viu Avatar (2009) e Avatar: O Caminho da Água (2022) já se familiarizou com a ideia de uma lua habitável orbitando um planeta gigante gasoso em Alpha Centauri A, o sistema estelar mais próximo do Sol. Na ficção, Pandora é o lar dos Na’vi, seres humanoides de pele azul e grande estatura. Agora, a ciência volta seus olhos para um cenário que, de certo modo, se aproxima dessa imaginação: a possível descoberta de um planeta gasoso real orbitando justamente Alpha Centauri A.
O candidato a exoplaneta, batizado de S1, foi identificado em agosto de 2024 pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST). Teria tamanho semelhante a Saturno e orbitaria Alpha Centauri A a uma distância que pode chegar ao dobro da separação entre a Terra e o Sol. Isso, por si só, já o coloca em uma posição científica fascinante: ele estaria na chamada zona habitável – a região ao redor de uma estrela onde a temperatura permite a existência de água líquida, ingrediente essencial para a vida.
No entanto, a detecção de S1 é cercada de mistério. O planeta desapareceu das observações subsequentes em 2025, rendendo-lhe o apelido de “planeta fantasma”. Pesquisadores acreditam que sua órbita o tenha colocado em frente à estrela, dificultando a observação, e projetam que ele só volte a ser visível entre 2026 e 2027. Caso a existência seja confirmada, especialistas apontam que poderá ser a descoberta mais relevante do JWST até agora.
Pode existir uma “Pandora” real?
A grande questão é se um planeta como S1, sendo gasoso, poderia hospedar luas capazes de sustentar vida. A resposta mais aceita é que sim – e exemplos não faltam dentro do nosso próprio Sistema Solar. Júpiter e Saturno, gigantes gasosos, possuem centenas de luas. Algumas delas, como Europa, Ganimedes, Encélado e Titã, já são consideradas candidatas potenciais a abrigar formas de vida microbiana devido à presença de oceanos subterrâneos ou atmosferas densas.
A astrofísica Mary Anne Limbach acredita que S1 provavelmente tem luas. Segundo ela, é comum que planetas gigantes reúnam sistemas complexos de satélites. Teoricamente, até mesmo uma lua do tamanho de Marte poderia orbitar S1 e manter atmosfera, oceanos e clima estável – um paralelo direto com Pandora.
Por outro lado, o pesquisador David Kipping, da Universidade de Columbia, é mais cauteloso. Para ele, a chance de uma lua grande o bastante para sustentar vida complexa é baixa. Seria mais provável que satélites de S1 se assemelhassem a Titã, menor que Marte e com limitações para manter estabilidade atmosférica de longo prazo.
A vida além da ficção
Mesmo que uma “Pandora” em Alpha Centauri seja improvável, isso não significa que a vida esteja fora de questão. A ciência atual já considera plausível a existência de formas de vida microbiana em ambientes extremos, tanto na Terra quanto em mundos gelados do Sistema Solar. Esses microrganismos são incrivelmente adaptáveis, sobrevivendo em vulcões submarinos, no gelo antártico e em lagos ácidos.
Mas não esperemos encontrar Na’vis de pele azul e olhos luminosos. Se houver vida, a aposta é bem mais modesta: micróbios alienígenas escondidos em oceanos subterrâneos, adaptados a condições extremas. Seres invisíveis, mas de importância colossal, pois a simples constatação de que existem quebraria o isolamento cósmico que nos acompanha desde que erguemos os olhos para o céu.
Talvez não descubramos civilizações ou florestas bioluminescentes em Alpha Centauri. Mas se, sob o gelo de uma lua perdida, pulsar um microrganismo extraterrestre, estaremos diante de uma revolução maior do que qualquer épico de ficção. Será o momento em que a humanidade deixará de ser uma exceção cósmica para se tornar parte de uma comunidade mais vasta: a comunidade da vida no Universo.
Um vislumbre do futuro
O desafio está em detectar tais luas. Elas são menores e mais frias que exoplanetas, tornando sua observação extremamente difícil. Talvez seja necessário aguardar por telescópios de próxima geração, ainda mais poderosos que o JWST, algo que pode levar décadas.
Até lá, seguimos na fronteira entre ciência e imaginação. A ficção de Avatar continua sendo uma metáfora para nossas esperanças cósmicas, mas a descoberta de S1 mostra que a natureza pode ser tão criativa quanto qualquer roteirista. E se um dia encontrarmos vida em uma lua distante de Alpha Centauri, mesmo que microscópica, será um dos maiores marcos da história humana: a confirmação de que não estamos sozinhos no Universo.
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