Comitiva europeia tenta conter embates e garantir segurança para Kiev em meio a exigências russas
Por Sandra Venancio — Jornal Local -Foto Simon Dawson / No 10 Downing Street/Fotos Públicas
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebe nesta segunda-feira (18) o ucraniano Volodymyr Zelensky e sete líderes europeus para uma reunião considerada decisiva sobre o futuro da guerra na Ucrânia. O encontro, que ocorre três dias após a cúpula de Trump com Vladimir Putin no Alasca, deve revelar até onde Washington está disposto a apoiar Kiev diante das duras exigências do Kremlin.
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Trump iniciou a agenda com uma reunião bilateral reservada com Zelensky, às 14h15 (horário de Brasília), no Salão Oval. Mais tarde, às 16h, o republicano se encontrará com Emmanuel Macron (França), Keir Starmer (Reino Unido), Friedrich Merz (Alemanha), Ursula von der Leyen (Comissão Europeia), Giorgia Meloni (Itália), Alexander Stubb (Finlândia) e Mark Rutte (Otan), em uma tentativa de unificar posições.
Diplomatas europeus afirmaram à Deutsche Welle que líderes como Meloni, Stubb e Rutte foram convidados com a missão de “blindar” Zelensky de possíveis ataques verbais de Trump, que já o chamou de “ingrato” em fevereiro, durante a primeira visita do ucraniano à Casa Branca.
O que está em jogo
Zelensky mantém a posição de não ceder territórios à Rússia e insiste em garantias de segurança semelhantes ao Artigo 5 da Otan. “A linha de frente é agora o lugar onde essas negociações podem começar”, afirmou neste domingo (17).
Por outro lado, Trump tem sinalizado abertura para a proposta de Putin, descrita como “transformadora” por seu enviado especial, Steve Witkoff. Um rascunho obtido pela Reuters prevê a retirada parcial das tropas russas do norte da Ucrânia, mas exige contrapartidas consideradas inaceitáveis: reconhecimento da anexação da Crimeia, manutenção do controle russo no Donbas, veto à entrada da Ucrânia na Otan e alívio das sanções contra Moscou.
Europa tenta cortejar Trump
A presença da comitiva europeia em Washington é vista como estratégia para cortejar Trump após sua aproximação com Putin. Segundo o New York Times, Trump e o líder russo discutiram inclusive a cessão total de Donetsk e Lugansk — inclusive de áreas não ocupadas militarmente —, hipótese rejeitada por Kiev.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, admitiu em Bruxelas que a Ucrânia “provavelmente terá de aceitar, na prática, perdas territoriais”, mesmo que isso não seja formalizado em tratados internacionais.
Próxima etapa pode ser cúpula tripartite
Fontes diplomáticas em Berlim e Paris afirmam que Trump pretende organizar uma cúpula tripartite entre Estados Unidos, Rússia e Ucrânia já na próxima sexta-feira (22). Putin teria se mostrado disposto a participar, mas condiciona sua presença à renúncia ucraniana a parte dos territórios atualmente em disputa.
Enquanto isso, Zelensky enfrenta o desafio de não sair de Washington esvaziado politicamente. Para ele, qualquer concessão representaria abrir mão da soberania de seu país.
Expectativa internacional: analistas apontam que, se a reunião fracassar, Putin continuará a ganhar tempo para consolidar avanços militares no leste da Ucrânia.
Primeira visita: esta é a segunda reunião presencial de Zelensky com Trump desde o início da guerra. A primeira, em fevereiro, terminou de forma abrupta após o presidente americano repreender o ucraniano diante das câmeras.
Proposta russa: o rascunho de Putin prevê retirada parcial de tropas, mas mantém exigências históricas do Kremlin.
Agenda em Brasília: a diferença de fuso entre Washington e Brasília é de 1h. A reunião multilateral ocorre às 16h (horário de Brasília).