Cidade já registrou ao menos oito coletivos incendiados em 2025; denúncias apontam falta de manutenção, omissão da prefeitura e descumprimento contratual por parte das concessionárias
Por Sandra Venancio – Videos Grupo das Redes Sociais
>> Siga o canal do Jornal Local no WhatsApp
Um ônibus do transporte coletivo pegou fogo nesta terça-feira (19) no bairro Hortênsias, em Sousas, e deixou passageiros em pânico. O caso se soma a uma série de ocorrências semelhantes em Campinas neste ano: pelo menos oito veículos foram destruídos pelas chamas desde janeiro, além de diversos acidentes causados por falhas mecânicas. A escalada de incidentes expõe não apenas o sucateamento da frota, mas também fragilidades nos contratos de concessão e na fiscalização do sistema de transporte municipal.
O incêndio no distrito de Sousas começou na parte traseira do coletivo, onde fica o motor. Apesar do susto, todos os passageiros conseguiram escapar sem ferimentos. O Corpo de Bombeiros conteve as chamas, mas o ônibus ficou destruído. Moradores relataram que “a cena parecia um barril de pólvora”, com risco de explosão.
Esse não foi um episódio isolado. Nos últimos meses, casos semelhantes ocorreram em várias regiões da cidade: Campo Grande, Ouro Verde, Jardim Florence e até na movimentada John Boyd Dunlop. Em comum, o mesmo padrão: veículos antigos, com manutenção precária, pane elétrica ou mecânica, seguidos de incêndios.
Dados alarmantes
Levantamento da Emdec e do Corpo de Bombeiros mostra que Campinas registrou oito incêndios em ônibus em 2025, número recorde da última década. Outros 27 acidentes envolvendo falhas mecânicas foram contabilizados no mesmo período, incluindo panes em sistemas de direção e freios.
Em junho, por exemplo, passageiros da linha 3.11 tiveram que quebrar janelas para escapar das chamas. Em janeiro, um ônibus desgovernado na John Boyd Dunlop deixou 12 pessoas feridas após falha no sistema de direção.
Denúncias e responsabilidades
O Sindicato dos Motoristas acusa as concessionárias de reduzirem os gastos com manutenção para compensar perdas financeiras, transferindo o risco para motoristas e usuários. “O sucateamento é visível. Temos ônibus com mais de 12 anos de uso circulando todos os dias”, afirma um representante da categoria.
Especialistas em mobilidade urbana apontam que a prefeitura também tem responsabilidade: os contratos preveem renovação periódica da frota, mas a fiscalização sobre o cumprimento das cláusulas tem sido falha. “É um sistema caro e ineficiente, sustentado por subsídios públicos, que não garante a segurança mínima da população”, resume o urbanista e pesquisador da Unicamp, João Carvalho.
Bastidores políticos
Os contratos de concessão do transporte coletivo de Campinas já foram alvo de questionamentos do Ministério Público e do Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP), especialmente sobre reajustes tarifários, repasses bilionários em subsídios e a falta de transparência nas planilhas de custos. A explosão de casos de ônibus incendiados reacende o debate sobre se as empresas estão cumprindo as contrapartidas exigidas.
A Prefeitura de Campinas afirma que acompanha os casos e cobra explicações das concessionárias, mas até agora não anunciou sanções efetivas. As empresas, por sua vez, alegam dificuldades financeiras desde a pandemia, queda no número de passageiros e atraso em repasses do poder público.
O risco cotidiano
Enquanto o embate segue entre prefeitura e empresas, passageiros convivem com o medo diário. “Cada vez que entro no ônibus, penso se vou conseguir chegar ao meu destino. Parece que estamos andando em bombas ambulantes”, relata a balconista Maria Souza, que escapou de um incêndio em junho.
O alerta é claro: sem renovação urgente da frota e fiscalização rigorosa, Campinas pode assistir a uma tragédia maior, com mortes evitáveis dentro do transporte público.